Topo

Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Guerra faz 3 meses marcada por resistência; Rússia prolonga nível de ameaça

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

24/05/2022 05h40Atualizada em 24/05/2022 10h59

A guerra da Rússia na Ucrânia completa hoje três meses com ataques constantes ao território ucraniano, principalmente no leste. "Que outro país resistiu a tantos ataques?", questionou, no pronunciamento noturno de ontem, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, citando que o país foi alvo de "mais de 3.000 ataques aéreos de aeronaves e helicópteros russos" desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.

Zelensky disse acreditar que "as próximas semanas da guerra serão difíceis", indicando que os russos não vão desistir de áreas ocupadas e que "eles estão tentando reforçar suas posições". "No entanto, não temos alternativa a não ser lutar. Lutar e vencer. Libertar nossa terra e nosso povo. Porque os ocupantes querem nos tirar não apenas algo, mas tudo o que temos. Incluindo o direito à vida para os ucranianos."

O ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, disse hoje que o "ritmo da ofensiva" russa teria diminuído em razão de corredores humanitários e "regimes de silêncio" em algumas áreas no território ucraniano. "É claro que isso diminui o ritmo da ofensiva, mas isso é feito deliberadamente para evitar baixas civis."

Hoje, 90º dia da guerra, o governo da região russa de Kursk, que faz fronteira com a Ucrânia, prolongou por mais duas semanas o nível amarelo de ameaça terrorista, até 8 de junho. "Isso ajudará nossos serviços especiais a manter o povo de Kursk seguro", disse o governador Roman Starovoit. Na semana passada, houve um ataque perto da fronteira. A área está neste nível de ameaça —são três, no total— desde 11 de abril.

A região ucraniana de Sumy, no nordeste do país e próxima a Kursk, sofreu novos ataques, com a cidade de Bilopillia sendo atingida. Autoridades ucranianas também relataram ataques em pontos das regiões de Kharkiv, Lugansk, Donetsk, no leste, e Mykolaiv, no sudeste.

shoigu - Ministério da Defesa da Rússia - Ministério da Defesa da Rússia
O ministro russo da Defesa, Sergei Shoigu, faz pronunciamento durante reunião da OTSC (Organização do Tratado de Segurança Coletiva), que reúne aliados da Rússia
Imagem: Ministério da Defesa da Rússia

Resistência

A inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido disse, em informe divulgado hoje, que "tem havido forte resistência ucraniana com forças ocupando posições defensivas bem entrincheiradas". Os britânicos, aliados dos ucranianos, também avaliaram que a "Rússia aumentou a intensidade de suas operações no Donbass [área com separatistas no leste], uma vez que procura cercar Sievierodonetsk, Lyschansk e Rubizhne".

Segundo o Reino Unido, a captura de Sievierodonetsk colocaria toda a região de Lugansk sob ocupação russa. "Embora atualmente seja o principal esforço da Rússia, esta operação é apenas uma parte da campanha da Rússia para capturar o Donbass".

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

MiG-29 abatido

O Ministério da Defesa da Rússia disse que suas forças derrubaram um caça MiG-29, do exército ucraniano, na região de Kramatorsk, no leste da Ucrânia. A informação não foi confirmada pelo Ministério da Defesa da Ucrânia.

A Defesa russa disse ainda ter realizado ataques com "mísseis de alta precisão lançados do ar" que atingiram postos de comando e áreas de depósito de equipamentos militares da Ucrânia, como um armazém com munição para obuses dos Estados Unidos. Ao comentar sobre a guerra, Shoigu, ministro russo da Defesa, voltou a dizer hoje que a Rússia foi "forçada" a agir na Ucrânia pela proteção dos pró-russos e a desmilitarização do vizinho.

Em seu relatório de hoje, a Defesa ucraniana disse que "o inimigo não para de realizar operações ofensivas na Zona Operacional Leste". "A maior atividade de hostilidades é observada no distrito operacional de Donetsk."

Ameaças

Na região de Belarus, país vizinho e aliado da Rússia, a Ucrânia disse ter observado a presença de um sistema móvel de lançamento de mísseis a 50 quilômetros da fronteira. "A ameaça de mísseis e ataques aéreos contra os objetos de nosso Estado a partir do território da República de Belarus está crescendo", disse o Ministério da Defesa da Ucrânia.

