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'Veterano das revoluções' usa tablet para filmar protestos na Turquia

O cineasta egípcio Anwar Momen Khalil, 24, veterano dos protestos no Egito, registra os acontecimentos em Istambul, na Turquia, com seu iPad para fazer um documentário no futuro - Leandro Prazeres/UOL
O cineasta egípcio Anwar Momen Khalil, 24, veterano dos protestos no Egito, registra os acontecimentos em Istambul, na Turquia, com seu iPad para fazer um documentário no futuro Imagem: Leandro Prazeres/UOL

Leandro Prazeres

Do UOL, em Istambul

18/06/2013 06h00

Enquanto boa parte dos moradores de Istambul parecia assustada com as manifestações que marcaram as últimas semanas na Turquia, ao menos uma pessoa se mantinha relativamente tranquila.

O cineasta egípcio Anwar Momen Khalil, 24,  já é "veterano" em matéria de revolução no mundo islâmico. Ele estava entre os manifestantes presos durante os protestos na praça Tahir, no Cairo, que resultaram na deposição do ditador Hosni Mubarak, em 2011, quando foi preso. "Não apenas eu, mas vários amigos foram presos. Os guardas vinham em turnos para nos bater. Não havia sido a primeira vez que eu tinha sido preso por motivos políticos. Minha primeira detenção por manifestações foi quando eu tinha 17 anos”, afirmou.

Na época, após uma mobilização via internet, milhares de jovens se reuniram para protestar contra o governo. Houve confronto com a polícia e no dia 11 de fevereiro, após 30 anos no poder, Mubarak foi deposto.

Na Turquia, as manifestações começaram no dia 31 de maio. Khalil caiu no meio dos protestos durante os quais já morreram ao menos cinco pessoas durante os confrontos entre estudantes e a polícia. 

O cineasta estava numa viagem por países do continente africano e europeu quando as manifestações em Istambul começaram. “Eu tinha chegado aqui havia alguns dias e estava apenas aproveitando a cidade. De repente, o clima mudou. Alguns colegas começaram a me falar que os estudantes haviam tomado a praça. Quando eu cheguei lá, vi que era tudo muito parecido com as manifestações do Egito”, disse.

Os manifestantes são contra a construção de um shopping center e de um prédio no estilo otomano na área em que hoje existe o parque Gezi, uma das últimas áreas verdes de Istambul. Após conflitos com a polícia, o movimento cresceu e vários grupos insatisfeitos com o regime do primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, foram às ruas protestar.

Khalil foi pego de surpresa, mas não deixou de registrar os acontecimentos com seu iPad, já que pretende fazer um documentário sobre sua segunda experiência com revoltas contra governos no mundo islâmico. Os protestos no Egito resultaram em um documentário exibido em mostras de cinema alternativo no seu país natal e na França.
 

'O povo perdeu o medo'

Para Khalil, existem muitas diferenças entre as manifestações no Egito e na Turquia, mas há algumas coisas em comum.  “A primeira é que o povo perdeu o medo. Hoje, as pessoas não têm mais medo de protestar contra os governos. Os exemplos dos países vizinhos estão incentivando os turcos", conta.

"A segunda coisa é que os jovens estão encabeçando as manifestações independentemente de partidos políticos. São os políticos que estão seguindo os jovens, e não o contrário”, analisa.

O cineasta diz que, ainda que os manifestantes desocupem o parque Gezi, o governo turco deverá ficar atento. “A coisa toda em torno do parque foi apenas um gatilho. Pelo que a gente percebeu, assim como no Egito, há muito descontentamento contra o primeiro-ministro. Essas manifestações são apenas um sinal do que pode acontecer se ele não mudar sua conduta”, afirmou Anwar.