Topo

CPI quer pedir exumação do corpo de Janene; família fala em desrespeito

O ex-deputado José Janene (PP-PR) - Folhapress
O ex-deputado José Janene (PP-PR) Imagem: Folhapress

Bruna Borges

Do UOL, em Brasília

20/05/2015 14h51Atualizada em 21/05/2015 15h25

O presidente da CPI da Petrobras, Hugo Motta (PMDB-PB), disse nesta quarta-feira (20) que quer pedir a exumação do corpo do ex-deputado José Janene (PP-PR), morto em 2010. Segundo o parlamentar, ele recebeu denúncias de que a viúva de Janene, Stael Fernanda Janene, não tem certeza de que ele esteja morto.  A filha do ex-parlamentar, Danielle Kemmer Janene, afirmou ao UOL que o deputado está sendo "desrespeitoso".

Danielle também afirmou que participou da liberação do corpo de Janene e que ele era muçulmano e, por isso, não foi enterrado em um caixão, mas sim envolvido com uma túnica branca, como determina sua religião.

"Eu duvido que alguém tenha entrado em contato com a minha madrasta [Stael]. Esse deputado foi desrespeitoso com a minha família e com a religião. Segundo a relegião, ele morre e vai para o paraíso e para entrar no paraíso precisa usar branco. O corpo tem que ser lavado por familiares, no caso do meu pai quem lavou foram três parentes", disse Danielle.

A filha de Janene também afirmou que a CPI perdeu "credibilidade" ao estudar solicitar a exumação do ex-parlamentar. Ela quer que Motta prove de onde obteve esses indícios e quer uma retratação do parlamentar.

Stael divulgou nota negando a informação. "Jamais fiz isso, e nem poderia, pois fui eu mesma em companhia de meus filhos e das filhas dele, que recebi seu corpo na mesquita muçulmana aqui em Londrina. Ao contrário do que leio de que seu corpo estaria em caixão lacrado, não havia caixão algum, pois seu enterro se deu sob os costumes muçulmanos onde nem ao menos existe um caixão, quanto mais, lacrado", diz trecho da nota.

Janene é apontado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef, delatores da operação Lava Jato, como um dos políticos que atuaram no esquema de pagamento de propina envolvendo a estatal.

“Ele morreu de infarto e ninguém o viu morto. É uma coisa muito estranha. O caixão chegou lacrado. Há uma suspeição de que ele possa estar vivo”, declarou Motta.

O presidente também afirmou que recebeu informações de que Janene poderia estar vivendo na América Central. 

Motta disse ainda que a CPI deve enviar uma comissão a Londrina, onde o corpo de Janene está enterrado, e que vai coletar DNA dos restos mortais e comparar com o material genético de membros da família do ex-parlamentar. Para conseguir autorização para a exumação, ele pretende aprovar um ato da presidência da CPI, que não precisa de ser votado pelos membros da comissão.

A CPI está tentando ouvir Stael na comissão, mas ainda não há requerimento aprovado para sua convocação para depor.

Origem da Lava Jato

Informações do empresário gaúcho Hermes Freitas Magnus, ex-sócio de Janene na indústria de máquinas Dunel, sediada em Londrina, foram o ponto de partida da investigação que viria a se transformar na operação Lava Jato. De acordo com o Ministério Público Federal, o paranaense José Janene investiu R$ 1,16 milhão na empresa a partir de 2008 apenas para lavar dinheiro.

O esquema de lavagem foi montado com o apoio do doleiro Alberto Youssef e do operador de câmbio Carlos Habib Chater, que trabalhava no posto de combustíveis de Brasília que inspirou o nome da operação Lava Jato.

Hermes Magnus, que hoje vive em Portugal, suspeitou da origem dos recursos e passou a enviar e-mails anônimos à Polícia Federal.

Em 6 de maio, Youssef e Chater foram condenados por lavagem dinheiro neste caso. O primeiro pegou uma pena de cinco anos; o segundo, quatro anos e meio de reclusão.

Mensalão e morte

Janene também foi denunciado por participação no esquema do mensalão, mas morreu antes de ser julgado. Ele foi acusado de receber R$ 4,1 milhões do "Valerioduto". O ex-parlamentar foi líder do PP na Câmara dos Deputados e respondeu a um processo por quebra de decoro parlamentar, mas foi absolvido pela Casa.

Com sua morte, a Procuradoria extinguiu a denúncia contra ele. Ou seja, a Justiça não chegou a julgá-lo no processo do mensalão. Janene responderia pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O ex-parlamentar negava as acusações.

Janene morreu aos 54 anos em 14 de setembro de 2010 no InCor (Instituto do Coração) de São Paulo. Ele ficou internado por 40 dias depois de sofrer uma parada cardíaca durante uma cirurgia para ajustar o aparelho que usava para controlar os batimentos do coração.

O ex-deputado esperava por um transplante de coração. Em fevereiro daquele ano, havia sofrido um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Em 2007, ainda como deputado, conseguiu obter aposentadoria por invalidez em função de problemas cardíacos.