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Temer em xeque: governo ainda tem condições de se recuperar?

Eraldo Peres/Associated Press
Imagem: Eraldo Peres/Associated Press

Bruna Souza Cruz e Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

22/05/2017 04h00

Ainda impactados pelos acontecimentos dos últimos dias diante da delação premiada de executivos da JBS, o presidente Michel Temer (PMDB) e aliados tentam encontrar estratégias de sobrevivência para o atual governo. A semana, no entanto, será decisiva para Temer, segundo cientistas políticos ouvidos pelo UOL.

Para eles, os próximos dias serão cruciais para identificar se o governo Temer tem chances de se recuperar ou não. E um dos principais desafios será convencer os partidos que compõem a base aliada a se manterem como estão e evitar o efeito debandada.

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O receio do governo é que eles sigam o exemplo do PSB (Partido Socialista Brasileiro), sexta maior bancada no Congresso com 42 parlamentares, que anunciou o rompimento com o governo neste sábado (20) e passou a sugerir a renúncia do presidente.

“É um dos fatores a ser monitorado nessas próximas semanas. Basicamente é ver se haverá o rompimento, a saída de algum partido relativamente grande. Aí o alerta amarelo vira vermelho, e pode ser o início do fim”, afirmou Rogério Schmitt, doutor em ciência política pelo Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro).

Os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) decidirão nesta quarta-feira (24) se vão suspender ou não o inquérito aberto contra Michel Temer para investigar se ele cometeu crimes como corrupção passiva, organização criminosa e obstrução à Justiça. A defesa de Temer protocolou na tarde de sábado um pedido de suspensão do inquérito.

Mesmo com o escândalo político, alguns parlamentares afirmaram que os trabalhos no Legislativo continuarão ocorrendo normalmente e que as votações serão mantidas. A expectativa nos bastidores é de que as atividades fiquem paralisadas.

Situação insustentável

Para o cientista político da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Fábio Wanderley Reis, a crise tornou o governo insustentável e a tendência é que a base aliada vá se dissolvendo no decorrer das próximas semanas.

“Não acredito que haja condições diante da opinião pública, da seriedade, da força da documentação, de que ele mantenha a base aliada, que era o grande trunfo dele [para conseguir colocar em práticas suas reformas]”, afirmou Reis.

“O quadro geral, o contexto, o simples fato de o presidente ter recebido o delator em horas esquisitas, perguntando se ele deu nome verdadeiro ou não, é um relato de atividades criminosas. Indica cumplicidade. Não há como escapar disso. Está mais do que justificada a tentativa de investigá-lo.”

Maria Hermínia Tavares de Almeida, doutora em ciência política e professora do Instituto de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo), também considera que a situação do atual governo é insustentável, principalmente do ponto de vista da opinião pública.

“Acho difícil [sair dessa crise política] porque é um governo com avaliação popular muito baixa. Então já se parte de um governo que conta com pouca confiança da população”, afirmou Almeida, que também é professora do instituto de estudos e pesquisas Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).

A cientista política ressalta também que o apoio que Temer tinha de alguns setores, como o do empresariado, e a sua capacidade de negociar com o congresso podem ser fortemente abalados por essa crise.

Para ela, os partidos aliados ao atual governo talvez estejam aguardando novos fatos que possam ajudar na decisão. Um dos pontos ainda discutidos é a legitimidade ou não do áudio da conversa gravada entre Temer e um dos donos da JBS, Joesley Batista.

Na noite de sábado, o ministro do STF Edson Fachin autorizou a realização, "no menor prazo possível", da análise na gravação, um dos pedidos apresentados horas antes pela defesa de Temer --com a concordância manifestada posteriormente do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Michel Temer chamou a gravação de "clandestina", "fraudulenta" e "manipulada”.

“Tenho a impressão de que ele não caiu ainda porque nesse momento tem muita gente discutindo o que fazer. Acho que os partidos maiores estão olhando para ver que as alternativas possíveis para o governo Temer e como costurá-las. É uma medida que não tem solução fácil. Todas são complicadas”, disse Almeida.

Ainda é cedo para o fim

Apesar da situação complicada, Rogério Schmitt considera que ainda é difícil fazer previsões. Ele também acredita, em relação ao problema gerado pelo esvaziamento da base aliada, que a tendência é que os partidos aguardem mais um pouco para tomarem suas decisões.

“A incerteza é enorme. Existem aí várias investigações em curso. Pode ser que haja novas gravações, novas delações. A gente sabe também que o governo está disposto a contra-atacar. As ações do presidente dão a entender isso”, afirmou Schmitt.

Em todo o caso, para Schmitt, a avaliação é que a atual gestão ainda não deve ser colocada como um governo em caráter terminal, pois as chances de Temer conseguir se recuperar da crise serão grandes caso ele consiga manter o apoio dos partidos maiores.

“Se a inflação continuar caindo, o Brasil conseguir sair da recessão, o desemprego cair numa conjuntura econômica otimista, poderia sim dar ao governo, mesmo o de Temer, uma força adicional para sobreviver”, explicou Schmitt. “É preciso monitorar esses fatores.”

E como ficam as reformas da Previdência e trabalhista?

Segundo os cientistas políticos entrevistados pela reportagem, a semana deverá ser voltada à administração da crise e às discussões sobre reformas defendidas pelo atual governo deverão ser adiadas.

“Antes de estourar a bomba tinha uma possibilidade de votação sobre a reforma da previdência, mas me parece muito pontual que fique suspensa. O momento ainda é de avaliação do tamanho do estrago que foi provado por essa crise toda. Nem mesmo o governo tem esperança de que possa ser uma semana de retorno a normalidade”, afirmou Schmitt.

“Em nenhum lugar do mundo você faz essas reformas de forma tranquila e rápida. Eu já achava que seria um milagre se antes das delações o governo Temer fosse capaz de aprovar mudanças tão difíceis. Agora, acho que saiu da agenda depois de tudo isso”, acrescentou Almeida.

Para Reis, apesar da suspensão temporária, as chances das discussões se manterem e as reformas continuarem a tramitar no Congresso são grandes, mesmo que um novo governo assuma a presidência.

“Há possibilidade de ter a continuidade desse tipo de política. Se tiver que passar por eleição, seja ela direta ou indireta, vai haver no congresso a ação efetiva em torno disso [das reformas]. Acho que mesmo no longo prazo, mesmo com novo governo, existe a premência de ter reformas, de arrumar a casa e retomar o desenvolvimento”, explicou.