Líderes republicanos dos EUA ignoram o Acordo de Paris
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, saudou o importante Acordo de Paris, desenvolvido durante a Conferência do Clima da ONU (Organização das Nações Unidas) e acertado neste fim de semana como "a melhor chance que temos de salvar o único planeta que temos". Para os republicanos que buscam sucedê-lo, foi quase como se o acordo não tivesse ocorrido.
Em uma notável exibição da divisão partidária nos EUA a respeito da mudança climática, os candidatos presidenciais republicanos não disseram quase nada sobre o acordo, apesar de quem quer que seja que suceda Obama estaria encarregado de cumpri-lo. Nenhum dos nove candidatos republicanos que participarão do debate desta terça-feira (15) na "CNN" avaliou o acordo quando perguntado no domingo (13), apesar do governador de Nova Jersey, Chris Christie, ter dito que o faria nos próximos dias.
"É uma ignorância intencional", disse Daniel J. Weiss, um vice-presidente sênior da Liga dos Eleitores Conservadores, que previu que essa indiferença em relação à mudança climática pesará negativamente na eleição geral.
O silêncio virtual entre os republicanos é uma ilustração impressionante do papel altamente diferente que a mudança climática exerce nas primárias presidenciais dos dois grandes partidos políticos do país. De certo modo, o ardor por uma ação em relação à mudança climática entre os democratas e a falta de interesse em discuti-la entre os republicanos faz com que pareça que os dois partidos vivam em planetas diferentes.
O abismo entre os candidatos dos dois partidos também levanta questões sobre o que acontecerá assim que Obama deixar o cargo. O acordo do clima exige que os países voltem em 2020 e apresentem um plano ainda mais forte que o atual.
Em uma entrevista neste domingo para o programa "This Week" da rede "ABC", o secretário de Estado americano, John Kerry, reconheceu que um presidente republicano poderia reverter os esforços de Obama para tratar da mudança climática. Mas Kerry disse sobre o povo americano: "Eu não acho que aceitarão como líder genuíno alguém que não entenda a ciência da mudança climática e não esteja disposto a fazer algo a respeito".
Os candidatos democratas prometeram seguir a deixa de Obama e priorizar a mudança climática, cada um apresentando um plano para tratar do assunto. Em uma declaração no sábado (12), Hillary Clinton chamou o acordo do clima de "um passo histórico à frente em resposta a um dos maiores desafios do século 21".
Seu principal rival pela indicação, o senador Bernie Sanders de Vermont, foi mais longe, chamando o acordo de "um passo à frente", mas o considerou "ainda longe de suficiente".
Na disputa republicana, onde questões como terrorismo e imigração estão consumindo grande parte do debate político, os candidatos falam em termos muito diferentes sobre a mudança climática. Eles também se concentram em grande medida no custo econômico da questão, alertando contra o que consideram como probabilidade de prejudicar desnecessariamente os trabalhadores americanos.
"A América não é um planeta", disse o senador Marco Rubio da Flórida em setembro, explicando que não deseja "destruir nossa economia" ao impor regulações restritivas às empresas.
A importância que os partidos dão à questão da mudança climática reflete o fato de que os eleitores que cortejam têm pontos de vista muito diferentes sobre o assunto. Em uma pesquisa do "New York Times/CBS" realizada no mês passado, 50% dos republicanos disseram que priorizam o estímulo à economia em vez da proteção do meio ambiente, enquanto 40% dos republicanos disseram o oposto.
Entre os democratas, 66% priorizam a proteção do meio ambiente, em comparação a 22% que consideram a economia mais importante.
Cerca de 7 entre 10 democratas dizem acreditar que o aquecimento global é causado em grande parte pela atividade humana, como a queima de combustíveis fósseis, em comparação a 3 entre 10 republicanos. E 86% dos democratas disseram que os Estados Unidos devem participar de um tratado internacional que exija que o país reduza as emissões visando combater o aquecimento global –mais que o dobro dos 42% de republicanos que assumem essa posição.
Um raro reconhecimento republicano do acordo foi feito no domingo pelo ex-governador de Nova York, George E. Pataki, que o descreveu como um "desdobramento positivo", apesar de "principalmente simbólico". Mesmo assim, como outros republicanos, ele questionou a extensão com que Obama priorizou a mudança climática em comparação a outros assuntos urgentes.
"É uma vergonha não vermos a mesma dedicação do governo Obama em tratar da atual ameaça do Estado Islâmico e do Islã radical que a América enfrenta", disse Pataki.
Megan Thee-Brenan contribuiu com a reportagem.
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