Em tribunal, Tony Blair é chamado de "criminoso de guerra" e nega favorecimento a Murdoch
O ex-primeiro ministro britânico Tony Blair presta depoimento nesta segunda-feira, na Corte Real de Justiça, em Londres, na comissão Leveson. O grupo investiga os casos de escutas telefônicas ilegais nos jornais do grupo News Corp, de propriedade do magnata Rupert Murdoch.
Durante o depoimento, Blair negou qualquer favorecimento aos interesses de Murdoch durante seu governo e ainda foi chamado de "criminoso de guerra" por um homem que invadiu o tribunal.
O ex-premiê britânico ainda disse que tomou uma “decisão estratégica” para lidar com a imprensa durante seus anos no poder e que não estava disposto a arriscar ofender os grandes grupos de mídia.
"Se você é um líder político e você tem grupos de mídia muito poderosos e se desentende com um desses grupos, as consequências são tais que você... está efetivamente impedido de espalhar a sua mensagem", disse o ex-premiê. "E nós podemos discutir sobre se isso era certo ou errado mais para frente, mas essa foi a decisão que tomei", completou ele.
“Na verdade nós decidimos coisas que mais prejudicaram do que ajudaram Murdoch. A pressão do lado dele vinha mais na política do que na área comercial”, disse Blair, segundo a rede CNN.
“Você [como primeiro-ministro] está em uma posição na qual tem que lidar com pessoas muito poderosas. Se eles estão contra você, eles estão todos lá fora contra você”, completou o ex-premiê britânico.
Blair responde a perguntas sobre sua relação com Murdoch durante seus dez anos à frente do governo, entre 1997 e 2007. O ex-premiê e Murdoch tiveram uma relação estreita desde o apoio do empresário ao Trabalhismo nas eleições de 1997, que encerraram os 18 anos de governos conservadores no Reino Unido.
Após duas horas do início do depoimento, um homem invadiu o tribunal aos gritos, acusando Blair de ser um "criminoso de guerra" por ter coordenado a invasão do Iraque, em 2003. Os policiais tiveram que retirar o homem do tribunal com o uso da força.
A identidade do invasor não foi revelada. Enquanto o ex-primeiro-ministro testemunhava, dezenas de ativistas se reuniram nas portas do tribunal com cartazes nas quais se liam mensagens que criticavam Blair e pediam a volta das tropas britânicas do Afeganistão.
Outros depoimentos
Na terça, também vão testemunhar os ministros de Educação, Michael Grove, e do Interior, Theresa May. Na quarta, será a vez do ministro da Justiça, Kenneth Clarke, e o de Empresa, o liberal democrata Vince Cabo, afastado por Cameron da operação para avaliar a aquisição da BSkyB por Murdoch, após ter criticado o empresário.
Na quinta-feira é a vez do ministro da Cultura, Jeremy Hunt. O político é centro de uma polêmica por causa de seu papel no processo para a venda da totalidade da plataforma digital de televisão "BSkyB" para Murdoch. Segundo alguns documentos da comissão, Hunt apoiava os planos do magnata de adquirir no ano passado toda a BSkyB (sobre a qual já possui 39%).
A comissão Leveson analisa os padrões éticos do jornalismo britânico após o escândalo das escutas ilegais do extinto "News of the World", propriedade de Rupert Murdoch. O jornal, que foi fechado em julho 2011, foi o pivô central de uma grande polêmica em 2011, quando foi revelado que o tabloide grampeava os celulares de ricos e famosos, além de vítimas de terrorismo e integrantes das forças armadas.
A Polícia de Londres continua investigando o caso dos "grampos" ilegais e também os supostos subornos de policiais para obter notícias exclusivas. Depois que esta conduta se tornou pública, dezenas de empregados do "News of the World" foram presos por causa das escutas, assim como 11 jornalistas do "The Sun", também de Murdoch, que foram presos por subornarem policiais. (Com agências internacionais)
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