Topo

Queimadas dobram internações na Amazônia, e SUS gasta R$ 960 mi em 10 anos

Queimadas na Amazônia impactaram população com alta de internações por problemas respiratórios - Reprodução/MOV
Queimadas na Amazônia impactaram população com alta de internações por problemas respiratórios Imagem: Reprodução/MOV

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

29/04/2021 10h00

O SUS (Sistema Único de Saúde) gastou R$ 960 milhões com internações hospitalares por problemas respiratórios impulsionados pelas queimadas, entre 2010 e 2020, nos cinco estados da Amazônia Legal que concentram os piores índices de incêndios florestais: Pará, Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Acre.

Um estudo da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e do WWF-Brasil, divulgado hoje, apontou que as queimadas foram responsáveis diretas pela elevação dos percentuais de internações nesses estados.

"Entre janeiro de 2010 e outubro de 2020, foram registradas 1.252.834 internações hospitalares por doenças do aparelho respiratório para todos os estados analisados. Em geral, todas as unidades da federação apresentaram tendência decrescente da taxa de morbidade hospitalar por doenças respiratórias de 2010 a 2015, assumindo em seguida comportamento estável até outubro de 2020", diz.

De acordo com o estudo, nos cinco estados analisados, as hospitalizações de baixa complexidade custaram R$ 774 milhões entre 2010 e 2020. Já as internações de alta complexidade nas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) tiveram um investimento de R$ 186 milhões.

Para chegar aos dados, os pesquisadores avaliaram a relação das tendências da taxa de internações registradas em hospitais por doenças do aparelho respiratório no período de 2010 a 2020 e as concentrações estimadas de emissões de partículas respiráveis finas (a PM2,5), presentes na fumaça de incêndios florestais no mesmo período.

Problemas elevados pela fumaça

Ainda segundo o estudo, mesmo com a possível subnotificação, os valores diários de poluentes são extremamente elevados e "contribuíram para aumentar em até duas vezes o risco de hospitalização por doenças respiratórias atribuíveis à concentração de partículas respiráveis e inaláveis finas [fumaça] nos estados analisados".

23.ago.2019 - Queimadas na Área de Proteção Ambiental Jamanxim, em Novo Progresso (PA) - Victor Moriyama / Greenpeace - Victor Moriyama / Greenpeace
23.ago.2019 - Queimadas na Área de Proteção Ambiental Jamanxim, em Novo Progresso (PA)
Imagem: Victor Moriyama / Greenpeace

No Amazonas, por exemplo, 87% das internações no período estavam relacionadas às altas concentrações de fumaça. Em Mato Grosso e Rondônia, esse percentual chegou a 70%.

Desde 2019, os índices de queimadas —processo ligado diretamente ao desmatamento— vêm crescendo e, em 2020, o país bateu recorde de focos de calor na década: 222 mil casos.

As queimadas fazem parte da dinâmica de destruição da Amazônia. As áreas desmatadas são posteriormente queimadas para 'limpar' o terreno, abrindo espaço para a pastagem, a agricultura ou a simples especulação fundiária. A associação entre o desmatamento, queimadas e degradação da floresta traz um custo muito alto para todos nós, especialmente para os povos da floresta e para o clima do planeta.
Edegar de Oliveira, diretor de Conservação e Restauração do WWF-Brasil

Para a pesquisadora Sandra Hacon, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, boa parte das internações podem ser atribuídas às concentrações de partículas respiráveis finas e inaláveis emitidas por incêndios florestais.

"As micropartículas que compõem a fumaça ficam depositadas nas cavidades dos pulmões, agravando os problemas respiratórios. Elas são um fator de risco para pessoas que já possuem comorbidades. Vemos, portanto, um impacto à saúde e perda da qualidade de bem-estar das pessoas, além do elevado custo econômico das doenças respiratórias para o SUS", explica.

Recomendações

Entre as recomendações apontadas para reduzir esses casos, o estudo sugere que o poder público deve melhorar os sistemas oficiais de vigilância e monitoramento em saúde, especialmente direcionados às populações indígenas da Amazônia, e criar "políticas consistentes de redução do desmatamento e queimadas na Amazônia".

Além disso, os pesquisadores pedem o "desenvolvimento e implementação de programas de vigilância epidemiológica e ambiental efetivos, direcionados à população amazônica exposta aos incêndios florestais".

Também alertam para a "necessidade iminente de esforço preventivo no controle de zoonoses [doenças transmitidas de animais para humanos], pois os custos associados aos esforços preventivos são substancialmente menores, comparados com os custos econômicos, sociais e de saúde no controle de potenciais epidemias e ou pandemias".