Carlos Madeiro

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AL: tremores e rachões inexplicados se espalham em área vizinha a mineração

Moradores de comunidades rurais ao lado de uma área de mineração de cobre em Craíbas, no agreste de Alagoas, convivem com tremores de terra e rachaduras, que se espalham e atingem paredes e chão de imóveis. Especialistas buscam uma explicação, mas ainda não conseguiram chegar a um veredicto.

O SGB (Serviço Geológico Brasileiro) realizou um estudo, por ordem da Justiça Federal, após pedido da DPU (Defensoria Pública da União).

O órgão federal visitou 95 imóveis e a região no entorno da área onde a mineradora Vale Verde faz exploração de cobre desde 2021 —ela é apontada por moradores como causadora do problema. Muitos relatam que abandonaram suas casas.

Já a empresa diz que tem seguido todas as leis e que as atividades realizadas "seguem os controles estabelecidos no Plano de Monitoramento validado pelo IMA [Instituto do Meio Ambiente]".

O SGB encontrou situações mais graves de rachaduras em quatro sítios da cidade:

  • Lagoa do Mel
  • Torrões
  • Umbuzeiro
  • Pichilinga

As rachaduras chamaram a atenção em muitos casos pela espessura. Os técnicos sugeriram estudos sismológicos.

Este mapeamento identificou fissuras, trincas e rachaduras, localizadas em paredes e pisos. Também há registro de rachaduras que foram tapadas (...) mas que voltaram a se abrir depois de pouco tempo.
SGB, em parecer

O estudo do Serviço Geológico descartou que as rachaduras tenham sido causadas por fenômenos geológicos ou por conta de falhas na construção.

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Já a mineradora Vale Verde assegura que o estudo "não demonstra qualquer nexo de causalidade entre as operações e os supostos danos aos imóveis que teriam sido vistoriados".

Mapa de feições: pontos em vermelho indicam grau de intensidade de rachaduras alto
Mapa de feições: pontos em vermelho indicam grau de intensidade de rachaduras alto Imagem: Reprodução SGB

No mapa acima, o SGB classificou as cores de acordo com um grau de intensidade de feições, baseada nos registros de quantidade, abertura e comprimento de fissuras, trincas e rachaduras.

Dezesseis imóveis apresentaram maior intensidade de problemas.

As classificações por feições:

  • Vermelho - alto grau de intensidade de rachaduras;
  • Laranja - médio grau;
  • Amarelo - baixo grau;
  • Azul - com poucos ou sem risco.
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O que diz moradora

Para os moradores, as explosões de alta intensidade em rochas seria a causa do problema.

Minha chácara é uma das atingidas. Eu já perdi uma cisterna que tinha feito no chão. Já é a terceira vez que eu refaço, mas as rachaduras voltam com as explosões. Isso também ocorre na escola próxima, na igreja vizinha... São vários casos perto de mim.
Josefa Sandra Cena Santos, professora

Rachadura encontrada no piso de igreja na zona rural de Craíbas (AL)
Rachadura encontrada no piso de igreja na zona rural de Craíbas (AL) Imagem: Reprodução SGB

Pedido por mais estudos

Para o defensor regional de direitos humanos de Alagoas, Diego Alves, autor da ação civil pública contra a Vale Verde, o estudo serve como ponto de partida "muito relevante" para entender o que está causando as rachaduras.

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Por exclusão, sabe-se que não se trata de causas naturais nem questões vinculadas ao padrão construtivo. Com efeito, faz-se necessário ampliar os estudos técnicos.
Diego Alves, defensor regional de direitos humanos

Há previsão de estudos técnicos, no plano de trabalho firmado judicialmente na ação civil pública proposta pela DPU.

Para além do estudo do SGB, o IMA ficou responsável por firmar termo de cooperação com a UFRN [Universidade Federal do Rio Grande do Norte], mediante financiamento da mineradora Vale Verde, para realização de serviços de consultoria especializada em sismografia.
Diego Alves

Rachadura vertical no meio de parede em casa de Craíbas (AL)
Rachadura vertical no meio de parede em casa de Craíbas (AL) Imagem: Reprodução/SGB

A ideia, diz, é monitorar e determinar se as detonações estão dentro das especificações exigidas e se estão causando danos aos atingidos.

Também é importante a continuidade do trabalho de mapeamento de demandas e o monitoramento da região do entorno pelas defesas civis.
Diego Alves

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O que dizem IMA e UFRN

Procurado, o IMA informou que fez uma requisição e aguarda documentos que foram pedidos à mineradora Vale Verde para análise e encaminhamento de ações.

Já a UFRN informou que ainda não foi acionada para realizar estudo sismológico na área.

Isso é possível de ser feito. A universidade tem capacidade de fazer esse tipo de monitoramento permanente. Aparentemente, há uma queixa dos moradores em relação às detonações, mas não é possível dizer ainda se há alguma associação da detonação com a sismicidade eventual que ocorre lá.
Anderson Nascimento, do Laboratório de Sismologia da UFRN

Segundo dados do SGB divulgados em setembro de 2023, a região tem tido uma série de tremores: de janeiro a agosto do ano passado foram 24 ocorrências em 13 municípios —três desses tremores em Craíbas.

Segundo o órgão, os tremores tiveram magnitude inferior a três graus na escala Richter e por isso podem ser considerados como fenômenos geológicos normais. "Não há demanda emergencial que justifique a necessidade de realização de um estudo aprofundado", disse à época Marcos Ferreira, pesquisador em geociências do SGB.

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Planta da Vale Verde, em Craíbas (AL), onde é extraído cobre
Planta da Vale Verde, em Craíbas (AL), onde é extraído cobre Imagem: Divulgação

O que diz a mineradora

Em nota, a Mineração Vale Verde "reitera o seu compromisso com o meio ambiente e com as comunidades anfitriãs de suas operações no Agreste alagoano, bem como o respeito absoluto às regras impostas ao seu funcionamento".

Sobre o estudo do SGB, afirma que "é preciso o máximo cuidado com especulações acerca do tema", já que ele "não deixa claro o que pode estar gerando as rachaduras".

Por fim, afirma que segue à disposição das autoridades e da população para esclarecimento.

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