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Sara Winter afirma à PF que ato dos '300' foi baseado na Bíblia, diz TV

30.mai.2020 - A Ativista Sara Winter em ato do grupo autointitulado "300 do Brasil", contra o Ministro Alexandre de Moraes, em Brasília - Wallace Martins/Futura Press/Agência Estado
30.mai.2020 - A Ativista Sara Winter em ato do grupo autointitulado "300 do Brasil", contra o Ministro Alexandre de Moraes, em Brasília Imagem: Wallace Martins/Futura Press/Agência Estado

Do UOL, em São Paulo

15/06/2020 19h50

A ativista Sara Winter, presa hoje mais cedo pela Polícia Federal (PF), afirmou em depoimento que o grupo "300 do Brasil" não pede a intervenção militar, e que o ato realizado pelo grupo com tochas e máscaras, no dia 30 de maio, foi baseado em uma passagem da Bíblia.

Segundo a CNN Brasil, que teve acesso ao depoimento completo, Sara afirmou às autoridades que o protesto realizado em maio em frente ao STF (Supremo Tribunal Federal) — que chegou a ser comparado com ações da Ku Klux Klan — foi baseado no livro de Juízes, 7:16. Ela apontou que foi uma manifestação pacífica e sem depredação.

O trecho indicado por Sara na Bíblia diz que: "então dividiu os 300 homens em três companhias; e deu-lhes a cada um, nas suas mãos, buzinas, e cântaros vazios com tochas neles acesas".

Ainda sobre o depoimento, que durou aproximadamente uma hora, ela pediu para seguir presa na superintendência da Polícia Federal, já que foi ameaçada de morte, relatou a emissora.

Sara disse, segundo trecho extraído pela CNN, que, se for transferida para a Penitenciária Feminina do Distrito Federal (PFDF), pode ser morta — a justificativa para a violência seria por ela ser uma defensora da polícia.

A ativista ainda afirmou para a PF que o grupo "300 do Brasil" apoia o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas não recebe nenhum tipo de apoio financeiro e nega que tenha assessor parlamento ligado ao grupo.

A CNN aponta que ela se recusou a responder qual o objetivo principal dos "300 do Brasil", mas disse que são mais voltados para a desobediência civil e ações não violentas.

Prisão

A ativista Sara Winter, principal porta-voz do grupo bolsonarista autodenominado "300 do Brasil", foi presa pela PF durante uma operação na manhã de hoje. Há outros cinco mandados de prisão sendo cumpridos, mas a PF não informou a identidade dos alvos. Eles também pertencem ao movimento e são considerados lideranças dele.

As prisões foram decretadas pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República) no inquérito que apura manifestações de rua antidemocráticas. Os pedidos de prisão foram apresentados na última sexta-feira (12), e são temporários, ou seja, têm duração de cinco dias.

De acordo com o MPF (Ministério Público Federal), há indícios de que o grupo continua organizando e captando recursos financeiros para ações que se enquadram na Lei de Segurança Nacional, que define crimes contra a ordem política e social.

O objetivo das prisões é ouvir os investigados e reunir informações de como funciona o suposto esquema criminoso, diz nota divulgada.

Em abril, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao STF a abertura de um inquérito para investigar os atos pró-golpe ocorridos em cidades brasileiras. A PGR citou a participação de deputados federais nos eventos.

Sara Winter segurando dois revólveres - Reprodução - Reprodução
Sara Winter segurando dois revólveres
Imagem: Reprodução

Os manifestantes pediram intervenção militar, a volta do AI-5 (Ato Institucional Nº 5) e o fechamento do Congresso e do STF, um caso de retorno à ditadura. Embora tenha participado de um protesto em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não é alvo de investigação.

Na ocasião, Aras afirmou que "o Estado brasileiro admite única ideologia que é a do regime da democracia participativa. Qualquer atentado à democracia afronta a Constituição e a Lei de Segurança Nacional".

Inquérito das fake news

Sara foi um dos alvos dos mandados de busca e apreensão em outro inquérito no STF, o que apura as fake news, no fim de maio, e teve confiscados itens como computador e celular - conforme ela mesmo afirmou em vídeos publicados em redes sociais.

A operação da PF deflagrada em 27 de maio, também autorizada por Moraes, realizou 29 mandados de busca e apreensão e investigou nomes como o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB), o deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP), o empresário Luciano Hang e o blogueiro Allan dos Santos.

Depois da ação, Sara iniciou uma série de ataques contra o STF e Moraes, falando em persegui-lo e "trocar socos" com ele.

"Eles não vão me calar. De maneira nenhuma. Pelo contrário. Eu sou uma pessoa extremamente resiliente. Pena que ele mora em São Paulo. Se estivesse aqui, eu tava na porta da casa dele, convidando ele para trocar soco comigo. Juro por Deus, eu queria trocar soco com esse filho da puta desse arrombado. Infelizmente eu não posso. Mas eu queria. Ele mora lá em São Paulo, né? Você me aguarde, Alexandre de Moraes. O senhor nunca mais vai ter paz na vida do senhor", afirmou ela, em vídeo que circulou no Twitter.

Os vídeos com ataques de Sara foram tema de debate, com parte da classe política vendo-o como uma provocação, para que ela fosse de fato presa e incendiasse ainda mais o cenário.

Paralelamente ao inquérito das fake news, Sara apareceu como um dos líderes do grupo 300 do Brasil, que fez acampamento em Brasília em apoio ao presidente.

A ocupação foi retirada pela polícia no fim de semana, e os manifestantes pró-Bolsonaro atacaram a sede do STF com fogos de artifício.

A PGR instaurou uma investigação preliminar na noite de ontem sobre o ato da noite de sábado, simulando um bombardeio e determinou a abertura de uma notícia de fato, nome que se dá a investigação preliminar, em resposta a um pedido do presidente da corte, Dias Toffoli.

Ontem, Toffoli citou o manifestante Renan da Silva Sena e pediu que ele seja investigado pelos crimes de calúnia, injúria e difamação. Renan foi preso ontem pela Polícia Civil do Distrito Federal.

Ele é ex-funcionário terceirizado do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Em maio, ele agrediu verbalmente e cuspiu em enfermeiras durante uma manifestação na Praça dos Três Poderes, em Brasília.