Rússia acusa Ucrânia de ataque e diz que negociações podem ser prejudicadas
O ataque a um depósito de petróleo em Belgorod, cidade russa a cerca de 40 quilômetros da fronteira com a Ucrânia, marca o 37º dia da guerra e pode complicar as conversas entre os países, como indicam declarações do governo russo. Segundo Vyacheslav Gladkov, governador da região, "o incêndio no depósito de petróleo ocorreu como resultado de um ataque aéreo de dois helicópteros das Forças Armadas da Ucrânia, que entraram no território da Rússia em baixa altitude".
Porta-voz do Ministério da Defesa da Ucrânia, Oleksandr Motuzianyk não confirmou nem negou se o país teve participação no ataque registrado na Rússia. Segundo ele, o governo ucraniano "está realizando uma operação de defesa para repelir a agressão armada russa". "E isso não significa que a Ucrânia deva ser responsável por todos os erros de cálculo e por todos os desastres, e todos os eventos que ocorrem no território da Rússia", disse. "Portanto, não vou confirmar nem refutar essa informação [sobre envolvimento da Ucrânia no ataque]."
O ataque em uma cidade russa acontece no dia em que os dois países retomam as conversas a respeito do conflito. As delegações de Ucrânia e Rússia estão conversando de forma virtual.
Porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov disse hoje que "o incêndio no depósito de petróleo em Belgorod não cria condições confortáveis para a continuação das negociações entre a Rússia e a Ucrânia". Segundo ele, o presidente russo, Vladimir Putin, já foi informado da situação. Peskov também negou que os 134 mil recrutas convocados pela Rússia serão utilizados no conflito com a Ucrânia.
Nesta sexta (1º), também houve a visita a Kiev da presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola. Ela é a primeira representante de alto escalão de uma instituição europeia a viajar para a Ucrânia desde que a invasão russa começou, em 24 de fevereiro. Segundo o primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, "o apoio às aspirações de integração europeia da Ucrânia e o reforço das sanções contra a Rússia foram discutidos".
Ataque em Belgorod
A cidade russa de Belgorod fica a cerca de 80 quilômetros de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, que, desde o início da invasão russa, tem sido alvo de constantes ataques.
Uma equipe de cerca de 170 pessoas foi enviada para o local do depósito de petróleo para apagar as chamas, segundo Gladkov. Ele também disse que não haverá problemas de distribuição de combustível na região. "A situação é estável. Nunca houve falta de combustível, nunca haverá."
O grupo Rosneft, proprietário do depósito, anunciou que retirou os trabalhadores do local.
Chernobyl sem russos
Militares russos que ocupavam a usina nuclear de Chernobyl saíram da instalação, mas levaram representantes da Guarda Nacional, que haviam sido capturados em 24 de fevereiro, informou a Energoatom, a companhia nuclear estatal da Ucrânia.
A AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) recebeu um informe do governo ucraniano de que, na noite de quinta-feira (31), não havia pessoas não autorizadas no local da usina nuclear de Chornobyl. A agência disse que se prepara para enviar uma missão às instalações de lixo radioativo.
Apesar de os soldados russos terem tomado o controle de Chernobyl logo após a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro, os funcionários ucranianos da usina continuaram supervisionando o armazenamento seguro do combustível nuclear usado e dos restos envoltos em concreto do reator que explodiu em 1986, causando o pior acidente nuclear da história.
Retirada russa em Kiev
O Ministério da Defesa da Ucrânia diz que continua a "retirada parcial de unidades das forças de ocupação russas do norte da região de Kiev" em direção à fronteira com Belarus.
Segundo o relato, "os comboios também incluem veículos civis —caminhões, ônibus, micro-ônibus, carros— que foram roubados por invasores russos durante a ocupação temporária dos territórios". "Além disso, o inimigo realiza a remoção de bens saqueados."
Para o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, porém, as forças russas não estão se retirando, mas se reagrupando.
Apesar da aparente retirada russa, a administração da região de Kiev já anunciou que haverá um toque de recolher da noite de hoje até amanhã (das 15h de hoje à 0h de amanhã, no horário de Brasília).
Ofensiva russa
O Ministério da Defesa da Rússia destacou, em seu relatório de hoje, que continua atacando instalações militares e equipamentos de defesa da Ucrânia, inclusive na região de Chernihiv, no norte do país, onde o governo russo havia indicando que iria reduzir a atividade militar.
Governador de Chernihiv, Vyacheslav Chaus disse, hoje, que "o inimigo, graças às nossas Forças Armadas, está deixando a região". "Mas só ele sabe por que está fazendo isso. Mas espero que ele saia daqui para sempre. Mesmo que ele vá, para reagrupar e voltar, vamos esperá-lo com um duplo 'bem-vindo'."
Para Chaus, porém, ainda há risco de "possíveis ataques aéreos e com mísseis na região". "O inimigo pode agir de qualquer maneira. Eles voam até nós e atiram", disse, pedindo para que a população vá para abrigos quando as sirenes forem acionadas. "É muito cedo para relaxarmos. Ainda temos muito trabalho a fazer e ainda temos uma guerra. O inimigo está em nossa terra, em Chernihiv, na Ucrânia."
Zelensky demite
O presidente da Ucrânia demitiu dois altos funcionários do governo por "traição". Segundo Zelensky, "aqueles que rompem com o juramento de fidelidade ao povo ucraniano serão inevitavelmente privados de seus graus militares".
A imprensa local disse que os dois demitidos seriam membros do alto escalão do serviço de segurança nacional e estariam repassando informações sigilosas para a Rússia.
Crimes de guerra
A ONG HRW (Human Rights Watch) pediu às autoridades ucranianas que investiguem potenciais "crimes de guerra" contra prisioneiros russos, após a divulgação de imagens, mostrando soldados ucranianos atirando nas pernas deles.
"Se isso for confirmado, agredir e atirar nas pernas dos combatentes capturados constituiria um crime de guerra", disse a HRW em um comunicado divulgado na noite de quinta-feira (31). "A Ucrânia deve demonstrar que é capaz e está disposta a prevenir e a punir as graves violações do direito internacional humanitário", acrescentou a HRW.
Em comentário no aplicativo Telegram, um conselheiro da Presidência ucraniana, Oleksiy Arestovich, reconheceu que os abusos contra prisioneiros constituem um "crime de guerra" e que tais atos devem ser "punidos". Soldados russos também são acusados de abusos desde o início da invasão da Ucrânia.
(Com Reuters, AFP, Ansa, DW e EFE)
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