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'Vão cair do cavalo sobre o vídeo', diz Bolsonaro sobre reunião ministerial

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

13/05/2020 09h32Atualizada em 13/05/2020 12h33

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a negar hoje ter feito referência literal à Polícia Federal no vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, cujo conteúdo é analisado no inquérito que apura as circunstâncias da queda de Sergio Moro do governo. O ex-ministro da Justiça acusa o mandatário de tê-lo pressionado, sob ameaça de demissão, a trocar o comando da superintendência da Polícia Federal no Rio por interesse pessoal.

A versão de Bolsonaro, de que não falou a palavra "Polícia Federal" na reunião, causou uma contradição com a afirmação feita pelo ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), que prestou depoimento ontem no âmbito da investigação decorrente do inquérito aberto pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Na avaliação do presidente, o subordinado "se equivocou".

"O Ramos se equivocou. Mas como é reunião, eu tenho o vídeo. O Ramos, se ele falou isso, se equivocou", declarou Bolsonaro ao deixar o Palácio da Alvorada na manhã de hoje.

Ainda de acordo com o presidente, quem o acusar de mentir vai "cair do cavalo".

"Vão cair do cavalo sobre o vídeo. Eu não falo 'Polícia Federal', não existe a palavra 'federal' em todo o vídeo", alegou. "Não existe a palavra superintendência. Não existe a palavra investigação sobre filhos."

Segundo apurou o UOL, o apego à literalidade é uma das estratégias que Bolsonaro utilizará para se defender das acusações de Moro. Ontem, pessoas que viram o vídeo da reunião relataram que o presidente citou suposta perseguição à sua família para justificar a necessidade de promover mudanças em unidades regionais da PF.

O desejo na mudança da "segurança" era proteger a família, segundo o mandatário afirmou hoje, pleito que não teria nada a ver com um suposto interesse em investigações da PF fluminense.

A regional conduz casos que são sensíveis para a família Bolsonaro e podem eventualmente gerar problemas para o presidente. Um deles envolvia um dos filhos, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), cujo nome está no epicentro do "caso Queiroz" —suposto esquema de rachadinha (desvio de salários de funcionários) na Assembleia Legislativa do Rio, onde o parlamentar exercia mandato de deputado estadual.

O ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, também prestou depoimento ontem e confirmou a versão de Ramos. De acordo com o militar, Bolsonaro usou o nome da PF à medida que cobrou relatórios de inteligência na reunião.

Na manhã de hoje, o presidente afirmou ainda que não vai mais realizar encontros ministeriais periódicos a fim de evitar "esse tipo de problema".

Bolsonaro também explicou porque tinha dito antes que era melhor destruir o vídeo, mas não o fez. "Estava na iminência de destruir quando apareceu o depoimento do Moro. Se eu destruo, iam ficar martelando em cima de mim, deixei o vídeo".

O presidente defendeu que o vídeo seja divulgado na íntegra. "Por mim, eu divulgo", disse.

"Eu não sei se eu posso conversar, porque eu faço parte do processo... Eu não posso conversar com o Celso de Mello", continuou, dizendo que é a favor da divulgação, apesar dos "palavrões que eu falo sempre".