Justiça para Darfur
Está feito.
O Tribunal Penal Internacional finalmente expediu seu mandato de prisão contra o presidente sudanês Omar Al-Bachir.
E esta decisão é uma grande novidade para todos aqueles que, há anos, assistem impotentes aos massacres de Darfur.
Ela confirma, com toda a autoridade da lei, e à exceção da acusação de genocídio propriamente dita, as provas circunstanciais que pesavam sobre o regime.
Ela estigmatiza, isola e, por consequência, enfraquece um Estado que não era forte senão por causa de nossa fraqueza, nossa indiferença em relação ao sofrimento que ele perpetrava e, no fundo, por nossa covardia em relação ao poder (petróleo, etc) que conferíamos a ele.
No plano interno, por fim, a decisão modifica a relação de forças em favor dos sudaneses que desaprovavam em silêncio o avanço de uma ditatura sufocante num clima de terror por meio do qual ela produzia o oxigênio necessário à sua sobrevivência - e que deverá, a partir de agora, consentir ou até mesmo ceder lugar (golpe de Estado militar?
Golpe no seio do partido majoritário? Nova ofensiva do Movimento pela Justiça e Igualdade que se rendeu, contra vontade, ao cessar-fogo?
Tudo é possível a partir de hoje, realmente tudo - à exceção da manutenção da ditadura no Estado).
Portanto, sem dúvida, a primeira reação do acusado será de apostar na ostentação do poder, intensificar suas operações sobre o terreno, ameaçar as ONGs "cúmplices" da decisão da Justiça: isso será uma guerra pela honra; o sobressalto de um animal político ferido mortalmente e que sabe seus dias estão contados; não será necessariamente pior que a lógica da guerra total da qual já fui, ao lado de outros, testemunha para este jornal - e que já transformou Darfur num campo de desolação e ruínas.
Sem dúvida aparecerão, na Europa, boas almas para escrever que não era necessário bater de frente com essa gente, que era não deveríamos tê-los pressionado em suas trincheiras porque, assim, arruinamos o que restava de esperança em relação a uma paz negociada: o argumento não tem sentido; ele é até mesmo, para os que conhecem um pouco a realidade local, francamente obsceno e odioso; porque a paz, para o senhor Al-Bachir, nunca foi nada além de uma paz de cinzas e cemitérios; nunca esteve em questão, para ele, vislumbrar qualquer tipo de paz antes que a resistência de Darfur fosse reduzida a nada; se havia uma chance de fazer a paz, uma única chance, ela passava, ao contrário, pelo apoio, ainda que tardio, aos últimos sobreviventes dos massacres.
Por fim, o argumento daqueles que veem a decisão do TPI como uma ingerência neocolonial e que acreditam que cabia aos africanos regular esse drama no continente traz tantas más lembranças que enrubescemos de termos nos demorado: não foi essa a justificativa de defesa de Goebbels, em 1938, de que "cada macaco no seu galho"?, ou dos stalinistas pedindo para o Ocidente fechar os olhos para as violações massivas dos direitos humanos, ou ainda das carnificinas que aconteceram naquela que ousávamos chamar de "zona de influência"? O que é esse raciocínio senão uma forma de revestir de uma retórica antiimperialista, terceiro-mundista, altermundista, a manutenção despudorada e cínica de uma máquina de terror implacável e sem piedade ?
Não. A decisão do TPI é, sem contestação, uma decisão acertada. Foi, para todos os que acreditam na unidade da espécie humana e que recusam o comportamento segundo o qual haveria vítimas dignas de interesse (por exemplo, os palestinos) e outras que não deveriam nos comover (não os milhares, mas os milhões de mortos sem nome das guerras esquecidas da África), a única atitude corajosa e sábia. Resta esperar que a comunidade internacional saiba levá-la a sério, mostrando-se à altura do acontecimento e notificando assim o criminoso de guerra Al-Bachir de que ele será, a partir de agora, concretamente, marginalizado pelas nações.
Tradução: Eloise De Vylder
O Tribunal Penal Internacional finalmente expediu seu mandato de prisão contra o presidente sudanês Omar Al-Bachir.
