Apex conclui apuração interna e aponta desvios na gestão do general Cid
A Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) concluiu uma apuração interna sobre a gestão do general Mauro Lourena Cid no comando do escritório da agência em Miami e detectou uma série de desvios em sua atuação, como o afastamento das atividades do cargo e o uso da estrutura da agência para a negociação de joias e a defesa de pautas golpistas.
O trabalho da comissão se baseou nos depoimentos de 16 funcionários e ex-funcionários e na análise de documentos. As conclusões serão enviadas à Polícia Federal e ao TCU (Tribunal de Contas da União), que pode decidir abrir processo para solicitar devolução de valores caso entenda que houve desvios.
A Apex não é um órgão estatal, mas funciona como uma pessoa jurídica de direito privado abastecida com recursos do sistema S. Por isso, é auditada pelo TCU e tem que prestar contas à corte. Em 2022, o orçamento da agência foi de R$ 1,3 bilhão.
Colega de turma do ex-presidente Jair Bolsonaro durante a formação militar na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) nos anos 1970, o general foi nomeado pelo ex-presidente para chefiar o escritório da Apex em Miami em 2019, logo após ter ido para a reserva. Lourena Cid é pai do tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro e posteriormente assinou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal.
A comissão confirmou as informações reveladas pelo UOL, em abril, de que o general Mauro Lourena Cid usou a estrutura da agência para visitar o acampamento golpista no quartel-general do Exército, no final de 2022, e que manifestava aos funcionários sua convicção de que Jair Bolsonaro continuaria no poder mesmo após ter perdido as eleições. A atuação do general também é abordada no podcast do UOL Prime "Cid: A Sombra de Bolsonaro".
Os quatros episódios da série já estão disponíveis no YouTube do UOL Prime, Spotify e em outras plataformas de áudio.
Fotos das joias
O general se tornou alvo das investigações da Polícia Federal por ter participado das negociações, nos Estados Unidos, para a venda de joias desviadas da Presidência da República. Ele foi demitido da chefia da Apex de Miami em 3 de janeiro de 2023. A apuração da Apex detectou que ele usou o telefone celular corporativo da agência para produzir as fotos das joias e compartilhá-las por WhatsApp, depois de já ter sido demitido do cargo.
A comissão apontou que, no momento em que compartilhou as fotos das joias, ele estava nas dependências físicas da agência. Não foi possível saber, entretanto, se as joias foram levadas até lá.
De acordo com a apuração, Lourena Cid resistiu em devolver o aparelho celular da agência, o que só ocorreu em 7 de fevereiro. Também demorou para devolver o notebook corporativo.
A Apex concluiu que o general adotou um "comportamento desviante" em sua agenda de trabalho na agência, sem adotar medidas para a captação de investimentos ou a promoção das exportações. Também foi identificada a falta de controle sobre o trabalho dos funcionários e o desempenho do escritório.
Procurada, a defesa do general Cid não se manifestou sobre o assunto.
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