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"Firme", "discreta" e "feminista", substituta de Moro na Lava Jato ordenou prisão de Dirceu

A juíza federal Gabriela Hardt em entrevista ao programa "Justiça Para Todos", da Ajufe, em maio de 2017 - Reprodução/Ajufe
A juíza federal Gabriela Hardt em entrevista ao programa "Justiça Para Todos", da Ajufe, em maio de 2017 Imagem: Reprodução/Ajufe

Bernardo Barbosa e Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

01/11/2018 20h40

A juíza substituta da 13ª Vara Federal de Curitiba, Gabriela Hardt, vai assumir interinamente as funções do juiz Sergio Moro depois que o magistrado aceitou o convite para ser ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro (PSL). Fontes do meio jurídico ouvidas pelo UOL descreveram a juíza como "coerente", "firme" e "comprometida", entre outras características.

Hardt já manifestou publicamente, pelo Facebook, sua admiração pelo trabalho de Moro. Em 2014, pouco depois do começo da Lava Jato, disse que a "retidão e dedicação" do juiz a inspiravam "diariamente". Uma fonte que acompanhou de perto o trabalho da juíza diz que ela "sempre teve um perfil muito parecido com o do Moro".

Já segundo um advogado que atua na Lava Jato, "há quem pense que ela é mais dura" que o antecessor. "Ela é bem discreta, porém firme", disse. Outro advogado descreveu a juíza como "comprometida, estudiosa, sempre atenciosa com as partes", além de "muito séria" e "bastante imparcial nos julgamentos".

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Dois defensores de réus na Lava Jato destacaram a competência da juíza, mas chamaram a atenção para o fato de que o conhecimento que Moro tem dos casos da Lava Jato em comparação a Hardt e outros eventuais substitutos pode fazer diferença no ritmo de julgamentos.

Segundo um deles, o fato de Moro estar desde o começo da Lava Jato "facilita muito no entendimento global do caso". Já para o outro advogado, a Lava Jato ficará sem seu "condutor", que seria um ponto "fora da curva" em termos de gestão de processos.

Na Operação Lava Jato, uma das decisões de maior repercussão tomadas por Gabriela Hardt foi a de ordenar a execução da pena do ex-ministro José Dirceu, em maio passado. Na ocasião, a magistrada afirmou que o início do cumprimento da pena após a condenação em segunda instância era necessário para evitar "processos sem fim" e a "impunidade de sérias condutas criminais". Dirceu acabou solto no mês seguinte por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).

O substituto ou substituta definitivo de Moro ainda não está definido. O juiz ainda precisa pedir exoneração, e haverá um concurso para a escolha do novo titular. Com isso, Gabriela Hardt deve conduzir os interrogatórios do processo sobre o sítio de Atibaia (SP), entre eles o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está marcado para o próximo dia 14.

Ex-servidora, feminista e atleta

Depois de trabalhar como servidora na Justiça Federal, Hardt foi empossada como juíza em janeiro de 2009, aos 34 anos -- "um pouco mais tarde que o habitual" para o cargo e "já com família formada", como disse em entrevista no ano passado para o programa "Justiça para Todos", da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil).

A magistrada iniciou seu trabalho na vara federal de Paranaguá, no litoral do Paraná, onde fica um dos maiores portos do país. Menos de um mês depois de assumir o cargo, ela ordenou a incineração de mais de 3 toneladas de cocaína.

Hardt também foi juíza corregedora do presídio federal de segurança máxima de Catanduvas (PR), cargo em que foi responsável por inspecionar as condições de encarceramento e analisar demandas dos detentos -- entre eles, líderes de organizações criminosas ligadas ao tráfico de drogas.

Segundo uma das fontes ouvidas pelo UOL, a juíza é uma "feminista" e uma "mulher de fibra". Na entrevista para o programa da Ajufe, questionada sobre a participação feminina na Justiça Federal, Hardt classificou como "gritantes" as diferenças entre homens e mulheres e mencionou que há dificuldades de progressão de carreira para as magistradas. 

"As discriminações são mais veladas, não são tão explícitas. Mas eu acho que a sociedade ainda exige da mulher uma presença maior nas responsabilidades familiares, em casa, e a carreira de juiz federal nos exige movimentações que, para a mulher, às vezes são mais cobradas. Acho que a gente é mais cobrada que os homens. A presença em casa, a gente não tem como ficar nos mudando porque isso acaba afetando filho, família", declarou ela, que é mãe de duas filhas.

Fora dos tribunais, a juíza tem como hobby a prática da natação, e costuma participar inclusive de competições de maratonas aquáticas. No momento, está em férias. Ela retorna ao trabalho na segunda-feira (5).