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Com estados restritos, Bolsonaro tira Páscoa para criticar isolamento

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) - Ueslei Marcelino/Reuters
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

04/04/2021 17h47Atualizada em 04/04/2021 17h52

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) dedicou parte do seu feriado de Páscoa para criticar as medidas de isolamento social. Desde sexta (2), ele fez pelo menos uma postagem por dia questionando as ações de combate à pandemia e os governos estaduais.

No pior momento da pandemia no Brasil, todos os estados e o Distrito Federal passam por restrições. O isolamento social é consolidado internacionalmente como uma das principais ferramentas de combate à covid-19. Em suas redes, governadores criticaram as postagens do presidente.

Nesta manhã, Bolsonaro abriu o domingo com um vídeo de um apresentador de TV pedindo que os governadores "tomassem vergonha na cara" e o versículo bíblico — a postagem religiosa de feliz Páscoa só viria horas depois.

No vídeo, o apresentador Sikêra Junior mostra repasses que o governo federal teria feito a Pernambuco para combater a pandemia e provoca e governador Paulo Câmara (PSB). A postagem gerou críticas do pernambucano e de outros governadores.

As críticas às medidas de isolamento social e aos governadores foram uma constante no feriado do presidente.

Na sexta, quando o Brasil registrou a segunda maior média de mortes (3.006 óbitos por dia) desde o início da pandemia, o presidente foi as redes questionar o fechamento de praias e academias.

Ontem (3), ele publicou um vídeo em Itapoã (DF) dizendo que "muitos prefeitos não concordam com a política radical do fecha tudo", com mais críticas as gestões estaduais. Seus filhos se juntaram a ele: Carlos (PSC-RJ) comparou os governadores à Mulher Maravilha e Eduardo (PSL-SP) fez ataques diretos a João Doria (PSDB-SP).

Atualmente, todos os estados e o Distrito Federal estão com medidas restritivas de circulação e comércio para tentar frear a escalada dos indicadores. Alguns mais rígidos, como Alagoas, Bahia e São Paulo, com atividades fechadas ou com horários limitados e praias fechadas, outros um pouco menos, como Amazonas, que, após o colapso de janeiro, viu os números só voltarem a estabilizar no final de março.

Entre especialistas e a comunidade científica internacional, não há questionamento de que medidas de isolamento social funcionam para combater a pandemia.

Mais do que isso, segundo pesquisadores ouvidos pelo UOL, as restrições não só ajudam a segurar os números como evitam o surgimento de novas variantes - algo que, no Brasil, sem controle geral da pandemia, não tem acontecido.

Entre as postagens, Bolsonaro publicou ainda a decisão do ministro Kassio Nunes Marques, indicado por ele ao STF (Supremo Tribunal Federal), de liberar a abertura de igrejas, vetada em parte do país, como São Paulo e Belo Horizonte.

A decisão, que estimula aglomerações em locais fechados e de pouca ventilação, está sendo questionada dentro do próprio STF.

Governadores responderam

As postagens não passaram batidas entre os governadores. Paulo Câmara, citado diretamente no vídeo reproduzido por Bolsonaro, afirmou ser "difícil acreditar" que, no domingo de Páscoa, "sejamos obrigados a nos deparar com novas atitudes lamentáveis do Presidente da República".

"Em lugar de disseminar fakenews, por que não assumir suas verdadeiras atribuições e fazer parte do enfrentamento à pandemia?", publicou o pernambucano.

Outros governadores, como Flávio Dino (PCdoB-MA) e Rui Costa (PT-BA), também foram em defesa do colega. "Em pleno domingo de Páscoa, [Câmara] virou alvo do ódio e da politicagem daquele que deveria trabalhar para salvar vidas", publicou o baiano.

Já Dino disse ter lembrado de outro trecho da Bíblia, o do Apocalipse. "À besta foi dada uma boca para falar palavras arrogantes e blasfemas e lhe foi dada autoridade para agir durante quarenta e dois meses", citou o governador maranhense.

Mudança quanto à vacinação

Em contraponto às críticas contra o isolamento, o presidente também fez diversas postagens destacando o papel do Ministério da Saúde na distribuição de vacinas pelo país, sem citar que apenas cerca de 20% dessas doses tenham sido angariadas por meio de acordos encabeçados pelo governo.

Pelo contrário. O incentivo à imunização marca uma mudança radical de postura do presidente, que, no ano passado, desautorizou a compra das vacinas Pfizer e CoronaVac, e fez desestímu-los públicos ao ato, com falas polêmicas sem base científica.

Conforme o UOL Confere já mostrou, Bolsonaro negligenciou a vacinação no Brasil, dizendo, inclusive, que não se vacinaria. Com a chegada da faixa etária de 66 anos no Distrito Federal, ele já poderia se vacinar desde ontem, mas ainda não ocorreu.