Latim: a língua morta mais viva na política e no cotidiano nacional
Ao começar com as palavras “Verba volant, scripta manent” –do latim, “as palavras voam, os escritos permanecem”-- a sua já famosa carta à presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente e jurista Michel Temer (PMDB-SP) engrossou o coro daqueles que fazem do idioma a língua morta mais viva da atualidade. Até o Google se rendeu e, desde 2010, os internautas tem o latim entre as opções da ferramenta de tradução do site.
“O latim é uma língua morta em termos”, explica a professora do departamento de Letras Clássicas da UFF (Universidade Federal Fluminense), Ana Lúcia Silveira Cerqueira. Ela lembra que ele segue como idioma oficial da Igreja Católica, por exemplo, além de ser a base do português e de ao menos outros sete idiomas, como o italiano, francês, espanhol, catalão, galego, provençal e romeno.
Nesta terça-feira (15), o idioma deu mais um sinal de sua força. A nova fase da Operação Lava Jato, que realizou buscas e apreensões na casa do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e de outros políticos, foi batizada de “Catilinárias”, em referência à série de quatro discursos que Cícero, o cônsul romano Marco Túlio Cícero, proferiu no Senado romano. “Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?” --em português, “até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?”--, questiona Cícero em um dos trechos mais famosos de seu discurso.
Antes, em junho, a 14ª da operação, que terminou com a prisão de executivos das empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez, recebeu o nome de Erga omnes, termo jurídico em latim significa que uma norma ou decisão "valerá para todos". A Polícia Federal, no entanto, nega qualquer preferência pelo idioma. “A escolha dos nomes das operações não surgem de nenhum procedimento especial. O delegado presidente do respectivo inquérito escolhe o nome de acordo com a sua conveniência”, informa a assessoria.
Também não são poucos os deputados que preferem começar suas sentenças no Congresso com “data venia”. Do latim “dada a licença”, é uma forma educada de começar uma frase discordando do orador anterior.
Termos como álibi, alter ego, curriculum vitae, a priori, habeas corpus, in memoriam, per capita e persona non grata, por exemplo, usadas correntemente no português, são expressões em latim, ressalta Ana. “Ele está presente e muito presente em nossa língua, seja em termos em latim que usamos no cotidiano, seja na estrutura das frases da língua portuguesa, que conserva a estrutura latina”, afirma.
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