Na ONU, Bolsonaro fala em soberania e crítica injusta sobre meio ambiente
Em fala em evento da ONU (Organização das Nações Unidas), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ressaltou que a "exploração racional e sustentável" dos recursos naturais brasileiros é uma prioridade do governo federal e que o Brasil tem o direito soberano de utilizar essas riquezas em prol da sociedade, citando a Convenção sobre Diversidade Biológica.
Ao mesmo tempo, afirmou que não se pode aceitar que informações "falsas e irresponsáveis" sejam usadas como pretexto para a imposição de regras internacionais "injustas" que desconsiderem conquistas ambientais alcançadas.
Sem apresentar provas e sem citar nomes, o presidente também voltou a falar que ONGs (Organizações Não-Governamentais) podem estar atrás de crimes ambientais.
Bolsonaro participou hoje de evento sobre a biodiversidade promovido pela ONU. O discurso do presidente foi gravado previamente, assim como fizeram demais chefes de Estado e autoridades que participaram.
Acusações contra ONGs
Como já fez anteriormente, Bolsonaro afirmou que algumas ONGs podem estar envolvidas em crimes ambientais. Ele não citou nomes nem apresentou provas que comprovem a acusação.
"Na Amazônia, lançamos a 'Operação Verde Brasil 2', que logrou reverter, até agora, a tendência de aumento da área desmatada observada nos anos anteriores. Vamos dar continuidade a essa operação para intensificar ainda mais o combate a esses problemas que favorecem as organizações que, associadas a algumas ONGs, comandam os crimes ambientais no Brasil e no exterior", declarou.
Em agosto do ano passado, Bolsonaro falou que ONGs podem estar por trás de queimadas na Amazônia para "chamar a atenção" contra ele e contra o governo. Quando questionado sobre investigações para apurar a possibilidade, ele disse que uma suposta ação dessa por parte de ONGs "não está escrito".
Na semana passada, em discurso na sessão de abertura da 75ª Assembleia Geral da ONU, em 22 de setembro, sem entrar em detalhes técnicos, disse que os incêndios na Amazônia ocorrem "praticamente nos mesmos lugares" e atribuiu parte dessa responsabilidade ao "caboclo e o índio", que teria por hábito queimar "seus roçados em busca de sobrevivência".
Ao contrário do que disse o presidente, não há provas de que os incêndios na Amazônia tenham acontecido por iniciativa de caboclos e indígenas. A declaração do presidente, portanto, é falsa.
Hoje à tarde, Bolsonaro aproveitou a oportunidade para defender que o setor agropecuário brasileiro obteve aumentos "expressivos de produtividade" e se mostrou capaz de ampliar a produção com menos impacto sobre o meio ambiente nas últimas décadas.
A fala acontece diante de suspeitas da Polícia Federal de atos criminosos na Amazônia. No Mato Grosso do Sul, em relação às queimadas no pantanal, a PF já possui um conjunto de informações que considera suficientes para indiciar pelo menos quatro fazendeiros pelo início das queimadas na região da Serra do Amolar.
A fala de Bolsonaro hoje pode ser visto como um complemento do discurso da semana passada, recheado de dados imprecisões, em que buscou atacar críticos do Brasil. Na época, falou que o país é vítima de "uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal", que sua política é de "tolerância zero" com o crime ambiental e que os focos criminosos são combatidos com rigor.
Bolsonaro exalta desenvolvimento sustentável e cobra outros países
Segundo Bolsonaro hoje, o Brasil sabe do potencial econômico por meio do desenvolvimento sustentável e é preciso que se chegue a um consenso para combinar os fatores que possibilitem seu crescimento.
Em meio a críticas internacionais perante queimadas e desmatamentos ilegais na Amazônia, o presidente falou que o Brasil possui a maior extensão de vegetação nativa do planeta, que corresponde a 60% do território nacional, segundo ele.
O fato de a Europa e a Ásia já terem desmatado grande parte de seus territórios e cobrarem uma atuação mais firme do Brasil perante o tema é alvo frequente de críticas internas do governo.
Para parte do governo, as falas negativas no exterior de como o Brasil vem administrando a proteção ambiental na Amazônia também fazem parte de uma suposta cobiça de outros países sobre o bioma e tentativas de desestabilizar o setor agropecuário nacional. Bolsonaro falou "rechaçar, de forma veemente, a cobiça internacional" e disse que o governo vai defender a Amazônia de "ações e narrativas que agridam os interessem nacionais".
Ele afirmou sempre ter defendido que uma das prioridades do governo deve ser a "proteção e a gestão soberana de nossos recursos naturais". A exaltação à soberania nacional permeou todo o discurso, inclusive com cobranças a outros países.
"É preciso que todos os países cumpram com suas responsabilidades, arquem com a parte que lhes cabe e se unam contra males como a biopirataria, a sabotagem ambiental e o bioterrorismo", disse.
Ao contrário do que disse o presidente, em seu governo houve desmonte da política ambiental e de órgãos que tradicionalmente atuam na fiscalização de crimes ambientais, como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Apesar do aumento no desmatamento no país, as sanções impostas pelo Ibama caíram 60% em um ano.
Hoje, Bolsonaro foi um dos últimos na ordem dos presidentes inscritos no segmento de discursos do qual participou, ficando à frente somente do vice-presidente de Serra Leoa. Antes do brasileiro falaram os presidentes das Ilhas Marchall e de Seychelles. Presidentes de países de relevância mundial, como Emmanuel Macron, da França, discursaram antes. Primeiros-ministros falaram em outra seção do evento.
Antes, Bolsonaro atacou Biden
Mais cedo, pelas redes sociais, Bolsonaro atacou o candidato à Presidência dos Estados Unidos Joe Biden, do partido Democrata, pela fala do norte-americano de que poderia organizar US$ 20 bilhões para a Amazônia junto a outros países e de que, se o desmatamento ilegal não for freado, haverá consequências econômicas significativas.
Na avaliação do presidente, a declaração de Biden é "desastrosa e gratuita". Bolsonaro citou ainda a suposta cobiça de outros países pela Amazônia e disse que não aceitará "subornos".
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