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Em SP, ex-aliados do governo e candidatos à '3ª via' pedem impeachment

Juliana Arreguy e Vinícius Vieira

Do UOL, em São Paulo

12/09/2021 16h09Atualizada em 20/07/2022 21h02

"Quem quer ver o Bolsonaro preso aí?", disse a deputada federal Joice Hasselmann ao subir no carro de som na manifestação contra Jair Bolsonaro (sem partido) na tarde de hoje em São Paulo. "Ele, junto dos filhos, montou uma quadrilha familiar", completou a antiga aliada do presidente.

O ato que foi liderado por movimentos como MBL (Movimento Brasil Livre) e Vem Pra Rua atraiu cerca de 6 mil pessoas segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado. A pauta causou divisões na oposição ao governo federal. Ciro Gomes (PDT), porém, afirmou que a união de políticos de espectros distintos é necessária para "proteger a democracia".

"A escalada golpista do Bolsonaro tomou proporções maiores", disse o possível candidato a presidência quando chegou à Avenida Paulista. Ele também afirmou que "haverá tempo para o PT amadurecer", acrescentando que "não há acordo, do meu ponto de vista, com o [vice-presidente Hamilton] Mourão".

Também pré-candidato à presidência em 2022, mas pelo Cidadania, o senador Alessandro Vieira (SE) declarou que o único caminho na democracia fora dos extremos é por meio da união. Questionado sobre a ausência do PT no ato, afirmou que o partido trabalha em torno de um projeto próprio.

"O PT nunca manifestou disposição para isso. Tem um projeto próprio hegemônico, em torno do Lula", avaliou. "Uma imensa parcela não quer Bolsonaro, nem Lula. Tem que fazer uma construção em cima disso."

Indagado sobre a possibilidade de costurar um apoio com o PT para pautar o impeachment de Bolsonaro, Vieira afirmou que as portas estão abertas: "O apoio do PT vai ser muito bem-vindo. Até o Bolsonaro contra o Bolsonaro vai ser muito bem-vindo. Ninguém vetou ninguém. O que acontece é que a união no Brasil sempre esbarra no personalismo".

Doria cita vacina e ditadura

O governador de São Paulo João Doria (PSDB) chegou mais tarde no ato. Sob gritos de "presidente" e "vacina" e "fora Bolsonaro", falou sobre defesa da democracia, imunização coletiva e resistência à ditadura militar.

"Foi São Paulo que foi buscar vacina. Ao invés de comprar cloroquina, São Paulo que comprou vacina para salvar o Brasil", disse. "Vacina no braço e comida no prato", continuou.

A força [para o impeachment de Bolsonaro] vem das ruas. Razões já existem. Crime de responsabilidade, mais de 130 pedidos de impeachment. É só o clamor das ruas.
João Doria, governador de SP

Antes de discursar, ao UOL, minimizou o palco dividido com outras pretensas candidaturas à presidência no próximo ano. Questionado sobre o evento servir de palanque antecipado, discordou.

"Não vejo assim. Vejo a presença de todos no espírito democrático de defender a democracia", disse, acrescentando que deve se lançar a presidenciável do PSDB nas prévias, ainda este ano.

Mandetta e Amoêdo: Impeachment é "díficil"

Ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) defendeu ser necessário apresentar um posicionamento no atual momento, embora acredite que um impeachment de Bolsonaro seja difícil: "Tem mais de 50% da população que não quer esses dois polos. Está muito fragmentado, espero que quando comece a definir o rosto. Nós vamos passar por muitas análises, a posição é coletiva. Quem quer apoio tem que se expor".

Questionado pelo UOL sobre como estão as conversas para candidatura ao Planalto para o próximo ano, ele falou: "Estão acontecendo".

Já no trio elétrico do movimento Vem Pra Rua, em outro ponto da Avenida Paulista, a fala mais aguardada pelos presentes era a do ex-presidente do partido Novo e presidenciável em 2018, João Amoedo. Ele foi recebido com entusiasmo, mas seu discurso, no entanto, foi bastante curto.

Assim como Mandetta, Amoêdo frisou que o impeachment de Bolsonaro é difícil de acontecer, por conta do seu apoio na Câmara dos Deputados, mas não impossível — daí a importância do povo nas ruas.

"A gente vai ter que se unir, sabendo que é um trabalho que não vai ser simples, mas que é o certo e vai ter que dar certo", disse Amoêdo, que fez questão de desvincular sua imagem da de Bolsonaro, mesmo tendo votado no atual no segundo turno das eleições de 2018 e com seu partido apoiando a maioria dos projetos do governo na Câmara.

Bolsonaro não é uma ameaça, ele é uma tragédia para o nosso país. Por isso precisamos ter coragem e resiliência para não desistir da luta. A nossa caminhada está só começando.
João Amoêdo, presidenciável em 2018

Parlamentares também discursam

Presidente da UNE, Bruna Brelaz, e as deputadas, Isa Penna (PSOL) e Tabata Amaral (sem partido) participam de ato contra Bolsonaro - Juliana Arreguy/UOL - Juliana Arreguy/UOL
Presidente da UNE, Bruna Brelaz, e as deputadas, Isa Penna (PSOL) e Tabata Amaral (sem partido) participam de ato contra Bolsonaro
Imagem: Juliana Arreguy/UOL

A senadora Simone Tebet disse ao UOL que o ato representa "a verdadeira cara do Brasil". "Um Brasil plural que aceita conviver na divergência. Principalmente quando nosso principal bem, a democracia, está sob ataque", disse.

No palco, a deputada federal Tabata Amaral (sem partido-SP, a terceira na foto acima) falava sobre a necessidade de um processo de impeachment. Ela mencionou dificuldades como a corrupção, a inflação e o próprio risco à democracia.

"O Congresso ouve as ruas. Impeachment já. Fora Bolsonaro", disse.

O vereador Fernando Holiday (Novo-SP) também falou contra Bolsonaro, a quem chamou de "jumento" e "corrupto". Ele ficou conhecido por integrar o MBL, participando ativamente das manifestações contra Dilma Rousseff (PT) em 2015 e declarando voto em Bolsonaro em 2018, mas hoje está distante dos seus antigos companheiros.