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Bolsonaro endossa atos marcados por críticas a Legislativo e Judiciário

Do UOL, em São Paulo, no Rio e em Brasília*

26/05/2019 19h10

Resumo da notícia

  • Manifestantes foram às ruas em ao menos 18 estados e no DF em apoio ao governo Bolsonaro
  • Congresso, representado por Rodrigo Maia, e STF foram alvos críticas
  • Atos também defenderam reforma da Previdência e pacote de leis proposto por Moro também
  • Nem Bolsonaro, nem ministros foram aos atos. Mas os elogiaram pelas redes sociais
  • Manifestações foram no geral pacíficas, sem incidentes
  • Governo deverá usar atos para pressionar parlamentares por votações

Dois dos Três Poderes, Legislativo e Judiciário, foram criticados por manifestantes em ao menos 18 estados e no Distrito Federal hoje. O Executivo, sob comando de Jair Bolsonaro (PSL), foi defendido nos atos -- endossados pelo presidente como portadores de pautas "legítimas e democráticas".

As manifestações, que também pediram a reforma da Previdência e a aprovação pacote apresentado pelo ministro Sergio Moro (Justiça), foram marcadas ainda por acusações de que o STF (Supremo Tribunal Federal) e o "centrão", encarnado no presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), não deixam Bolsonaro governar.

inflável do maia  - Pauline Almeida/UOL - Pauline Almeida/UOL
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), ganhou um boneco inflável e foi alvo de críticas
Imagem: Pauline Almeida/UOL
Até às 20h30, o presidente havia ido ao Twitter sete vezes comentar os atos. Pela manhã, compartilhou vídeos das demonstrações em diferentes cidades. Ao fim do dia, voltou às redes para dizer que as manifestações:

  • Não defendiam o fechamento do Congresso ou do STF. "A grande maioria foi às ruas com pautas legítimas e democráticas, mas há quem ainda insita em distorcer os fatos", escreveu.
  • Cobravam responsabilidade de presidente, ministros, senadores, deputados, governadores, prefeitos, vereadores e juízes.
  • Representam "amadurecimento da democracia" brasileira.
  • Foram um ato de "cobrança" da sociedade. "Não podemos ignorar isso", diz seu texto.

Qual o balanço?

Na avenida Paulista, em São Paulo, o líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP), afirmou que Bolsonaro se fortaleceu.

"Bolsonaro está muito mais forte que antes. O maior temor em Brasília hoje é que a população comece a olhar como está votando o seu deputado e o senador", disse.

Sem contagens oficiais, é difícil responder com precisão se os atos de hoje foram maiores do que os de 15 de maio, contra o congelamento de verbas da educação, registrados em menos 241 cidades nos 26 Estados e no Distrito Federal.

Segundo balanço de Estadão Conteúdo, neste domingo houve atos em 59 municípios brasileiros em 18 Estados, além do DF.

No Twitter, a hashtag (termos usados para promover um assunto) #BrasilNasRuas esteve 179 vezes entre as mais faladas - uma recorrência menor do que a #TsunamiDaEducação, que foi o principal assunto da rede 224 vezes em 15 de maio, segundo levantamento da plataforma Torabit.

Monitoramento da empresa mostra ainda que as convocações para hoje foram mais numerosas nas redes do que os posts sobre o ato em si, hoje.

Os atos deste domingo foram convocados, em parte, para medir forças com a manifestação dos estudantes - acusada pelo presidente Bolsonaro de ter sido manipulada pela esquerda.

Atos pró-governo ocorrem em vários estados

UOL Notícias

Críticas ao MBL

Aliado do Bolsonarismo na oposição ao PT, o Movimento Brasil Livre (MBL) se afastou das manifestações de hoje, por medo de se associar a pautas como fechamento do STF e do Congresso, e virou alvo de alguns manifestantes.

"O problema não é eles não terem vindo, mas todas as posturas que eles têm tomado diante de um povo que está revoltado com o que está acontecendo lá em cima, no Congresso, com a plataforma do governo sendo atacada o tempo todo por mídias, inclusive pelo UOL, muita distorção", disse em São Paulo João Bernate, 38.

Ele disse ter participado de todos os protestos desde 2013 convocados pelo grupo, mas condena a mudança de postura do movimento.

Protesto contra o MBL - Mirthyani Bezerra / UOL - Mirthyani Bezerra / UOL
João Bernate, 38, levou para o protesto uma placa contra o MBL
Imagem: Mirthyani Bezerra / UOL

Polêmicas do governo são 'minimizadas'

Queixas contra a grande mídia também foram abundantes entre os participantes. Muitos se recusavam a dar entrevista ao UOL.

Entre os que aceitavam falar, ouviram-se reclamações de que a imprensa persegue o governo.

Polêmicas que rondam Bolsonaro e seu entorno, como as transações financeiras suspeitas no gabinete do senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, e as candidaturas laranja do partido de Bolsonaro, foram minimizadas.

"Ninguém que põe Sergio Moro como ministro da Saúde [Moro é ministro da Justiça e Segurança Pública] tem alguma coisa a dever não", disse em São Paulo a advogada Sabrina Dias, 38.

Casal de vermelho é hostilizado na Paulista

UOL Notícias

Fechar Congresso é pauta minoritária

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Fora STF em Santos - Beatriz Montesanti/UOL - Beatriz Montesanti/UOL
26.mai.2019 - Em Santos (SP), manifestantes estendem faixa "fora STF" em monumento
Imagem: Beatriz Montesanti/UOL
Demandas como fechamento do Congresso ou do STF foram minoritárias nos atos presenciados pela reportagem hoje, em São Paulo, Brasília e Rio

A inclusão desses pedidos em convocações para os atos, além de espantar aliados como MBL e a deputada Janaina Paschoal (PSL), também levou Bolsonaro a desaconselhar a participação de seus ministros.

Nem o presidente, nem seu primeiro escalão compareceu às ruas hoje. Mas usaram as redes sociais para capitalizar os atos e pressionar o Congresso para aprovar pautas caras ao governo.

"Escolhido por Deus"

Manifestantes reforçaram a tentativa de mitificar a figura de Bolsonaro e do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

Na avenida Paulista, em São Paulo, o advogado e religioso Carlos Maria de Aguiar, da denominação Liga Cristã Mundial, afirmou que Bolsonaro "foi escolhido por Deus", "o que ficou determinado, claramente, após ele conseguir sobreviver ao atentado feito pelos inimigos da esquerda, comunistas, socialistas, o mal, a paralisia, o atraso".

Os manifestantes aplaudiram o discurso até que o padre falou: "Bolsonaro não é aquilo que muitos de nós queríamos, mas foi o que Deus nos deu". Os apoiadores do presidente reagiram, afirmando que Bolsonaro é um "mito". Na sequência, o padre declarou que Bolsonaro não tem "Messias" no nome à toa.

Em Brasília, os apoiadores do governo ergueram o boneco gigante "Super Moro", versão ficcional do ministro caracterizada como o personagem Super-Homem.

Procuradas pela reportagem, as assessorias do chefe do Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), afirmaram que os parlamentares não comentariam as críticas.

*Com reportagem de Luís Adorno, Mirthyani Bezerra, Wellington Ramalhoso, Pauline de Almeida (colaboração no Rio) e Hanrrikson de Andrade.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.