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Após derrotas, Cunha critica PT, diz que é desafeto do governo e nega renúncia

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

15/12/2015 14h53Atualizada em 15/12/2015 17h31

Após ser alvo de operação de busca e apreensão da Polícia Federal e de ter sofrido uma derrota no Conselho de Ética, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) reagiu criticando o PT, partido da presidente Dilma Rousseff. "O estranho é o contexto, o dia e os objetivos. Não parece que ninguém do PT é sujeito a algum tipo de operação", declarou.

“No dia que vai ter [a sessão] o Conselho de Ética, às vésperas da decisão do processo de impeachment [pelo STF], e de repente deflagram uma operação de uma forma um pouco estranha”, disse Cunha.

“O governo quer desviar a mídia do processo de impeachment e quer colocar no PMDB e em mim a situação do assalto à Petrobras, que foi praticado pelo PT e por membros do governo”, afirmou. 

Segundo o deputado, o prazo para apresentar sua defesa no inquérito que deu origem às buscas vence nesta sexta-feira (18).

No início da manhã de terça, a PF desencadeou a operação Catilinárias, com busca e apreensão em várias residências e escritórios de políticos. Entre os objetos apreendidos estão o celular do peemedebista. Outros políticos do PMDB alvo da operação de hoje são o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (RN); o da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera (RJ) e o senador Edison Lobão (MA).

A Polícia Federal e o Ministério Público têm seu funcionamento independente do governo. Isso quer dizer que, em tese, o Planalto não tem o poder de interferir sobre a condução das operações.

Cunha também criticou a transcrição de uma das delações premiadas da Lava Jato que indicam a participação dele no esquema. Segundo o deputado, a transcrição do depoimento que consta no processo contra ele não corresponde ao teor do depoimento gravado em vídeo ao qual seus advogados tiveram acesso.

“A transcrição que foi feita do vídeo da delação é criminosa, porque não retrata o que está no vídeo”, disse.

"Estranho profundamente essa concentração no PMDB [entre os alvos da busca]", afirmou em entrevista coletiva em Brasília em que também se declarou "desafeto do governo". “Eu sou o desafeto do governo, todos sabem disso, e me tornei mais desafeto ainda na medida em que dei curso ao processo de impeachment. Nada mais natural do que eles vão buscar o seu revanchismo."

Ele negou ainda que pretenda renunciar ao cargo de presidente da Câmara e se disse "absolutamente inocente".

Conselho de Ética

Também nesta terça, o Conselho de Ética aprovou por 11 votos a 9 o parecer pela continuidade do processo contra o presidente da Câmara

O presidente da Câmara afirmou que é “nula” a aprovação pelo Conselho de Ética do parecer que autoriza a continuidade das investigações contra ele e afirmou que pode recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) alegando que seu direito de defesa foi restringido na comissão.

“Essa sessão de hoje, obviamente essa decisão é nula. Ele [advogado de Cunha] vai entrar com meu recurso, provavelmente entre no Supremo por cerceamento de defesa”, disse. “Todo mundo que tem um mínimo de conhecimento de regimento desta Casa sabe que fizeram jogo pra plateia e que é nulo o que foi feito hoje”, afirmou.   Aliados de Cunha contestaram na sessão de hoje a decisão do conselho de negar um pedido de vista do parecer do relator Marcos Rogério (PDT-RO). O pedido iria adiar para a próxima semana a votação do relatório. O deputado Carlos Marun (PMDB-MS) afirmou que vai recorrer da decisão à CCJ (Comissão de Comissão e Justiça) da Câmara.


Questionado sobre a relação entre o PMDB e o governo Dilma, Cunha voltou a defender que o partido deixe a base. “Acho que o PMDB tem que decidir rapidamente a sua saída desse governo.”

Denúncia e defesa

Denunciado ao STF (Supremo Tribunal Federal) por suspeita de ter recebido US$ 5 milhões em propina do esquema investigado pela operação Lava Jato, Cunha teve seu nome ligado a contas secretas na Suíça. Ele também foi acusado de mentir à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Petrobras sobre a existência das contas.

Em março, em depoimento voluntário à CPI, Cunha declarou: "não tenho qualquer tipo de conta em qualquer lugar que não seja a conta que está declarada no meu Imposto de Renda".

O Ministério Público da Suíça informou à Procuradoria brasileira que Cunha foi investigado naquele país por suspeita de lavagem de dinheiro e corrupção, e que os valores depositados nas contas foram bloqueados. A investigação suíça já foi enviada ao Brasil.

Ele foi denunciado ao Conselho de Ética em outubro por deputados do PSOL e da Rede.