Criticado por Lula, Zelensky defende aparições para o mundo ver a Ucrânia
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que sua agenda tem, constantemente, discursos para representantes de outros países porque é preciso fazer "todo o possível para que o mundo adquira o hábito permanente de levar a Ucrânia em consideração". "É por isso que sempre tenho muita comunicação internacional na minha agenda", comentou, em pronunciamento na noite de ontem.
Em entrevista à revista Time publicada em 4 de maio, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o comportamento de Zelensky é um "pouco esquisito". "Porque parece que ele faz parte de um espetáculo", comentou.
"Ou seja, ele aparece na televisão de manhã, de tarde, de noite, aparece no Parlamento inglês, no Parlamento alemão, no Parlamento francês como se estivesse fazendo uma campanha. Era preciso que ele estivesse mais preocupado com a mesa de negociação", disse o ex-presidente, que também falou que Zelensky "quis a guerra". Lula também considerou o ucraniano tão responsável quanto o presidente russo, Vladimir Putin, pelo conflito. A Rússia invadiu o território ucraniano em 24 de fevereiro.
A fala de Zelensky foi uma reação à posição de Henry Kissinger, ex-secretário de Estado americano, que, na terça (24), disse, no Fórum Econômico Mundial, que a Ucrânia deveria ceder parte de seu território para que a guerra acabasse.
"Por trás de todas essas especulações geopolíticas daqueles que aconselham a Ucrânia a doar algo para a Rússia, 'grandes geopolíticos' estão sempre relutantes em ver as pessoas comuns, os ucranianos comuns", disse Zelensky. "Milhões daqueles que realmente vivem no território se propõem a trocar pela ilusão de paz. Você deve sempre ver as pessoas. E lembre-se que os valores não são apenas uma palavra."
Assim, o ucraniano reforçou ser essa a razão de prestar "tanta atenção às plataformas internacionais, aos discursos aos parlamentares, aos Parlamentos, às pessoas de outros países, à comunicação com a comunidade de especialistas, com jornalistas, com estudantes". "Para que os interesses dos ucranianos não se sobreponham aos interesses daqueles que estão com pressa para outro encontro com o ditador."
Nesta quinta, Zelensky discursou hoje para o Parlamento da Letônia. Ele disse que a Rússia começou uma guerra "contra a Ucrânia e, ao mesmo tempo, contra a liberdade de todos os seus vizinhos". "A Letônia percebe nossa luta pela liberdade como sua própria luta."
Hoje, a guerra entrou em seu 92º dia com a Ucrânia dizendo que a Rússia começou a montar uma terceira linha de defesa nas regiões que ocupa em território ucraniano. Para a inteligência do Ministério da Defesa da Ucrânia, esse movimento sugere a perspectiva "de que a Federação Russa queira ficar por um longo tempo" nas áreas ocupadas.
Novos ataques foram registrados hoje, principalmente no leste. Também houve ataques em áreas mais ao norte, como Chernihiv e Sumy, e ao sul, como Mykolaiv.
Rússia mata estrangeiros
O Ministério da Defesa da Rússia disse hoje que destruiu um centro ucraniano de inteligência na região de Mykolaiv. No ataque, "15 especialistas estrangeiros" morreram, indicou a Defesa russa em seu relatório, que também informou ter matado "11 militares da tripulação de combate".
No total, a Rússia disse ter atingido "48 áreas de concentração de mão de obra" com mísseis de alta precisão na região de Donetsk. Outras 49 áreas foram atacadas em ação ofensiva da aviação russa e 407, pela ação da equipe de artilharia. Também houve ataques contra a região de Kharkiv, onde um helicóptero Mi-24 foi derrubado. Um avião militar de transporte foi abatido na região de Odessa. A Defesa russa disse ter matado mais de 350 combatentes ucranianos entre ontem e hoje.
Posições no leste
O Ministério da Defesa da Ucrânia disse que, na região de Donetsk, "os principais esforços do inimigo estão focados em assumir o controle total" de Lyman, cidade que fica a cerca de 670 quilômetros a leste de Kiev.
Os ucranianos também disseram observar que os russos tentam "melhorar a situação tática" perto de Sievierodonetsk, na região de Lugansk. Na cidade, segundo o serviço de emergências da Ucrânia, ao menos duas pessoas morreram após um ataque. "Devido ao constante bombardeio dos ocupantes, a região de Lugansk permaneceu sem eletricidade. Também não há abastecimento de água centralizado", disse o serviço.
A Defesa ucraniana informou ainda que grupos das Forças Armadas foram alvo de ataques com mísseis nas regiões de Donetsk e Lugansk.
Apelo por armas
Comandante das Forças Armadas da Ucrânia, Valery Zaluzhny disse hoje que o país precisa "urgentemente de armas que possam atingir o inimigo a grande distância". "E isso não pode ser adiado, porque o preço do atraso é medido pela vida das pessoas que têm protegido o mundo do racismo."
Apesar do apelo por mais armamento, Zaluzhnyi voltou a agradecer a ajuda enviada por países aliados. "É muito difícil para nós, mas estamos resistindo", disse, falando ainda que "armas e equipamentos ocidentais nos ajudam a expulsar o inimigo de nossa terra." Ontem, a Ucrânia começou a utilizar canhões Caesar, da França.
Hoje, o presidente da Ucrânia recebeu, em Kiev, a primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin. Zelensky agradeceu a assistência militar dos finlandeses, que é "muito valiosa" para os ucranianos, disse. "Armas, política de sanções e a unidade de nossos parceiros na questão da adesão da Ucrânia à UE [União Europeia]: é isso que pode fornecer força na defesa de nossa terra."
Em razão de a Rússia ter invadido a Ucrânia, a Finlândia abandonou uma neutralidade histórica e pediu, na semana passada, para entrar na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Russos e finlandeses compartilham cerca de 1.300 quilômetros de fronteira.
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