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Brasil patina em metas 6 meses após a COP26

Ministro do Meio Ambiente do Brasil, Joaquim Alvaro Pereira Leite, na COP 26 - Yver Herman/Reuters
Ministro do Meio Ambiente do Brasil, Joaquim Alvaro Pereira Leite, na COP 26 Imagem: Yver Herman/Reuters

Emílio Sant'Anna

São Paulo

05/06/2022 08h05Atualizada em 05/06/2022 10h31

Seis meses após a Cúpula do Clima (COP-26), os principais compromissos assumidos pelo Brasil em Glasgow ainda estão, em sua maioria, apenas no papel. Com o desmatamento e as emissões de gases do efeito estufa em alta, o País se aproxima da 27.ª edição, em novembro, no Egito, sem ter o que mostrar nos dois mais importantes pontos do acordo.

Na Escócia, o Brasil assinou acordos para zerar o desmatamento ilegal até 2028, reflorestar 18 milhões de hectares até 2030, reduzir emissões de metano e recuperar 30 milhões de hectares de pastagens.

Além disso, se comprometeu a cortar pela metade gases de efeito estufa até 2030, atingir a neutralidade climática (saldo zero entre emissões e absorções de carbono) em 2050 e a ter, em 2030, de 45% a 50% de suas fontes de energia renováveis.

Os esforços são mundiais e tentam conter o aquecimento em 1,5º acima dos níveis pré-industriais.

"A sociedade sabe quais são os elementos centrais desse debate e sabe como lidar, mas não está conseguindo implementar. Isso vale para a agenda da COP", diz Roberto Waack, presidente do conselho do Instituto Arapyaú e um dos fundadores do grupo Uma Concertação pela Amazônia, que reúne mais de 400 empresários, economistas, pesquisadores e políticos.

Alguns compromissos, como a redução na emissão de metano, tomam forma. Outros, como o fim do desmatamento ilegal, não aparecem no horizonte. Há avanços como o decreto para o mercado regulado de carbono e as metas de emissão setoriais.

O Brasil se comprometeu a zerar a derrubada ilegal das florestas até 2028. No entanto, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em abril, pela primeira vez para o mês, o desmate na Amazônia ficou acima de mil km2, área equivalente a mais de 140 mil campos de futebol.

O País teve em 2020 um aumento de 9,5% nas emissões de gases do efeito estufa em relação a 2019. A tendência mundial no mesmo ano foi de queda de 7%. Os dados são do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima.

Após pressão dos EUA, o Brasil aderiu ao Compromisso Global de Metano. O documento prevê reduzir as emissões do gás em 30% até 2030, ante os níveis de 2020.

Até 2030, 18 milhões de hectares precisam ser reflorestados. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a área estimada de florestas plantadas totalizou, em 2020, 9,3 milhões de hectares. Ou seja, nos próximos oito anos o País precisa dobrar esse número. Para a ex-ministra Izabella Teixeira, o momento é de implementação de ações e não de formulação de planos.

O Brasil empenhou sua palavra em recuperar 30 milhões de hectares de pastagens. Entre 2010 e 2018 houve redução de 26,8 milhões de hectares degradados, de um total de 170 milhões de hectares no País, de acordo com a Universidade Federal de Goiás (UFG).

Por fim, a transição energética é considerada uma das áreas de maior potencial para o País. A maior parte da energia elétrica brasileira vem de hidrelétricas. Neste ano, apesar da pequena participação na matriz energética, o presidente Jair Bolsonaro prorrogou até 2040 a contratação de energia de uma usina a carvão em Santa Catarina. A medida gerou críticas de especialistas.

Segundo o Ministério de Minas e Energia, a pasta tem implementado ações de descarbonização das matrizes energéticas, como leilões para a expansão do sistema elétrico, o Programa Combustível do Futuro e o marco para energia eólica offshore.

Já o Ministério da Agricultura afirma que o Plano ABC + tem como meta mitigar 1,1 bilhão de toneladas de carbono equivalente até 2030. Procurado, o Ministério do Meio Ambiente não respondeu.