E esta decisão é uma grande novidade para todos aqueles que, há anos, assistem impotentes aos massacres de Darfur.
Ela confirma, com toda a autoridade da lei, e à exceção da acusação de genocídio propriamente dita, as provas circunstanciais que pesavam sobre o regime.
Ela estigmatiza, isola e, por consequência, enfraquece um Estado que não era forte senão por causa de nossa fraqueza, nossa indiferença em relação ao sofrimento que ele perpetrava e, no fundo, por nossa covardia em relação ao poder (petróleo, etc) que conferíamos a ele.
No plano interno, por fim, a decisão modifica a relação de forças em favor dos sudaneses que desaprovavam em silêncio o avanço de uma ditatura sufocante num clima de terror por meio do qual ela produzia o oxigênio necessário à sua sobrevivência - e que deverá, a partir de agora, consentir ou até mesmo ceder lugar (golpe de Estado militar?
Golpe no seio do partido majoritário? Nova ofensiva do Movimento pela Justiça e Igualdade que se rendeu, contra vontade, ao cessar-fogo?
Tudo é possível a partir de hoje, realmente tudo - à exceção da manutenção da ditadura no Estado).
Portanto, sem dúvida, a primeira reação do acusado será de apostar na ostentação do poder, intensificar suas operações sobre o terreno, ameaçar as ONGs "cúmplices" da decisão da Justiça: isso será uma guerra pela honra; o sobressalto de um animal político ferido mortalmente e que sabe seus dias estão contados; não será necessariamente pior que a lógica da guerra total da qual já fui, ao lado de outros, testemunha para este jornal - e que já transformou Darfur num campo de desolação e ruínas.
Sem dúvida aparecerão, na Europa, boas almas para escrever que não era necessário bater de frente com essa gente, que era não deveríamos tê-los pressionado em suas trincheiras porque, assim, arruinamos o que restava de esperança em relação a uma paz negociada: o argumento não tem sentido; ele é até mesmo, para os que conhecem um pouco a realidade local, francamente obsceno e odioso; porque a paz, para o senhor Al-Bachir, nunca foi nada além de uma paz de cinzas e cemitérios; nunca esteve em questão, para ele, vislumbrar qualquer tipo de paz antes que a resistência de Darfur fosse reduzida a nada; se havia uma chance de fazer a paz, uma única chance, ela passava, ao contrário, pelo apoio, ainda que tardio, aos últimos sobreviventes dos massacres.
Por fim, o argumento daqueles que veem a decisão do TPI como uma ingerência neocolonial e que acreditam que cabia aos africanos regular esse drama no continente traz tantas más lembranças que enrubescemos de termos nos demorado: não foi essa a justificativa de defesa de Goebbels, em 1938, de que "cada macaco no seu galho"?, ou dos stalinistas pedindo para o Ocidente fechar os olhos para as violações massivas dos direitos humanos, ou ainda das carnificinas que aconteceram naquela que ousávamos chamar de "zona de influência"? O que é esse raciocínio senão uma forma de revestir de uma retórica antiimperialista, terceiro-mundista, altermundista, a manutenção despudorada e cínica de uma máquina de terror implacável e sem piedade ?
Não. A decisão do TPI é, sem contestação, uma decisão acertada. Foi, para todos os que acreditam na unidade da espécie humana e que recusam o comportamento segundo o qual haveria vítimas dignas de interesse (por exemplo, os palestinos) e outras que não deveriam nos comover (não os milhares, mas os milhões de mortos sem nome das guerras esquecidas da África), a única atitude corajosa e sábia. Resta esperar que a comunidade internacional saiba levá-la a sério, mostrando-se à altura do acontecimento e notificando assim o criminoso de guerra Al-Bachir de que ele será, a partir de agora, concretamente, marginalizado pelas nações.
Tradução: Eloise De Vylder
Bernard-Henri Lévy
Considerado um dos principais escritores franceses da atualidade, é autor de obras como "Quem Matou Daniel Pearl?".