Rússia x Ucrânia: Contagem de mortes também está em disputa
Dezessete dias após a invasão russa à Ucrânia, ainda é alta a diferença entre números de mortes contabilizadas pelos países na guerra. Além da dificuldade de computar as vítimas enquanto o conflito está em andamento, as divulgações também indicam quais os interesses individuais de cada nação.
"Alguns especialistas entendem que o principal componente deste conflito é a guerra da informação, que inclui o objetivo russo de desestabilização do Estado ucraniano", observa Mariana Kalil, professora de geopolítica na ESG (Escola Superior de Guerra).
Na quarta-feira (9), a Ucrânia disse que a quantidade de militares russos mortos ultrapassa 12 mil. Já o último balanço russo, divulgado em 2 de março, apontava a morte de 500 soldados no conflito.
Também no dia 2, a agência estatal russa Ria Novosti publicou que 2.870 soldados ucranianos foram mortos. A Ucrânia, por sua vez, não divulgou a quantidade de baixas entre as suas tropas.
Kalil explica que a diferença entre os números faz parte de campanhas de propaganda que buscam elevar o moral dos combatentes.
"No caso da Ucrânia, isso é ainda mais importante, porque gera também entusiasmo em torno da campanha de resistência, mobilizando mais apoio do Ocidente e consagrando Zelensky [Volodymyr, presidente ucraniano] como comandante-em-chefe da Ucrânia, contrapondo a narrativa russa de que ele não teria capacidade de exercer esse comando na prática", afirma.
Os Estados Unidos indicaram um meio-termo e calculam em torno de 6 mil soldados russos mortos até o momento. Autoridades americanas admitem, no entanto, que é difícil precisar qual o número correto.
Civis mortos
A divergência na contagem também é observada em relação à divulgação de civis mortos no confronto.
O balanço mais recente da ONU (Organização das Nações Unidas), divulgado na quinta (10), indica o óbito de 549 civis.
Já a Ucrânia afirma que a quantidade é muito maior. No dia 2, data da última vez em que o país apresentou um número consolidado, autoridades ucranianas relataram a morte de pelo menos 2 mil civis.
"De quantos mortos vocês precisam para colocar nossos céus em segurança?", declarou Zelensky em meio a cobranças para que o Ocidente forneça mais armamentos e auxilie as tropas ucranianas.
Sem chegar a um acordo de cessar-fogo, os países também trocam acusações sobre o destino dos civis. O governo ucraniano afirma que a Rússia não tem respeitado os corredores humanitários para que a população deixe locais de risco. Os russos, porém, argumentam que a Ucrânia tem utilizado civis como "escudos humanos".
Na visão de Kalil, a retórica do Kremlin tenta provar para o mundo que a Ucrânia é "um Estado falido".
"Assim, a Rússia tentaria legitimar a intervenção no sentido de proteger cidadãos que estariam sendo atacados por ação ou omissão do próprio Estado ucraniano", diz.
Fugitivos relatam ataques dos russos em áreas civis. A Ucrânia afirma que 3 pessoas, incluindo uma criança, morreram durante o bombardeio de uma maternidade em Mariupol, no sudeste do país.
A versão do ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, é de que não havia pacientes no local e que o edifício estava sendo utilizado como base por grupos nacionalistas ucranianos.
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