Pandemia de covid-19 no Brasil: 14,8 mil mortes e duas trocas na Saúde
No dia em que o governo Bolsonaro completou 500 dias, mais um ministro caiu. Foi o nono ministro a sair desde o início do mandato de Jair Bolsonaro (sem partido), o segundo da pasta da Saúde — em meio a uma pandemia que já matou quase 15 mil pessoas no Brasil — e o terceiro no período de um mês. Com 28 dias no cargo, Nelson Teich pediu demissão após discordâncias com o presidente.
Enquanto a Presidência da República e o Ministério da Saúde travam batalhas políticas, as mortes e contaminações pelo novo coronavírus continuam a crescer rapidamente. Ontem, o país registrou mais de 218 mil casos confirmados e 14.817 mortes pela covid-19. Foram 15.305 novos casos em 24 horas, o maior número de novos diagnósticos em um único dia, batendo o recorde de 13.944 casos registrado no dia anterior.
O principal ponto de atrito entre o médico Teich e Bolsonaro foi em relação ao uso da cloroquina no tratamento da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. O presidente defende o uso do medicamento no início da doença e demitiu seu ministro anterior Luiz Henrique Mandetta justamente porque ele também via o medicamento com cautela.
O mesmo se repetiu com Teich, apesar de ter sido nomeado sob a justificativa de ser mais alinhado ao discurso do presidente. Entretanto, ao falar sobre o medicamento em seu discurso de posse, Teich já deu sinais de que não caminharia no sentido de apoio absoluto à posição de Bolsonaro.
Na última terça-feira (12), o então ministro da Saúde postou em seu Twitter pedindo cautela no uso do medicamento, devido aos seus efeitos colaterais. Um dia depois, Bolsonaro já falou a apoiadores que pediria à pasta para revisar a recomendação quanto à droga. Anteontem, Bolsonaro prometeu a empresários que o protocolo da cloroquina seria mudado.
Enquanto isso, o agora ex-ministro sofria reveses ao ver seu plano de isolamento social sendo rejeitado por estados e municípios e por se ver pressionado pelo presidente. Na quarta-feira, quando Teich deveria apresentar o plano em conjunto com as secretarias de saúde, a coletiva de imprensa do ministério foi cancelada. Anteontem, o ministro não participou da coletiva porque estava reunido com o presidente.
Ontem pela manhã, novamente ele se reuniu com Bolsonaro, momento no qual teria comunicado o seu desejo de deixar o cargo. Em seu discurso de saída no período da tarde, disse que optou por sair e elogiou estados e municípios.
"A vida é feita de escolhas e hoje eu escolhi sair. Dei o melhor de mim neste período. Não é simples estar à frente de um ministério como esse num momento difícil. Quero agradecer o meu time, que sempre trabalhou intensamente por esse país", declarou.
Teich enfatizou sua posição de que as secretarias de saúde deveriam ter poder equivalente ao do ministério. Com frequência, Bolsonaro tem entrado em confronto com estados e municípios devido ao isolamento social — ele é contra essa medida.
"A missão da Saúde é tripartite: envolve o ministério, o Conass [Conselho Nacional de Secretários de Saúde] e o Conasems [Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde]. Isso é uma coisa importante para se deixar claro. O ministério acha que [essa relação] é verdadeira e essencial para conduzir o país, tanto na parte estratégica quanto na execução. Aqui, eu realço a participação no ministério do Conass e do Conasens".
Já Bolsonaro disse haver consenso entre médicos com quem conversou sobre a eficácia do uso da cloroquina. Estudos recentes, no entanto, indicam que não há comprovação sobre a eficácia do medicamento. A não defesa da droga deixou Teich mal visto, inclusive entre apoiadores do presidente nas redes sociais, que já pediam a sua saída desde o início da semana.
Logo após a saída do ministro, o Ministério da Saúde começou a elaborar o protocolo que recomendará o uso da cloroquina e seu derivado hidroxicloroquina em pacientes em estágio inicial do novo coronavírus, no atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS).
"Foi um mês perdido"
Teich deixou o cargo 29 dias após seu antecessor Mandetta ter pedido demissão. Em entrevistas e pelas redes sociais, o ex-ministro lamentou o episódio.
"Foi um mês perdido, que jogaram fora no meio da epidemia", disse, em entrevista à Folha de S. Paulo."Eu pedi para a equipe permanecer para ajudar, e em um mês exoneraram praticamente todo mundo e não nomearam os novos. E agora ele sai?".
"Talvez ele [Bolsonaro] deva colocar lá uma pessoa que não seja médica, que não tenha muito compromisso e possa acelerar o que ele quer, porque fica difícil para um médico passar por cima de princípios básicos da ciência", acrescentou.
Dois nomes atualmente são cotados para substituir Teich no Ministério da Saúde. Um de fato não é médico, como disse Mandetta; o outro é o de uma médica defensora da cloroquina.
Cotados para o Ministério
O primeiro nome a ser levantado por membros do governo foi o do general Eduardo Pazuello, que assume a pasta a partir de agora interinamente. Com fama de "fazer acontecer", o general agrada a ala militar do governo.
Formado pela Academia Militar das Agulhas Negras, em 1984, o general prestou serviços ao governo desde a época do ex-presidente Michel Temer, quando, em fevereiro de 2018, assumiu a coordenação da Operação Acolhida, que cuida de refugiados da Venezuela em Roraima. Ele não tem experiência em saúde pública, mas em logística.
O segundo candidato é a médica oncologista e imunologista Nise Yamagushi, que se reuniu com Bolsonaro horas antes da demissão de Teich. Ela já se posicionou a favor de dosagens de cloroquina mais baixas do que aquelas que vinham sendo aplicadas em hospitais.
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