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Fox News exibe Bolsonaro como 'líder antissistema' e reforça falas de 2018

O presidente Jair Bolsonaro (PL) publicou nas redes sociais a sua entrevista ao apresentador conservador Tucker Carlson, da Fox News - Reprodução/Twitter/Jair Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro (PL) publicou nas redes sociais a sua entrevista ao apresentador conservador Tucker Carlson, da Fox News Imagem: Reprodução/Twitter/Jair Bolsonaro

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

30/06/2022 22h08Atualizada em 01/07/2022 08h03

Em entrevista veiculada na noite de hoje pela emissora norte-americana Fox News, o jornalista Tucker Carlson apresentou o presidente Jair Bolsonaro (PL) como um político antissistema bem-sucedido, apesar de uma suposta "coalizão de bilionários, professores universitários e veículos de mídia" que teria tentado impedir sua eleição em 2018.

Em resposta, o presidente citou a facada sofrida durante a campanha eleitoral daquele ano, minimizou o racismo no Brasil e criticou a obrigatoriedade da vacinação contra a covid-19 no país. Bolsonaro afirmou ainda, sem apresentar provas, que pesquisas de intenção de voto, que o mostram atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), visam a manipular a opinião pública. A estratégia é semelhante à usada pelo ex-presidente do EUA Donald Trump a fim de desacreditar o sistema eleitoral e estimular apoiadores radicais a atacarem jornalistas, instituições democráticas e opositores.

Bolsonaro minimiza racismo no Brasil

Na avaliação de Bolsonaro, a esquerda busca dividir o país por meio de políticas identitárias e discursos sobre classe social: "Mesmo antes de Lula tomar o poder, em 2003, a esquerda já pregava uma disputa de negros contra brancos, nordestinos e sulistas, e trabalhadores versus empresários. A esquerda ganhou seguidores graças a essa abordagem", disse.

Bolsonaro minimizou a incidência de racismo no Brasil e justificou-se, apontando que seu sogro é negro: "Eu sou um branco de olhos azuis. Racismo existe no Brasil, mas não como é frequentemente descrito. A maioria dos nossos jogadores de futebol é de afrodescendentes e ninguém vê isso como um problema", disse.

Ataque a institutos de pesquisa

O presidente afirmou, falsamente, que o Datafolha realizou pesquisa que o mostra como um candidato menos honesto em relação a Lula. Na realidade, um levantamento realizado pelo Ipespe, a pedido da XP Investimentos, mostrou que 35% dos brasileiros avaliam que Lula é honesto. Bolsonaro pontuou com 30%. A pesquisa, contudo, não foi comparativa. Os entrevistados foram questionados apenas sobre qual possível candidato à Presidência da República refletia características, como competência, inteligência, equilíbrio e experiência. Após pressão de apoiadores, a XP mudou o esquema de divulgação da sondagem.

Falou sobre Amazônia, sem citar Bruno e Dom

O presidente da República, durante a entrevista a Tucker Carlson, também minimizou críticas que recebe de artistas e governantes internacionais sobre a gestão do desmatamento na floresta amazônica: "Não dependemos do interesse internacional em preservar a Amazônia. É de nosso próprio interesse e, é claro, queremos que esses esforços de preservação sejam recompensados de alguma forma, por meios como créditos de carbono".

Segundo ele, o uso de mais tecnologia ajudará a monitorar e proteger a região, que passa pelo agravamento de indicadores ambientais no governo Bolsonaro (PL). O desmatamento na região em 2021 foi o pior dos últimos 15 anos.

O presidente, no entanto, não falou —nem foi questionado— sobre o desaparecimento e a morte do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, que foram sequestrados no início deste mês e assassinados após se deslocarem de barco pelo rio Itaquaí após visita à Terra Indígena do Vale do Javari (Amazonas), território que alvo de invasão por caçadores, pescadores e madeireiros ilegais.

