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À beira do colapso, Sul vê explosão de mortes por covid-19 devido ao verão

Axel Heimken/dpa/Pool/dpa/AFP
Imagem: Axel Heimken/dpa/Pool/dpa/AFP

Carolina Marins

Do UOL, em São Paulo

27/02/2021 04h00

O Brasil passa pelos dias mais letais desde o início da pandemia. Além do novo recorde de mortes em apenas um dia no país, estados assistem a uma explosão de óbitos nas semanas após as festas e as praias cheias no verão. Segundo levantamento feito pelo UOL, ao menos 16 estados tiveram salto na média móvel de mortes. O Sul é a região de maior alerta.

Toda a região vê uma aceleração na média móvel de mortes, considerada a mais adequada para se observar o comportamento dos óbitos no período de uma semana. Até a última sexta-feira (26), os três estados da região registravam as seguintes médias:

  • Paraná: 68 óbitos
  • Rio Grande do Sul: 80 óbitos
  • Santa Catarina: 50 óbitos

Há duas semanas:

  • Paraná: 50 óbitos
  • Rio Grande do Sul: 53 óbitos
  • Santa Catarina: 29 óbitos

São aumentos de 31%, 51% e 70%, respectivamente. A região como um todo registrava uma aceleração de 50% até sexta-feira.

Os três estados veem um aumento no número de óbitos desde novembro de 2020, mas na semana de 14 de fevereiro houve um salto na média móvel de mortes. O Paraná, inclusive, tem apresentado constantes repiques, já registrados em 16 de dezembro, 14 de janeiro e 29 de janeiro.

Já o Rio Grande do Sul superou seus recordes na média de mortes da primeira onda em dezembro, quando os números oscilavam entre os 60 óbitos, mas nos últimos dias os dados já se aproximavam de 80 óbitos em média. Santa Catarina também teve um salto no fim de dezembro e agora em fevereiro vê sua curva subir novamente.

Não à toa, os três estados decretaram medidas mais restritivas de controle da pandemia. O governo do Paraná decretou lockdown até 8 de março, além de impor um toque de recolher noturno. Santa Catarina optou por um lockdown mais curto, apenas no fim de semana. No Rio Grande do Sul, todo o estado entrou em bandeira preta, a mais restritiva.

Além do aumento nos números de casos e óbitos, os governos estaduais consideraram aumentar as restrições devido à ocupação dos leitos hospitalares, que estão muito próximos de colapsar.

Reflexo do verão e falta de políticas mais rígidas

Além dos três estados do Sul, outros 13 notam aumentar a sua média móvel de mortes. Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima e São Paulo também tiveram um salto.

O caso mais dramático é o do Amazonas, que já chegou a registrar uma média móvel duas vezes maior do que o pico da primeira onda. Agora, finalmente em queda após um novo colapso em seu sistema de saúde, o estado ainda tem números acima do pico da primeira onda.

Minas Gerais também começa a indicar em sua curva uma subida intensa na média de mortes. Embora apresente estabilidade, os óbitos estacionaram acima de 100 por dia.

Além disso, como destacou a Folha, ao menos sete estados já superaram o pico de mortes da primeira onda de meados de julho.

Todos eles apresentaram um comportamento semelhante: vinham em queda desde o primeiro pico da doença no país, até que em novembro começou uma subida na curva de mortos. A partir de então, ocorreram pequenos saltos perto das festas de Natal e Ano-Novo, no fim de janeiro e novamente agora, exatamente duas semanas após o feriado de Carnaval.

Para explicar o início da subida das mortes a partir de novembro, o professor de medicina social da FMUSP-Ribeirão Domingos Alves chama a atenção para os feriados que antecedem a subida da curva. "As viagens de verão começam nesses feriados de outubro e novembro. Isso contribuiu bastante. Depois vieram as festas e o Carnaval", diz.

Mas o que contribuiu muito para esse aumento [de casos] que estamos observando agora são as férias de janeiro até o Carnaval, em que várias pessoas estavam extensivamente participando de festas e aglomerações.
Domingos Alves, professor de medicina Social da FMUSP-Ribeirão

Segundo o pesquisador, também faltou por parte de prefeitos e governadores a aplicação de medidas para conter a circulação. "Em plena expansão da cepa de Manaus, todo mundo estava viajando pelo Brasil e não houve nenhuma medida sanitária restritiva dessas viagens."

O Carnaval é responsável, mas eu atribuo grande parte da responsabilidade à falta de planejamento e de tentativa de controle dos pouco mais 5.000 prefeitos que nós temos no Brasil hoje e dos governadores.
Domingos Alves, professor de medicina Social da FMUSP-Ribeirão