Nas redes, Eduardo Bolsonaro se posiciona como embaixador do bolsonarismo
Movimentos recentes nas redes sociais indicam uma tentativa do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) de se colocar em evidência entre os protagonistas do bolsonarismo.
Só em fevereiro:
- Eduardo lançou a newsletter Boletim Conservador.
- Começou uma rotina de lives regulares pelo YouTube, a exemplo do que fazia Jair na presidência.
- Foi garoto-propaganda no lançamento da Bolsonaro Store, loja virtual da família, que oferece calendários e canecas.
No fim de semana passado, Eduardo esteve, com o pai, em evento político de direita nos Estados Unidos, que contou também com discurso do ex-presidente norte-americano Donald Trump.
A favor de Eduardo, há o fato de vários candidatos a sucessores de Jair —como seus irmãos Flávio (senador pelo PL-RJ) e Carlos (vereador carioca pelo Republicanos)— serem alvos de inquéritos avançados sobre o esquema de rachadinha. Contra, um inquérito por suspeita de disseminar desinformação aberto pelo Supremo em julho de 2021.
Além dos irmãos, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) são apontados como possíveis herdeiros políticos de Jair. Michelle é uma aposta do PL —partido do ex-presidente— para o governo do Distrito Federal em 2024.
Nas redes, Eduardo tem mais seguidores que os irmãos Carlos e Flávio no Facebook, Instagram e YouTube. Porém, o terceiro filho do ex-presidente perde para o pai e os irmãos no Telegram e só supera Carlos no TikTok.
Oficialmente, Jair ainda é o líder
Entre os apoiadores de Bolsonaro, a eventual ascensão de Eduardo não é entendida como um problema. Ele é visto como um político articulado, inteligente e em sintonia com a pauta conservadora.
Nosso líder ainda é Bolsonaro e qualquer movimento no bolsonarismo precisa da bênção dele. Mas caso o cenário mude e o Eduardo venha a assumir esse protagonismo, terá o apoio de todos."
Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra da Mulher e atual senadora
Já para o escritor João Cezar de Castro Rocha, especialista em extrema direita e professor titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o desapreço de Eduardo pela democracia é um traço "muito perigoso". Ele lembra dois episódios em que a característica veio à tona:
- Uma fala durante uma palestra no Paraná em julho de 2018, na qual o deputado disse que "um soldado e um cabo" seriam suficientes para fechar o STF (Supremo Tribunal Federal).
- A declaração de que a ocorrência de uma ruptura institucional no Brasil não era uma questão de "se", mas de "quando", durante uma live em maio de 2020.
Recentemente, nas transmissões ao vivo, Eduardo tem defendido os golpistas presos por participarem dos atos de 8 de janeiro em Brasília —assunto evitado pelos demais membros da família nas redes sociais.
Se qualquer polícia do Brasil tivesse prendido mil traficantes, ia estar complicada a barra para o lado da polícia. Mas como a decisão veio de uma autoridade do STF, a coisa tomou outra postura."
Eduardo Bolsonaro, sobre os golpistas presos após os atos de 8 de janeiro, em live no último dia 20
O professor acredita que a influência política limitada (patente pelo fracasso na criação de um partido bolsonarista) e a postura de Jair (que nunca permitiu que outros líderes crescessem à sua sombra) são desafios a serem superados.
Nenhum dos três filhos tem força para se tornar líder sem o aval do pai. Só que, ao dar o aval, o pai estaria se aposentando e, sem o pai em atividade, os filhos não existem politicamente. É um paradoxo."
João Cezar de Castro Rocha, professor da Uerj
Bolsonaristas no Brasil
Um dia antes do fim do mandato, o ex-presidente Bolsonaro viajou para os Estados Unidos, onde permanece até agora. Entre os aliados, há um desconforto em relação à agenda irrelevante de Jair na América do Norte —o que contribui para a oposição a Lula não ter uma liderança clara no Brasil.
Os três filhos que têm carreira política na esteira de Jair são alvos de inquérito:
- O próprio Eduardo é investigado em inquérito aberto pelo Supremo por suspeita de disseminar desinformação e financiar atos antidemocráticos.
- Flávio aparece em apurações ligadas à rachadinha de seu gabinete na Assembleia Legislativa fluminense, onde atuou de 2003 a 2018. O Ministério Público do Rio solicitou ao STJ autorização para retomar o caso.
- Carlos é investigado por suspeita de funcionários fantasmas e rachadinha na Câmara carioca. Ele chegou a ser apontado como "chefe da organização" em processo no TJ do Rio. Além disso, ainda enfrenta outra investigação, tocada pelo TSE e ligada à disseminação de informações falsas por meio das redes sociais.
O próprio Jair foi incluído, por determinação do STF, no inquérito sobre autoria dos atos golpistas que resultaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro.
A ex-primeira-dama também tornou-se alvo de investigação no mês passado, quando vieram a público supostos episódios de assédio moral ocorridos no Palácio do Planalto durante o governo Bolsonaro. A suspeita é de que Michelle destratava servidores.
O nome dela já havia sido citado citado após a quebra de sigilo de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio. Ele teria depositado R$ 72 mil na conta da ex-primeira entre 2011 e 2018.
Nesta semana, a família virou alvo de nova investigação —o jornal O Estado de S.Paulo revelou que um ex-assessor do governo Bolsonaro tentou entrar no país com joias no valor de R$ 16,5 milhões ofertadas pela Arábia Saudita a Michelle em outubro de 2021. Há informações de que o governo pressionou os servidores para que os adornos fossem liberados.
Procurados pela reportagem, os três irmãos não se pronunciaram sobre as investigações. Antes, Eduardo, Flávio e Carlos já negaram envolvimento com irregularidades.
Jair disse que lamentava "o que aconteceu dia 8 [de janeiro], uma coisa inacreditável". O advogado dele, Frederick Wassef, afirmou que o ex-presidente "sempre repudiou todos os atos ilegais e criminosos". Michelle não foi localizada para comentar a investigação envolvendo seu nome.
Sobre as joias, Michelle fez piada nas redes sociais. "Tenho tudo isso e não estava sabendo?", ironizou no Instagram. A interlocutores, disse que como "mulher traída", foi a "última a saber" que o estojo havia sido enviado a ela de presente. Bolsonaro disse que as peças iriam para acervo.
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