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Após polêmica conversa com Bolsonaro, Kajuru faz enquete sobre o presidente

O senador  Jorge Kajuru, de Goiás - Geraldo Magela - 1º.fev.19/Agência Senado
O senador Jorge Kajuru, de Goiás Imagem: Geraldo Magela - 1º.fev.19/Agência Senado

Tales Faria

Do UOL, em Brasília

17/04/2021 03h00

O senador goiano Jorge Kajuru, que saiu do Cidadania e foi para o Podemos, marcou seu mandato por enquetes na internet que servem para direcionar suas decisões políticas.

Neste final de semana, segundo disse ao UOL, ele pretende perguntar aos internautas: "Depois de tudo o que está acontecendo, você votaria em Bolsonaro de novo?"

Não será uma enquete específica sobre a última das várias polêmicas em que o político e jornalista se meteu.

Kajuru não perguntará sobre a conversa por telefone que manteve no sábado, 10, com o presidente Jair Bolsonaro (sem Partido) - e que tomou o noticiário político e fez do senador o personagem da semana. Nem citará explicitamente a CPI da Covid.

Mas esse "depois de tudo o que está acontecendo" bem que pode levar os internautas a refletir sobre os acontecimentos ocorridos após o senador divulgar no domingo, 11, e no dia seguinte, trechos da gravação daquela conversa.

Em entrevista ao UOL, na quarta-feira, 14, o senador responsabilizou Bolsonaro por parte das centenas de milhares de mortes causadas pelo coronavírus e declarou que o presidente da República corre o risco de sofrer impeachment "se a CPI for séria e independente".

Os áudios que Kajuru divulgou revelaram a estratégia de Bolsonaro para tentar incluir governadores e prefeitos entre investigados pela CPI da Covid.

"Você tem de fazer do limão uma limonada. Tem de peticionar o Supremo (Tribunal Federal) para colocar em pauta o impeachment (de ministros) também" disse o chefe do Poder Executivo ao telefone, conforme registrado na gravação.

Bolsonaro também ameaçou "sair na porrada" com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que primeiro assinou o requerimento de criação da CPI.

O poder de fogo do governo foi enfraquecido pela revelação dos ataques do presidente contra ministros do Supremo, governadores, prefeitos e políticos de oposição em geral.

Os ministros do STF decidiram nesta quinta-feira, 15, anular de vez as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Tornaram novamente elegível o principal adversário de Bolsonaro nas pesquisas eleitorais.

No Congresso, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), decidiu que a CPI da Covid será instaurada na próxima semana, tendo como alvo principal a gestão da pandemia pelo governo federal.

No anúncio que fez em plenário, na terça-feira, 13, Pacheco decidiu também empanar o requerimento de instalação de CPI mais ampla, que innvestigaria estados e municípios. O pedido havia sido apresentado pelo governista Eduardo Girão (Podemos-CE), mas foi apenas anexado à CPI proposta por Randolfe.

A comissão terá, entre os titulares, seis senadores de oposição contra quatro governistas e um presidente tido como independente, Omar Aziz (PSD-AM).

Considerados de oposição ao governo federal, são: Eduardo Braga (MDB-AM), Renan Calheiros (MDB-AL), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Otto Alencar (PSD-BA), Humberto Costa (PT-PE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Governistas: Ciro Nogueira (PP-PI), Eduardo Girão (Podemos-CE), Marcos Rogério (DEM-RO)e Jorginho Mello (PL-SC).

Para piorar a situação do governo, Renan Calheiros se tornou o favorito na disputa pelo cargo de relator da CPI. É o nome que o Palácio mais temia.

Kajuru, que estava em trânsito do Cidadania para o Podemos, não conseguiu se tornar membro efetivo da comissão. Mas as sessões das CPIs são obrigatoriamente abertas a todos os congressistas, o que fará com que ele não seja impedido de participar. Só não vota.

O presidente, que no início da semana chegou a recomendar que Kajuru divulgasse tudo, incluindo a parte da conversa em que ameaçou Randolfe, foi num crescendo de irritação a cada nova notícia provocada pela conversa. Na quinta-feira, 15, dedicou parte de sua live semanal a chamar o senador de maluco e insistir que não autorizou a gravação.

Kajuru não havia dito que ele autorizou. Disse que o presidente sabia da gravação. E que ao ser informado, depois, autorizou sua divulgação.

Se Bolsonaro chegou a imaginar que atingiria seus adversários com um petardo, se enganou. O tiro saiu pela culatra.

Assista abaixo a entrevista de Kajuru ao UOL: