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Flávio Bolsonaro: Não há chance de meu pai fazer algo fora da Constituição

O senador Flávio Bolsonaro com o pai: "Tinha conselheiro dizendo que o presidente não devia mais ceder" - Adriano Machado/Reuters
O senador Flávio Bolsonaro com o pai: 'Tinha conselheiro dizendo que o presidente não devia mais ceder' Imagem: Adriano Machado/Reuters

Do UOL, em São Paulo

17/12/2021 09h14Atualizada em 17/12/2021 12h37

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro (PL), disse, em entrevista à revista Veja, que o pai foi aconselhado a promover uma ruptura institucional, mas que "ele, em sua sabedoria, não o fez pelo bem do Brasil".

"Não há nenhuma possibilidade de meu pai fazer algo fora da Constituição", afirmou o senador.

Segundo ele, o dia 7 de setembro, data em que ocorreram manifestações favoráveis ao presidente e com pautas antidemocráticas, foi o momento mais tenso dos três anos de governo. Na ocasião, Bolsonaro incitou apoiadores contra o STF (Supremo Tribunal Federal), chamou o ministro Alexandre de Moraes de "canalha" e disse que não cumpriria qualquer ordem dele. Dias depois, no entanto, ele recuou.

"Tinha conselheiro dizendo que o presidente não devia mais ceder, que o Supremo havia ultrapassado o limite, que acabou", disse o parlamentar sobre a data. Questionado quem seriam essas pessoas, Flávio limitou-se a dizer que o presidente "conversa com muita gente", sem citar nomes.

"São pessoas com perfil ideológico, com dificuldade de compreender o espaço político que o presidente da República tem de dar para conseguir governar. Se o presidente fosse fazer o que essas pessoas queriam, teríamos um ditador aqui. Mas esse não é o perfil do meu pai."

Sem apresentar provas, Flávio acrescentou que "havia uma conspiração em andamento para derrubar o governo", citando o deputado Rodrigo Maia (sem partido-RJ). Segundo ele, Bolsonaro se sentiu acuado e constrangido, "mas não chegou a pensar em fazer alguma coisa".

"Havia pessoas trabalhando nos bastidores para derrubar o presidente, como o deputado Rodrigo Maia. Sabemos que ele tentou atrair ministros do Supremo para um plano que previa criar uma armadilha que levaria ao impeachment do presidente. Ele falou com alguns ministros do Supremo, e um deles me contou. Obviamente não posso falar nomes senão me complica, não vou ter como provar e vou expor o ministro", declarou.

Ao UOL, Maia disse que "contar mentiras, inventar histórias é algo bem típico da família Bolsonaro. Tal pai, tal filho. Dois imbecis".

Na avaliação do senador, no entanto, a relação institucional do presidente com o Supremo está atualmente "pacificada".

Questionado sobre os motivos pelos quais o governo é tão mal avaliado, Flávio disse que as pesquisas são "totalmente furadas". Levantamento do Datafolha divulgado hoje apontou que o presidente mantém o pior nível de avaliação de seu governo, com 53% dos brasileiros reprovando a forma com que administra o país. Já pesquisa CNT/MDA divulgada ontem mostrou que a desaprovação ao desempenho pessoal do mandatário à frente do governo atingiu em dezembro 62,3%.

'Moro é pessoa antipática e inconfiável'

Na avaliação de Flávio, a imagem do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro (Podemos) perante a população é de um "traidor". Moro deve enfrentar Bolsonaro nas eleições do ano que vem.

Descobrimos que ele não tinha uma identidade ideológica com o nosso governo. Ao contrário. Ele entendia que o governo estava equivocado e causava em questões como o armamento. Ele trabalhou diretamente contra isso, boicotou. Tentou trazer para o governo pessoas que defendem o aborto e a legalização de drogas, pautas sagradas para nós. É uma pessoa antipática, inconfiável, que não tem palavra, não tem lado Flávio Bolsonaro sobre Moro

Ao contrário do que afirmou o parlamentar, o ex-juiz já declarou ser contra a liberação da maconha, mas, em entrevista ao apresentador Ratinho, do SBT, em julho de 2019, afirmou ser a favor do seu uso medicinal.

Em julho de 2020, depois de deixar o governo, Moro fez uma autoavaliação, em entrevista à Globonews, e declarou que "talvez pudesse ter me insurgido mais" ao falar sobre a questão armamentista.

Pesquisa Datafolha mostra que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) segue à frente na corrida presidencial, com Bolsonaro em segundo lugar. Moro aparece com 9% das intenções de voto.

Flávio disse ainda que o ex-juiz é "mentiroso", negando que Bolsonaro tenha usado o governo para proteger o filho de investigações.

Bolsonaro e Centrão

Para Flávio, a expressão "Centrão" era usada de forma pejorativa no governo do PT "porque a negociação era um 'toma lá dá cá' com mala de dinheiro, corrupção". Hoje, segundo ele, a relação é "republicana".

O presidente se filiou ao PL em novembro. Na ocasião, o chefe do Executivo federal criticou a esquerda e o PT e fez diversos acenos ao Congresso em um discurso que marcou oficialmente a retomada do "casamento" de seu governo com o centrão.

O partido é comandado por Valdemar Costa Neto, condenado no escândalo do Mensalão. "Valdemar foi condenado por uma situação que lá atrás era corriqueira na política. Ele pagou por isso e hoje está quite com a Justiça. Não deve nada, não tem processos contra ele. É diferente do ex-presidiário Lula, que não pagou pelos seus crimes, tinha ingerência direta nas roubalheiras em seu governo", diz o senador.

Rachadinhas

Sobre o caso das rachadinhas, Flávio relatou que "é um sofrimento que carrego há três anos". No fim do mês passado, a Segunda Turma do STF anulou os relatórios de inteligência produzidos contra o senador que embasaram as investigações sobre o caso das "rachadinhas" na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). Dessa forma, as provas também foram anuladas.

"Passei três anos sendo investigado e não acharam nada contra mim, ninguém dizendo que me deu dinheiro, não tem depoimento, escuta telefônica ou depósito na minha conta. Meu patrimônio é compatível com o que eu construí com trabalho desde muito cedo."

Na avaliação dele, no entanto, o objetivo era atingir o pai. "O objetivo não era eu, era atingir o presidente Bolsonaro na sua bandeira que é mais importante, de combate à corrupção. O governo continua sem corrupção."