Discursos antigos: aborto, eleições e armamentismo

A entrevista de Bolsonaro teve poucas novidades com relação a suas declarações e posicionamentos públicos. Alguns dos pontos abordados pelo presidente foram políticas de armamento populacional, das quais ele é um proponente declarado, e aborto, a que ele se posiciona contra: "A esquerda no Brasil é majoritariamente ateia —e não respeita ninguém. Dizem que aborto é uma questão de saúde pública. Nós acreditamos, cristãos, que a vida gerada por uma mulher não pertence à mulher."

Na entrevista, o presidente também repetiu críticas a movimentos sociais, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), classificado por ele como um grupo terrorista, e a governos de esquerda na América do Sul. Segundo ele, a esquerda "nunca sairá do poder" no Brasil caso Lula vença o pleito ao Palácio do Planalto neste ano: "A mídia nunca me deu visibilidade, muito pelo contrário, eles me atacaram o tempo todo durante a campanha. Se a esquerda voltar ao poder, a meu ver, eles nunca sairão do poder e esse país seguirá o mesmo caminho de Venezuela, Argentina, Chile e Colômbia".

O discurso de Bolsonaro é igual ao do assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Filipe G. Martins, que também teve entrevista veiculada pela Fox News nesta semana. Ambos apontam ao crescimento das vitórias dos governos de esquerda na América do Sul. "Eu era só um integrante do Congresso Nacional. Minha eleição foi um milagre. Em 2020, a pandemia aconteceu e, apesar de tudo, estamos indo muito bem. Os problemas no Brasil são como em todo o mundo, como a inflação por causa dos lockdowns, por exemplo", disse Bolsonaro.

Covid-19 e negacionismo

O presidente voltou a defender tratamento com medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus, e afirmou que foi criticado por ter enviado comitiva a Israel, em 2021, para explorar a possibilidade de vacinas em forma de spray nasal serem capazes de impedir a infecção. "No Brasil, uma parcela considerável da população não quer tomar a vacina. Lamento todas as mortes, mas acredito muitas delas poderiam ter sido evitadas por meio do tratamento precoce", disse.

Em tom de elogio, Carlson descreveu Bolsonaro como o único líder mundial que admite não ter se vacinado contra a covid-19. O presidente afirmou que não tomou um imunizante contra a doença porque já havia se contaminado, em 2020. "Se alguém já contraiu o vírus, a vacina realmente não ajuda. A vacina seria inócua. Foi o meu caso. É porque eu não tomei a vacina. Mas comprei vacinas para todos os brasileiros", disse o presidente.

Estudos mostram que pessoas que já tiveram covid-19 precisam se vacinar, depois de curadas, porque a imunidade oferecida pelos imunizantes é superior à provocada pelos anticorpos gerados pelo vírus.

Tucker Carlson: conservador apreciado pela ultradireita

Com passagens por veículos como CNN, o jornalista Tucker Carlson, da Fox news, é considerado uma das maiores nomes do conservadorismo na mídia dos EUA. Conhecido por se opor ao Partido Democrata, do presidente Joe Biden, a políticas de imigração e feministas e por defender a ideia de que existe racismo contra brancos, o jornalista já afirmou que o Brasil é "a única grande economia pró-EUA no hemisfério sul" —posição ameaçada, segundo ele, pela possível eleição de Lula.

Bolsonaro e Tucker Carlson - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Bolsonaro e Tucker Carlson
Imagem: Reprodução/Twitter

Carlson diz ainda que o Brasil é único que país que resiste a supostos esforços de colonização por parte do governo chinês. "A China se tornou um poder colonial dominante, tomando o controle de países por meio de acordos econômicos, e então explorando os recursos naturais deles e controlando seus sistemas políticos", disse Carlson.

Na avaliação dele, o Brasil é um exemplo do que pode ocorrer nos EUA. "O Brasil tem um clima político muito dividido. Há um partido nacionalista, atualmente no poder e que controla o Executivo. De outro lado, há um partido globalista. E o tom dos políticos aqui é amargo. Pessoas vão para a prisão no Brasil rotineiramente quando perdem eleições", afirmou. A China é o maior parceiro comercial do Brasil atualmente.