Carlos Madeiro

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Reportagem

'Tememos o anoitecer, meus filhos acordam chorando', diz intérprete em Gaza

A palestina Israa Ali atua como intérprete da organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) no norte de Gaza, onde de concentram os ataques de tropas israelenses. Ela ajuda profissionais de saúde da entidade, que tentam salvar vidas em meio ao cenário caótico do local.

Em razão da ofensiva de Israel após o ataque do Hamas no dia 7, ela foi obrigada a se deslocar pelos bombardeios contou ao UOL sua experiência ao tentar se abrigar em fuga com seus filhos: "Tememos o anoitecer", diz.

Leia o relato de Israa Ali:

"Não tenho palavras para descrever um dia na vida das pessoas em Gaza neste momento. A manhã começa, mas nós já estamos acordados. Nós nos reviramos e tentamos dormir um pouco, mas o som dos bombardeios não permite.

Ficamos acordados, ouvindo as notícias no rádio. Nesta era moderna, deveríamos ter eletricidade e acesso à Internet, mas nossos telefones estão mudos.

Corremos para ver se há combustível para ligar o gerador e então percebemos que o gerador não funciona. Vivemos numa Gaza sitiada.

A voz abafada do meu filho lentamente se transforma em um som compreensivo: 'Mãe, estou com fome, quero tomar café da manhã.

Ao preparar o café da manhã com o mínimo de mantimentos, começo a me culpar por ter filhos e por colocá-los em um mundo com condições tão terríveis e guerras frequentes - especialmente esta guerra miserável.

Quando você tem filhos, você faz o possível para protegê-los e dar-lhes tudo. As inúmeras vezes que você ouve o som forte das bombas caindo te fazem pensar um pouco. É um momento em que você deve ser uma mãe forte e manter a calma pelos seus filhos. Mas a verdade é que você realmente precisa de alguém para te acalmar.

Tememos o anoitecer. Os drones, aviões de guerra, navios de guerra, foguetes pesados e bombas israelenses se espalharam como fogo.

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Depois de tentar acalmar a mim e aos meus filhos, que muitas vezes acordam chorando, penso em meu pai, minha mãe e minha família, que estão abrigados longe, mas nas mesmas circunstâncias.

Você tenta pensar positivamente, que eles estão longe dos alvos dessas bombas, mas é em vão. Ficarei preocupada até ouvir suas vozes."

Um membro da defesa civil palestina passa por uma fenda em um prédio desabado atingido por um bombardeio enquanto procurava vítimas em Khan Yunis, na Faixa de Gaza
Um membro da defesa civil palestina passa por uma fenda em um prédio desabado atingido por um bombardeio enquanto procurava vítimas em Khan Yunis, na Faixa de Gaza Imagem: MAHMUD HAMS/AFP

MSF alerta para a situação 'catastrófica'

A organização MSF está ajudando autoridades de saúde palestinas com atendimentos, medicamentos e insumos em três hospitais de Gaza, mas tem alertada de que a situação no local é "catastrófica", com mais feridos do que a capacidade de atendimento, além de insumos insuficientes.

A maioria dos feridos em Gaza é de mulheres e crianças, pois são as pessoas que, com mais frequência, estão nas casas que acabam sendo destruídas nos bombardeios aéreos.
Ayman Al-Djaroucha, vice-coordenador do projeto MSF na cidade de Gaza

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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