Mourão nega ter recebido dados do desmatamento da Amazônia antes da COP-26
BRASÍLIA (Reuters) - O vice-presidente Hamilton Mourão disse nesta sexta-feira que o governo ainda está analisando os novos números do desmatamento na Amazônia, divulgados na quinta, mas defendeu as operações de Garantia da Lei e da Ordem, usadas para tentar conter as ilegalidades na região. Ele também negou que o governo tenha recebido os dados antes da COP 26. Reportagem do UOL publicada ontem mostra o contrário.
Até a publicação dos dados do sistema Prodes, que consolida o desmatamento em 12 meses —de julho de 2020 a agosto de 2021—, Mourão apostava em uma queda de 5% do desmatamento em relação aos 12 meses anteriores. Um número ruim, mas não tanto quanto os 22% de aumento revelados na quinta-feira.
"O que aconteceu foi o seguinte, o dado que eu tinha eram os números do Deter. Os números do Deter, a nossa projeção era que eles ficassem 5% abaixo do ano anterior. O que aconteceu?", disse o vice-presidente, que é também presidente do Conselho Nacional da Amazônia.
"O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) fez uma revisão do ano anterior, se vocês olharem, diminuiu né. E esse aumentou. Então, não sei se ano que vem pode dar uma reduzida nesse também. Então nós estamos analisando isso aí ainda para ver qual é a realidade desse troço", complementou.
A redução que Mourão se refere é a revisão tradicional feita nos números do Prodes e publicada entre abril e maio. Para 2020, o dado inicial de desmatamento havia sido de 11.088 quilômetros quadrados. O número final, publicado em maio, foi de 10.851 km² - uma diferença de 237 km², cerca de 2% do calculado inicialmente.
Já os dados do Prodes deste ano mostraram uma devastação de 13.235 km² de floresta, 22% maior que no período anterior.
Perguntado se as duas GLOs que o governo pôs na região desde maio do ano passado para tentar conter o aumento do desmatamento, não tiveram efeito, Mourão minimizou.
"Não dá para falar da GLO, né? Enquanto teve a GLO o desmatamento caiu. Se você olhar os números do Deter. Por isso temos que analisar ainda. Tivemos dois meses que parou aí. No mês de maio muito ruim, o mês de abril foi outro mês ruim... Abril foi da transição e maio e junho não teve GLO, então são meses que também estão ruins. Além disso teve o segundo semestre do ano passado que teve mês ruim também", disse.
O vice-presidente apontou que o maior crescimento de áreas desmatadas foi no Estado do Amazonas, o que apontaria uma pressão pela abertura de mais terras. Ainda assim, disse, a área desmatada nesse período representaria apenas 0,23% do território da Amazônia Legal.
"Existe uma pressão do avanço das pessoas que moram no centro-sul para áreas de terras não ocupadas na Amazônia. Há essa pressão. Agora, sem desfazer dos números, obviamente os números não são bons, a gente tem que olhar o tamanho da Amazônia", disse.
"Vamos dizer que a Amazônia Legal ela tem cinco milhões de quilômetros quadrados. Então nós tivemos 13 mil quilômetros de desmatamento, mas isso dá 0,23% da Amazônia que teria sido desmatado, independentemente do valor absoluto que está colocado."
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