Perícia usou água Perrier para 'encontrar' resíduos de tiro na mão de Suzana, diz perito
O perito criminal Domingos Tochetto prestou depoimento nesta quinta-feira (9), na abertura do quarto dia do julgamento dos acusados da morte do empresário Paulo César Farias e sua namorada, Suzana Marcolino, em junho de 1996.
Tochetto disse que a primeira perícia que apontou para homicídio seguido de suicídio usou água mineral (Perrier), em vez de água destilada, o que alterou a composição de elementos químicos encontrados nas mãos das vítimas. Ele é integrante da segunda perícia, que defende a tese de duplo homicídio.
Dia a dia do julgamento
Para Tochetto, houve falha na análise de resíduos, feita inicialmente pela perícia em Alagoas. “Uma das primeiras providências minhas foi saber como foi feito o exame de resíduos. Perguntamos que líquido teriam usado, e a resposta foi água mineral Perrier, usada para embeber os resíduos. O certo seria água destilada, mas eles alegaram que não tinham.”
O perito da Unicamp --convocado pela Justiça para fazer uma segunda perícia-- garantiu que os exames feitos posteriormente, pela segunda equipe de perícia, não apontaram para existência de partículas metálicas oriundas de tiro. A conclusão é de que Suzana não teria atirado naquela madrugada.
“A perícia inicial apontou para existência de nitritos, mas que são de qualquer natureza, não necessariamente de tiros”, disse Tochetto.
“O fato de ter dado positivo para nitrito não significa que é da combustão da pólvora. A confirmação de pólvora vem com o exame de resíduos metálicos, que são produzidos de tiros, da detonação da espoleta”, informou. O perito ainda disse que os resíduos produzidos pelo tiro são chumbo, bário e antimônio. “Mesmo lavando a pele, essas partículas metálicas permanecem por longo tempo."
Segundo Tochetto, o fato de usar água mineral Perrier fez com que elementos químicos foram encontrados. “Dos quatro elementos metálicos, três estão presentes na composição da água mineral Perrier. Curiosamente, os elementos foram encontrados na mão de PC Farias. Só que nenhum desses quatro elementos faz parte de tiro.”
O perito ainda disse que não foram encontradas impressões digitais na arma achada na cena do crime, o que reforça a tese de que Suzana foi assassinada. Tochetto afirmou que realizou uma simulação durante as investigações que comprovariam sua tese. “Nós fizemos 20 testes com pessoas. Existiam impressões digitais, e em todas encontramos fragmentos que possibilitariam um exame de confronto”, disse.
Outro ponto questionado por Tochetto na primeira perícia foi a falta de marcas de sangue nas mãos e na suposta arma do crime. Durante a apresentação aos jurados, ele pediu uma arma ao juiz Maurício Brêda e fez uma demonstração da suposta posição do suicídio.
“Deu para ver que há um tempo da arma para ela recuar após o disparo. Por que não apareceu sangue na arma ou na mão de Suzana? Isso leva a excluir a possibilidade de ela ter empunhado a arma para disparar”, afirmou.
Após a apresentação aos sete jurados, o perito ainda foi questionado pelo juiz se, pela perícia que foi realizada, haveria alguma chance de suicídio, e foi enfático: “Pelos testes que nós realizamos, exames que fizemos, não!”
Acusação x Defesa
Acusação | Diz que houve duplo assassinato e que os quatro réus têm conhecimento sobre a autoria do crime |
Defesa | Diz que o crime foi passional. Suzana Marcolino teria matado PC Farias e em seguida se suicidado |
Protesto da defesa
Antes do depoimento houve polêmica, quando o advogado dos réus, José Fragoso Cavalcanti, denunciou que o promotor Marcus Mousinho teria se reunido com o perito, na manhã desta quinta-feira (9).
“Isso se mostra inadmissível, com a quebra de paridade das armas. A defesa requer que a ouvida seja interferida. O promotor negou a realização da reunião, citou que foi um encontro informal. O juiz indeferiu o pedido e manteve o depoimento.
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