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Supremo retoma julgamento do mensalão com voto de Rosa Weber

Camila Campanerut

Do UOL, em Brasília

27/08/2012 14h28Atualizada em 27/08/2012 14h37

O julgamento do mensalão foi retomado nesta segunda-feira (27) no Supremo Tribunal Federal (STF) com o voto da ministra Rosa Weber a respeito dos réus João Paulo Cunha (deputado federal do PT), Marcos Valério (publicitário, apontado como o operador do mensalão), Cristiano Paz, Ramon Hollberbach (ambos ex-sócios de Valério) e Henrique Pizzolato (ex-diretor do Banco do Brasil). 

O julgamento, que começou em 2 de agosto, completa hoje sua 15ª sessão plenária. Havia a expectativa do ministro-relator, Joaquim Barbosa, rebater no início da sessão o voto do ministro-revisor, Ricardo Lewandowski, conforme afirmou na semana passada. A réplica, entretanto, não aconteceu.

Na última quinta-feira (23), Lewandowski votou pela absolvição do deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), de Marcos Valério e seus ex-sócios, Ramon Hollerbach e Cristiano Paz, configurando a primeira divergência em relação a Barbosa. 

Depois de Lewandowski encerrar seu voto, Barbosa disse: “todas as respostas às dúvidas se encontram respondidas no meu próprio voto. Eu deixo de apontá-las neste momento devido ao adiantado da hora. Eu me reservo para trazer essas respostas (...) na segunda-feira [hoje]”.

A fala provocou reação do revisor, que pediu direito à tréplica caso o relator fizesse uma réplica a seu voto.

Os dois ministros já apresentaram seus primeiros votos seguindo o formato “fatiado”. A metodologia –escolhida pelo relator e que deve ser seguida por seus colegas– segue os capítulos usados na denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República.

Cada capítulo contém blocos de crimes referentes aos 37 réus do caso. Após relator e revisor votarem sobre determinado capítulo, os outros nove ministros da Corte falam, até esgotar o assunto. Depois, a palavra volta para o relator.

O principal ponto que deveria ser abordado por Barbosa é a forma como agia o grupo de publicitários em relação aos contratos firmados tanto com a Câmara dos Deputados quanto com o Banco do Brasil. Para a Procuradoria, o dinheiro público desviado pelos contratos abastecia o “valerioduto” do mensalão.

Para o relator, os réus agiam da mesma forma tanto na Câmara quanto no banco, com desvio de recursos e pagamento a intermediários em troca de favorecimento –no caso, João Paulo Cunha na Câmara e Henrique Pizzolato no Banco do Brasil. Já no entendimento do revisor, os crimes ficaram comprovados no Banco do Brasil, mas não na Câmara.

Barbosa acredita que os R$ 50 mil recebidos por Cunha da agência de Valério após a assinatura de um contrato de R$ 11 milhões entre a Câmara e a SMP&B foi um “claro favorecimento privado” em benefício próprio.

Já o revisor acolheu a versão de que o dinheiro foi recebido para pagar uma pesquisa eleitoral em municípios da região metropolitana de São Paulo.

Além de Barbosa e Lewandowski, os demais ministros ainda precisam apresentar seus votos. Eles serão lidos de acordo com a ordem crescente da entrada dos ministros na Suprema Corte, da seguinte forma: Rosa Weber, Luiz Fux, Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Cezar Peluso, Gilmar Mendes, Marco Aurélio, Celso de Mello e Carlos Ayres Britto –que, como presidente do STF, é sempre o último a votar. 

Os ministros não têm limite de tempo para falar, sendo assim, não há previsão para o fim do julgamento, que é o maior da história do STF.


Voto de Peluso

A maior dúvida paira sobre o ministro Cezar Peluso, que está a uma semana de completar 70 anos –no próximo dia 3 de setembro–, quando será obrigado a se aposentar. Com isso, sua participação no julgamento do mensalão termina na sessão plenária do dia 30 de agosto, na próxima quinta-feira. O magistrado poderá pedir para antecipar seu voto, mas não adiantou se fará isso.

Na última sexta-feira, questionado sobre a questão, ele se limitou a responder: “vocês verão na hora oportuna”.  Se continuar seguindo a regra de votar por capítulos, Peluso pode deixar a Corte com o voto pela metade.

A saída de Peluso não afetará o curso do processo, explicam especialistas ouvidos pelo UOL. Pelo regimento interno do STF, o quórum mínimo para votações em plenário é de seis ministros. Contudo, com apenas dez integrantes, existe o risco de empate –o que, a princípio, favorece os réus.

Mesmo que haja a nomeação de alguém para a vaga, esse novo ministro não poderá julgar o processo do mensalão por não ter participado das outras fases.

A escolha de um novo ministro fica a cargo exclusivamente da presidente Dilma Rousseff, que não tem um prazo delimitado para fazê-lo. Segundo a Constituição, ela pode escolher quem ela quiser desde que a pessoa tenha mais de 35 anos e possua “notório saber jurídico”. Depois, o nome precisa ser aprovado pela maioria absoluta do plenário do Senado –este procedimento, porém, é considerado uma mera formalidade.

Entenda o dia a dia do julgamento

Entenda o mensalão

O caso do mensalão, denunciado em 2005, foi o maior escândalo do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. O processo tem 38 réus --um deles, contudo, foi excluído do julgamento no STF, o que fez o número cair para 37-- e entre eles há membros da alta cúpula do PT, como o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil). No total, são acusados 14 políticos, entre ex-ministros, dirigentes de partido e antigos e atuais deputados federais.

O grupo é acusado de ter mantido um suposto esquema de desvio de verba pública e pagamento de propina a parlamentares em troca de apoio ao governo Lula. O esquema seria operado pelo empresário Marcos Valério, que tinha contratos de publicidade com o governo federal e usaria suas empresas para desviar recursos dos cofres públicos. Segundo a Procuradoria, o Banco Rural alimentou o esquema com empréstimos fraudulentos.

O tribunal vai analisar acusações relacionadas a sete crimes diferentes: formação de quadrilha, lavagem ou ocultação de dinheiro, corrupção ativa, corrupção passiva, peculato, evasão de divisas e gestão fraudulenta.