Os ucranianos também relataram que a Rússia "continua a tomar medidas para fortalecer a cobertura da fronteira ucraniana-russa nas regiões de Bryansk e Kursk e impedir a transferência de nossas tropas para outras direções".

Segundo a Defesa ucraniana, "o inimigo continua a usar táticas de terror contra a população civil nos territórios ocupados, e a situação socioeconômica no sul e leste da Ucrânia continua a se deteriorar".

Para Zelensky, "a situação de luta mais difícil hoje é no Donbass", mencionando as cidades de Bakhmut, Popasna, Sievierodonetsk. "Nessa direção, os ocupantes concentraram a maior atividade até agora. Eles organizaram um massacre lá e estão tentando destruir tudo que vive lá. Literalmente. Ninguém destruiu Donbass tanto quanto o exército russo faz agora."

A Rússia anunciou que o leste ucraniano seria o foco da guerra em 29 de março, quando passou a reduzir radicalmente as atividades militares em áreas próximas a Kiev —os russos não conseguiram tomar a capital ucraniana. A lentidão no avanço pelo leste ucraniano mostra as dificuldades do exército russo impostas pela resistência ucraniana.

Em seu pronunciamento de ontem, o presidente ucraniano ainda reforçou seu pedido por mais armas a países aliados. Na visão de Zelensky, "muitas pessoas não teriam morrido se tivéssemos recebido todas as armas que estamos pedindo". "Todos os nossos parceiros concordam que a luta da Ucrânia na guerra contra a Rússia é a proteção dos valores comuns de todos os países do mundo livre. Nossa liberdade comum. E, se assim for, então temos o direito de contar com assistência total e urgente, especialmente armas."

metrô - Reprodução/Facebook/SPRAVDI - Reprodução/Facebook/SPRAVDI
A operação do metrô voltou hoje em Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia
Imagem: Reprodução/Facebook/SPRAVDI

Metrô de volta

O metrô voltou a operar hoje na cidade de Kharkiv, que fica em região homônima no leste do país. O serviço estava interrompido na segunda maior cidade da Ucrânia desde o início da invasão russa.

"Nos primeiros dias de operação do metrô, os trens passarão em intervalos de meia hora", disse ontem o prefeito de Kharkiv, Ihor Terekhov. Nesta primeira semana de retomada das operações, a passagem é gratuita.

"Tenho certeza de que a volta do metrô ajudará a normalizar a vida de Kharkiv o mais rápido possível", comentou o prefeito. Quando fechadas, as estações serviam de abrigo para civis contra ataques russos.

otan - Fabrice Coffrini/AFP - Fabrice Coffrini/AFP
Stoltenberg em pronunciamento no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça
Imagem: Fabrice Coffrini/AFP

Otan

Em discurso no Fórum Econômico Mundial hoje, o secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Jens Stoltenberg, indicou que o aumento das forças em suas fronteiras do leste não é para provocar um conflito, mas para evitar um, tentando se proteger de atos "mal calculados" de Moscou, citando o presidente russo, Vladimir Putin.

"Ele queria menos Otan em suas fronteiras e começou uma guerra. Agora, ele terá mais Otan em suas fronteiras, e mais membros", disse o secretário-geral.

Segundo Stoltenberg, as candidaturas de Finlândia e Suécia para ingressar na Otan são um ponto histórico e que a segurança europeia não será "ditada por violência e intimidação". O secretário-geral da Otan mencionou que os membros da aliança concordam que a ampliação do grupo de membros permitiu espalhar a "liberdade e a democracia" pela Europa.

Amanhã, delegações de Finlândia e Suécia estarão na Turquia para falar sobre a entrada na aliança militar; o governo turco tem se mostrado contra.

"A guerra na Ucrânia demonstra como relações econômicas com regimes autoritários podem criar vulnerabilidades", disse Stoltenberg, falando que essa tese vale não só para a Rússia, mas também para a China, "outro regime autoritário". "Devemos reconhecer que nossas escolhas econômicas têm consequências para nossa segurança."