QG da Propina no Rio: Entenda as acusações contra Marcelo Crivella
Acusado de chefiar o chamado "QG da Propina" nos quatro anos em que esteve à frente da Prefeitura do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos) foi preso preventivamente e afastado ontem (22) do cargo.
Segundo o MP-RJ (Ministério Público do Rio), o suposto esquema de pagamentos para liberação de contratos na administração municipal arrecadou mais de R$ 50 milhões e envolveu até mesmo suspeitas de uma articulação bilionária de lavagem de dinheiro na Igreja Universal do Reino de Deus, onde Crivella se tornou bispo licenciado após ser eleito prefeito do Rio, em 2016.
A investigação revelou detalhes do que entende ser um grupo organizado envolvido em crimes como organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva.
Na decisão que autorizou a prisão de Crivella, a desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita chamou a atenção para a forma como os outros integrantes do grupo citavam Crivella pelo codinome 'zero um', em alusão à organização hierárquica. De acordo com o documento baseado em conversas pelo WhatsApp, os membros faziam cobranças de quantias em espécie "a pedido do zero um".
Troca de chip de celular para obstruir investigação, diz MP
O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) acusa o atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), de ter trocado o chip do celular que entregou aos investigadores em setembro. "[Crivella] inseriu um chip antigo em um aparelho de outra pessoa e o entregou ao oficial de Justiça que presidia a diligência", diz o MP na denúncia que apresentou contra o prefeito carioca.
Em 10 de setembro, Crivella foi alvo de mandado de busca e apreensão da Operação Hades. Na ocasião, houve uma ordem para reter o celular do prefeito carioca. Hoje, ele foi preso em mais uma etapa da operação que investiga um esquema de propina na Prefeitura do Rio de Janeiro.
De acordo com o MP, Crivella trocou de número de celular ao menos três vezes ao longo das investigações. Sobre a entrega de um celular com um chip, a Promotoria disse que houve "inequívoco intuito de obstruir e, mais uma vez, dificultar ao bom andamento da investigação".
'Não quero cargo nem status. Quero retorno'
O empresário Rafael Alves, irmão de Marcelo Alves, ex-presidente da Riotur, também preso preventivamente ontem, é apontado como o homem de confiança de Crivella e o encarregado pela operação do "QG da Propina". Mesmo sem cargo na prefeitura, ele possuía uma sala reservada na administração municipal e fazia parte do "primeiro escalão" do grupo.
Empresas que desejavam fechar contratos com a prefeitura ou tinham recursos a receber eram obrigadas a pagar propina ao empresário. Em troca, ele facilitava a assinatura de contratos e os pagamentos de dívidas.
De acordo com o MP-RJ, o valor da propina destinado ao irmão dele variava de 20% a 30%. E outro percentual, não citado, era encaminhado ao prefeito, segundo a investigação.
Em mensagens obtidas pelo MP-RJ em aplicativos de conversa pelo celular, ele fala sobre a relação com Crivella antes mesmo de ele se eleger prefeito, em setembro de 2016. "Hoje o maior investidor sou eu. Não quero cargo nem status. Quero retorno do que está sendo investido", escreveu, em mensagem enviada ao marqueteiro Marcello Faulhaber.
Primo de Edir Macedo integrava 'primeiro escalão
Ex-tesoureiro de campanhas eleitorais de Crivella e primo de Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, Mauro Macedo, preso ontem, também é apontado como integrante do primeiro escalão da organização.
Entre janeiro de 2017 e agosto deste ano, Mauro e Rafael Alves "solicitaram e receberam vantagem indevida" por ao menos 44 vezes de uma empresa, agindo em nome e com a anuência de Crivella, diz o MP-RJ.
De acordo com a investigação, os valores eram pagos regularmente para garantir prioridade e manter fluxo no recebimento de créditos junto ao Tesouro Municipal.
Eduardo Lopes
Bispo da Igreja Universal e suplente de Crivella no Senado, ele assumiu o cargo político nos períodos em que Crivella esteve no ministério da Pesca e na Prefeitura do Rio. Em despachos do TJ-RJ, é dito que o ex-senador falou "sobre os percentuais de propina a serem pagos a cada um dos envolvidos na negociata".
Assim como Rafael Alves e Mauro Macedo, também é apontado como operador do esquema e integrante do primeiro escalão. "Participava das reuniões na qualidade de representante de fato do prefeito, de modo a transmitir aos empresários a confiança necessária de que as promessas seriam cumpridas", diz o despacho da desembargadora.
Os outros denunciados
- Fernando Moraes - Delegado aposentado, ele "se imiscuiu na organização criminosa e participou ativamente das tratativas relacionadas à contratação do grupo Assim Saúde para a Previ-Rio, favorecendo-se até os dias atuais do pagamento milionário de propinas". Moraes chegou a usar de violência para pagamento de propina.
- Christiano Stockler - Empresário, trocou mensagens com Alves sobre "acertos de pagamentos de faturas provenientes do grupo Assim Saúde, mediante a emissão de notas 'frias' decorrentes de serviços simulados e não executados (lavagem de dinheiro)", traz despacho do TJ-RJ. Segundo o MP, Stockler está envolvido em um "esquema de corrupção e pagamento de propina referente à contratação da Assim Saúde pela Previ-Rio".
- Adenor Gonçalves - Empresário e pastor, segundo o MP, ele pressionou o grupo Assim Saúde a manter o esquema de pagamento de propinas mediante a emissão de "notas frias", além de pedir que fosse simulado "um negócio jurídico, com a finalidade de apagar os vestígios documentais que vinculavam os constantes pagamentos de propina aos integrantes da organização".
STJ concede prisão domiciliar
No fim da noite de ontem, O presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Humberto Martins, alterou a prisão preventiva de Crivella para prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica. Martins determinou que ele não poderá manter contato com terceiros, nem usar celular, nem sair de casa sem autorização. O prefeito afastado também terá de entregar celulares, computadores e tablets às autoridades.
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