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Teich assume 'meio Mandetta, meio Bolsonaro'; mortes por covid têm recorde

Jair Bolsonaro e o novo ministro da Saúde, Nelson Teich - Pedro Ladeira/Folhapress
Jair Bolsonaro e o novo ministro da Saúde, Nelson Teich Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Clarice Cardoso*

Do UOL, em São Paulo

18/04/2020 01h30

Em apenas um mês desde a confirmação da primeira morte causada pela covid-19, o Brasil ultrapassou a marca de 2.000 vidas perdidas pela pandemia do novo coronavírus. Em 24 horas, foram confirmados 217 óbitos, o maior valor registrado desde o início da crise. No total, são 33.682 casos oficiais no país segundo os dados mais recentes do Ministério, um aumento de 3.257 de anteontem para ontem.

Prometendo trazer um "lado humano" para a condução dessa crise, tomou posse o novo ministro da Saúde, Nelson Teich. Em seu discurso, voltou a reforçar que não fará mudanças bruscas na condução da pasta e diagnosticou uma população amedrontada pela pandemia.

No que depender de seu superior, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o novo chefe da Saúde terá de somar outras facetas à sua atuação: "Junte eu e o [ex-ministro Luiz Henrique Mandetta] e divida por dois. Tenho certeza que você vai chegar naquilo que interessa para todos nós", afirmou.

Preocupado em reiterar seu alinhamento com o presidente, Teich repetiu que "saúde e economia não competem, elas são completamente complementares".

Em seu primeiro dia no cargo, participou de reuniões com a equipe do Ministério da Saúde, acompanhado de perto pelo assessor de comunicação do Planalto, Samy Liberman. Ele também teve encontro com o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.

No mesmo dia em que anunciou que enfrentará a desinformação, o novo ministro evitou contato com a imprensa e desmarcou as entrevistas coletivas da pasta que aconteciam diariamente.

Mandetta sai popular e com apoio da OMS

A difícil missão de substituir um dos membros mais populares do governo federal até agora ficou explícita em pesquisa Datafolha divulgada ontem: a saída de Mandetta do cargo no meio da crise é reprovada por 64% dos brasileiros. Há um empate técnico entre aqueles que acham que a pasta deve piorar (36%) e melhorar (32%) com a troca.

Ao deixar o cargo, o ex-ministro evitou fazer menção direta aos atritos que teve até o momento com o presidente Jair Bolsonaro e se disse preocupado com o aumento de casos. "O mundo se dividirá em antes e depois do coronavírus. Todas as economias vão sofrer, as nossas vão sofrer, e muito nos preocupa a segunda onda."

Entre as muitas mensagens de apoio que recebeu, destacou-se a do chefe das operações da OMS (Organização Mundial da Saúde), Michael Ryan, que o agradeceu pelo serviço prestado à população brasileira.

"Sabemos que o presidente do Brasil trocou de ministro. É essencial, entretanto, que não só o Brasil, mas todos os governos, tomem decisões baseadas em evidências e tenham uma resposta do governo inteiro e da sociedade inteira ao responder à pandemia de Covid-19. Todos temos o dever de proteger nossas populações mais vulneráveis", afirmou Ryan.

Indiferente aos apelos da entidade, Bolsonaro contraria suas orientações desde o início da crise.

Em seu discurso ontem, voltou a falar sobre sua preocupação com a economia e incentivou a reabertura do comércio não essencial, indo na contramão de muitos prefeitos e governadores que adotaram medidas de restrição e com quem antagoniza. O presidente citou, sem esclarecer de onde tirara a informação, que metade dos prefeitos do país já desejariam a abertura do comércio.

"A história lá na frente vai nos julgar. Eu peço a Deus para que nós estejamos certos lá na frente. Então, essa briga de começar a abrir para o comércio é um risco que eu corro, porque, se agravar, vem para o meu colo."

Sinais de colapso nos estados

Enquanto o presidente investe em seu antagonismo com governadores e prefeitos, que têm autonomia para decidir sobre o isolamento social, segundo o STF (Supremo Tribunal Federal), o sistema público de saúde começa a dar sinais de colapso.

No Amazonas, sem ter onde acondicionar os mortos pela doença, o hospital João Lúcio, em Manaus, precisou contratar um contêiner refrigerado para colocar os pacientes que vieram a óbito.

Já o Ceará anunciou que já tem oficialmente fila de espera de pacientes com quadros graves de covid-19 por falta de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Ontem, 38 pessoas aguardavam vaga para internação em UTIs nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento). O estado já havia anunciado a compra de 15 mil túmulos para enterrar os mortos pela doença.

Antecipando a aceleração dos casos, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) prorrogou a prorrogação da quarentena até o dia 10 de maio. A preocupação é justamente com a sobrecarga dos hospitais.

Entre os esforços para conter a epidemia de coronavírus, prefeitos de cidades brasileiras, de Norte a Sul, têm publicados decretos em que obrigam ou recomendam todos os cidadãos a usar máscaras em ambientes públicos.

Há apenas um dia no cargo, Teich não se pronunciou sobre a situação nessas cidades nem fez declarações taxativas sobre como se posicionará em relação ao distanciamento social — que ele apoiou no passado, mas é rechaçada por seu novo chefe.

A resposta pode vir já neste domingo, quando ele terá sua primeira prova de fogo e participará de uma reunião com ministros da Saúde dos países do G20 e deve apresentar a posição do Brasil frente à pandemia.

*Colaborou Carolina Marins, do UOL, em São Paulo