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Pacheco vira mediador de antagonistas na pandemia e ganha poder com CPI

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), tem se destacado nas articulações políticas - Jefferson Rudy/Agência Senado
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), tem se destacado nas articulações políticas Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Luciana Amaral e Fábio Góis

Do UOL, em Brasília

12/04/2021 04h00

Ao falar do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), a maioria de seus colegas na Casa faz questão de ressaltar seu jeito "mineiro" de trabalhar: negociando nos bastidores, sem estardalhaço público, com um ouvido para agradar o governo Jair Bolsonaro e o outro, a oposição.

Nessa toada, Pacheco virou mediador de grupos antagonistas na pandemia e agora vê seu poder aumentar com a determinação do ministro do STF Luís Roberto Barroso para que o Senado instale a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da covid-19, embora seja contra a comissão neste momento.

A base aliada do governo no Senado, que apoiou Pacheco ao comando da Casa, se articula para deixar suspensa a CPI para apurar ações e eventuais omissões do governo federal em meio à pandemia. Ele afirmou que não mexerá "um milímetro" para atrapalhar a comissão. No entanto, o Planalto já aposta nele para tentar segurá-la.

Em meio à queda de braço entre os próprios senadores, a tendência é que Pacheco se torne ainda mais decisivo para tocar os interesses do presidente. Isso sem esquecer que os senadores do centrão devem aumentar o apetite por cargos e emendas em troca de defender o Planalto a cada passo importante da CPI.

Pacheco buscou adiar a instalação da CPI ao máximo, mesmo havendo todos os pré-requisitos necessários para tanto. Em conversas com os senadores que cobravam logo a comissão, pedia para esperar ver como se desenrolaria o avanço da crise sanitária e buscava apoiar acordos defendidos por líderes governistas que acabavam adiando sua instauração. Por exemplo, a criação de comissão sem poder investigativo no Senado apenas para acompanhar a pandemia, o que foi feito.

Diante da intensificação de críticas e cobranças em relação à atuação do governo federal na crise sanitária, Pacheco foi um dos principais incentivadores do comitê de coordenação nacional para o enfrentamento da pandemia.

No meio do fogo cruzado entre governadores e Bolsonaro em relação a mais restritivas de circulação de pessoas, Pacheco se colocou como articulador entre as duas partes promovendo reuniões e intermediando sugestões. No entanto, mais de duas semanas após ser anunciado, o grupo pouco andou e segue sem resultados visíveis.

Em março, Pacheco enviou uma carta para a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, pedindo que o Brasil possa comprar doses de vacinas contra a covid-19 estocadas no país e sem previsão de uso. Ainda não houve efeito prático.

Para senadores de centro e de oposição ouvidos pela reportagem, essas ações serviram apenas como desculpas para Pacheco postergar a CPI da covid-19.

Outro caso em que Pacheco se colocou como interlocutor de desafetos foi para destravar a compra dos imunizantes da Pfizer e da Janssen. O governo federal resistia a comprar as vacinas por causa de cláusulas nos contratos exigidas pelas empresas. O presidente do Senado então passou a conversar com os laboratórios e o Ministério da Saúde até que se chegou a um consenso por meio de um projeto de lei.

Articulação derreteu Tebet na disputa à presidência

O poder crescente de Rodrigo Pacheco teve impulso a partir de sua condução, como deputado federal, à presidência da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara durante o governo Michel Temer (2016-2018). Visto como ponderado e adepto do diálogo entre opostos, àquela época ele integrava o mesmo MDB que, em 2021, viria a se dividir para apoiá-lo na eleição para a presidência do Senado.

No início de fevereiro, Pacheco contou com o apoio do Palácio do Planalto na articulação de sua candidatura para rachar o MDB e fazer o partido abandonar a senadora Simone Tebet (MDB-MS), então sua principal adversária na disputa, no meio do caminho. Ele venceu por 57 votos a 21.

Na ocasião, senadores do bloco parlamentar Senado Independente reclamaram e saíram em defesa da senadora, em crítica aberta ao MDB. Alguns deles chegaram a abdicar da própria candidatura, como Jorge Kajuru (Cidadania-GO) para apoiar Simone. Ainda assim, Pacheco já colhia os frutos de sua articulação discreta, mas eficiente.

Nos bastidores, ele ainda teve providencial amparo de seu antecessor no comando do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que colocou seu poder à frente da Casa a serviço do senador mineiro.

Ao final da votação para a nova Mesa Diretora, Pacheco tinha ao seu lado nada menos que 10 dos 16 partidos com representação no Senado, entre eles os mais numerosos. Inclusive da oposição, como PT, Rede e PDT, o que lhe garante amplo domínio da pauta e das articulações de rotina.