Jornal dos EUA relata que funcionários da Vale e inspetores sabiam do perigo em Brumadinho
O site do Wall Street Journal publicou na noite de ontem (24) artigo que relata que funcionários da Vale e auditores de uma empresa contratada pela companhia "sabiam por meses das condições perigosas" da barragem da mina do Córrego do Feijão em Brumadinho (MG) que se rompeu no dia 25 de janeiro. Até o momento, o desastre deixou 179 mortos e 133 desaparecidos.
Segundo a reportagem, os auditores que certificaram a barragem como segura expressaram "preocupação sobre perda de contratos com a Vale", de acordo com a polícia, procuradores estaduais, documentos em poder da Justiça, mandados de prisão e relatos de pessoas familiarizadas com o assunto. O artigo é assinado por Patricia Kowsmann, Samantha Pearson, Scott Patterson e Luciana Magalhães.
O Wall Street Journal destaca que promotores que investigam a causa do colapso da barragem em Brumadinho - que completa um mês hoje - têm um foco especial sobre o "relacionamento próximo" entre a Vale e a TÜV SÜD, empresa alemã de certificações contratada para conduzir auditorias sobre a segurança da estrutura. "As regras de segurança em minas no Brasil são especialmente frouxas", ressalta o jornal americano.
Segundo o artigo, "funcionários da TÜV SÜD expressaram preocupações sobre a segurança da barragem em e-mails e relatórios para a Vale. Auditores, no entanto, continuaram a assinar as auditorias de segurança".
O jornal também informou que, durante auditorias realizadas entre junho e setembro, Makoto Namba, engenheiro da TÜV SÜD, e outros inspetores encontraram evidências indicando condições "potencialmente arriscadas" na barragem. "Tudo sugere que (a barragem) não irá passar", escreveu Namba em maio de 2018, referindo-se a um teste de segurança. O relato está em um e-mail citado por um juiz que autorizou ordens de prisão relativas ao caso.
"O senhor Namba, 62 anos de idade, mais tarde disse à polícia que sentiu-se pressionado por uma executivo da Vale para assinar um certificado de segurança", relata o Wall Street Journal. "Sem a sua assinatura, a Vale teria que parar as operações da mina."
A reportagem ressalta que Namba e outros inspetores tinham preocupações de que a Vale poderia suspender o contrato com a firma alemã de certificações se não atestasse a favor das condições da barragem, de acordo com testemunho à polícia e e-mails citados por promotores. "A TÜV SÜD irá assinar a declaração de segurança ou não?", questionou Alexandre Campanha, executivo da Vale, em reunião, segundo relato de Namba à polícia. No dia 26 de setembro, o engenheiro assinou o certificado.
O artigo destaca que a polícia fez buscas e apreensão em escritórios da Vale e da TÜV SÜD e prendeu 13 funcionários das duas companhias, entre eles Namba e Campanha. Oito empregados da mineradora continuam detidos por suspeita de participação em assassinatos.
Um porta-voz da Vale destacou ao Wall Street Journal que a companhia acredita na conduta de seus prestadores de serviços contratados e nos seus funcionários. "A Vale é comprometida com a segurança de suas estruturas e tem um sistema estruturado para administrar as barragens que incluem diversas ações técnicas e de governança."
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