O que dizem os partidos que apoiaram Lula e agora estão com Nunes em SP

Três partidos que apoiaram a candidatura de Lula (PT) nas eleições de 2022 contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) já anunciaram aliança para a reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB).

O que aconteceu

Avante, Agir e Solidariedade estão entre os partidos que vão apoiar Nunes este ano. Além deles, PL, de Jair Bolsonaro, PP, Republicanos, do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e PSD já formalizaram a aliança com o atual prefeito.

Havia expectativa de que as três legendas apoiassem a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL). Isso porque Lula defende a chapa do psolista — devido a um acordo costurado ainda nas eleições de 2022, que tirou Boulos da eleição ao governo de São Paulo em prol da candidatura de Fernando Haddad (PT).

O PSB, que declarou apoio ao petista, decidiu lançar candidatura própria: a deputada federal Tabata Amaral. O MDB, partido de Nunes, lançou Simone Tebet em 2022, terceira colocada na disputa, e declarou neutralidade no segundo turno.

Uma das explicações para a movimentação dos apoios seria o "desenho regional", segundo fontes ouvidas pelo UOL. Os arranjos políticos locais, para secretários e Câmaras municipais, por exemplo, fazem com que os partidos assumam posições diferentes. "Tem cidade em que você tem o PT com o PSDB", disse um político à reportagem.

"Pensando no que é melhor para São Paulo", disse o deputado federal Paulinho da Força e vice-presidente do Solidariedade sobre a decisão do partido de embarcar na campanha de Nunes. Ao UOL, ele afirmou que a legenda "tem vida institucional própria" e que a eleição de São Paulo não é a eleição presidencial de 2022.

Cabe destacar também que o governo não tem qualquer ingerência sobre o Solidariedade, nem em São Paulo, nem em nenhum outro local do país. Até porque algo que o governo não tem feito é dialogar com os aliados de primeira hora, como é o caso do Solidariedade, que foi o primeiro partido a apoiar o presidente Lula.
Paulinho da Força, deputado federal

"São cenários diferentes", diz Josué dos Santos, presidente estadual do Avante em São Paulo. Segundo ele, o apoio a Lula foi fruto de um "acordo pontual" e não condicionava nenhum posicionamento específico nas eleições deste ano. "Além disso, as disputas municipais têm as suas peculiaridades", afirmou.

A proximidade entre Nunes e os candidatos a vereador que o Avante quer lançar selou a decisão por apoio. Santos disse que o partido pretende eleger dois nomes para a Câmara Municipal de São Paulo em 2024. Após a cassação de Camilo Cristófaro em setembro, a legenda não tem representação na Casa.

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"O Agir de hoje não é o mesmo de 2022", afirma Osmar Bria, secretário-geral do partido em São Paulo. De acordo com ele, a legenda passou a focar em autismo e questões comportamentais, após uma reformulação nos últimos seis meses. "Não temos preconceito com a direita ou com a esquerda, com PL ou PT", disse.

O compromisso de Nunes com a causa autista levou o Agir a apoiá-lo em 2024, segundo Bria. Sem representantes na Câmara Municipal, o partido pretende lançar 52 candidatos a vereador.

O apoio de Bolsonaro

Líder da Força Sindical, Paulinho da Força diz que não há preocupação sobre a proximidade de Nunes com Bolsonaro. "Nossa questão agora é ganhar as eleições, e a gente tem que fazer aliança —quanto mais ampla, melhor", disse o deputado.

Frente ampla tem sido o mote defendido pelo prefeito para manter uma "distância segura" do bolsonarismo. Nunes não quer ser ligado à extrema-direita.

Boulos usa o mote da frente ampla, por outro lado, com discurso sobre "derrotar o bolsonarismo". "Mais do que um número alto de agremiações, a frente ampla reúne setores da sociedade cujo objetivo comum é evitar que o bolsonarismo se aproprie da cidade de São Paulo", afirma o coordenador da pré-campanha, Josué Rocha.

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O psolista conta com o apoio de PDT, PT, PCdoB, Rede e PV. Esse último também mudou de lado nesta eleição — em 2020, a legenda fechou com Bruno Covas (PSDB). O tucano morreu em maio de 2021, e Nunes assumiu. PT, PCdoB e Rede lançaram candidaturas próprias à prefeitura em 2020, e o PDT compôs chapa com Márcio França (PSB).

A equipe do psolista diz que ainda está em contato com outros partidos na busca por apoio. "As conversas devem se estender até a data limite de formalização das alianças para as eleições municipais".

Quem ainda não anunciou apoio

Nunes ainda tenta atrair o União Brasil e a federação PSDB-Cidadania. Há expectativa de que os tucanos também integrem a coligação de Nunes —o prefeito era vice de Covas. O partido ainda tem vários nomes em cargos na prefeitura. Por essas razões, líderes da sigla avaliam que apoiar Nunes é "o caminho natural".

Tucanos paulistas têm se mobilizado para defender que o partido embarque na candidatura de Nunes. A bancada de deputados estaduais da federação se reuniu nesta semana e anunciou apoio à pré-candidatura do emedebista. Oito dos 12 parlamentares participaram do encontro.

Há ainda uma ala na legenda que defende que o partido lance um nome próprio. Em entrevista ao jornal O Globo, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, se posicionou contra o apoio do PSDB a Nunes devido à associação com Bolsonaro — o prefeito esteve na manifestação a favor do ex-presidente no último domingo (25) e quer a participação dele na campanha. Em menor adesão, há ainda integrantes do partido que defendem o apoio à candidatura de Tabata.

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Em crise desde as eleições de 2022, o PSDB definiu nova composição do diretório estadual de SP, mas a escolha do presidente foi adiada por falta de consenso. A decisão sobre quem vai presidir a legenda é um fator crucial na definição da estratégia eleitoral da sigla na disputa pela Prefeitura de São Paulo. José Aníbal foi eleito presidente do diretório municipal.

Interlocutores do Cidadania afirmaram ao UOL que o entendimento interno é de que o apoio a Nunes "faz sentido". Eles citam como argumento o fato de a legenda fazer parte do governo —a secretária de Direitos Humanos da prefeitura é Soninha Francine, filiada ao Cidadania. Há integrantes do Cidadania, entretanto, que também defendem o apoio a Boulos.

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