Isolar chefe de facção, como Doria quer, dura 1 ano e depende da Justiça
O governador recém-empossado de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou na última quinta-feira (3) que líderes de facções criminosas presos no estado ficarão "absolutamente isolados" e "sem nenhum tipo de contato". De certa maneira, isso já ocorre quando determinado pela Justiça - o chamado, em São Paulo, Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).
De acordo com a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), atualmente 98 presos estão isolados no centro de readaptação penitenciária Dr. José Ismael Pedrosa, em Presidente Bernardes, interior paulista. O local abriga os principais líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), apontado por investigadores estaduais e federais como a maior facção criminosa do país.
De acordo com a Secretaria da Administração Penitenciária, um preso só pode estar nesse regime durante um ano corrido. E a definição de quem vai para o RDD é da Justiça, e não do governador.
Em entrevista dada à GloboNews ontem, Doria afirmou que "em São Paulo, criminosos serão tratados como criminosos, com o rigor da lei". Ele disse, ainda, que vai encaminhar projetos de mudança na legislação à Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) para endurecer o combate ao crime.
A reportagem pediu detalhes sobre a iniciativa à assessoria de imprensa direta do governador, que pediu para encaminhar a demanda ao Palácio dos Bandeirantes, que, por sua vez, redirecionou o pedido à SAP.
"A Secretaria da Administração Penitenciária combate permanentemente o crime organizado, prova disso é que as operações Ethos e Echelon tiveram início com base em peças enviadas pela pasta à Polícia Civil. Além disso, a inteligência da SAP vem sistematicamente monitorando a situação nos presídios do Estado, que operam dentro dos padrões de segurança e disciplina", informou a secretaria, por meio de nota.
"Em unidades penais que abrigam presos vinculados ao crime organizado e presos perigosos e vinculados à grandes quadrilhas, foram instalados bloqueadores de sinais de celulares, o que impede o contato externo através de celulares", informou. "Foram instalados scanners corporais, o que impede a entrada de celulares, drogas, serras, armas de fogo etc para o interior das prisões. O equipamento de scanner corporal é considerado, pelo crime organizado, como o maior inimigo", complementou.
Encontro com Moro e transferências de chefes do PCC
Doria disse que, dias antes da posse de Jair Bolsonaro (PSL), encontrou-se com o ministro da Justiça, Sergio Moro, e que ambos têm "total alinhamento em questões penitenciárias e controle do tráfico de drogas". A reportagem apurou com órgãos de investigação federal que, durante o período de transição de governo, Moro se reuniu com membros do governo paulista para falar sobre o assunto.
Na pauta, esteve o pedido da Promotoria paulista para transferir integrantes do primeiro e do segundo escalão do PCC, como Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, 50, a presídios federais.
Em novembro do ano passado, havia sido autorizada a transferência do segundo escalão, formado por sete homens condenados por diversos crimes e acusados de integrarem o PCC. A reportagem apurou que o presídio federal de Brasília está pronto para recebê-los.
Mas a transferência do primeiro escalão, o que inclui Marcola, ainda não foi autorizada pela Justiça, o que isolou como "inimigo do PCC" o promotor de Justiça Lincoln Gakyia, responsável pelas denúncias apresentadas e pelo requerimento de transferência. O pedido deve ser analisado pela Justiça paulista no retorno do recesso forense, em 21 de janeiro.
Membros da justiça paulista e investigadores afirmam que a transferência requer cuidados, uma vez que pode haver tentativa de resgate durante o deslocamento e retaliação por parte do crime organizado, como ocorreu em maio de 2006, quando mais de 500 pessoas foram assassinadas em menos de um mês.
Encontro com Maia no Palácio dos Bandeirantes
Na manhã desta sexta-feira (4), Doria e seu vice, Rodrigo Garcia (DEM), se reúnem com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O apoio a Maia é visto pelo PSL, partido de Bolsonaro e da maior bancada da Alesp a partir deste ano, como estratégico para "governabilidade" federal. A deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), aliada de Doria durante o segundo turno no ano passado --e que chegou a chamar o tucano para o PSL-- diz que a aproximação com Maia é importante para a "aprovação de reformas".
Doria e Maia já mostravam proximidade desde o ano passado. No início de novembro do ano passado, eles se encontraram na capital paulista para conversar sobre "assuntos do Congresso Nacional de interesse do governo estadual". Em outubro de 2016, eleito prefeito de São Paulo, Doria foi recebido por Maia em Brasília.
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