Carlos Madeiro

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Reportagem

PF contabiliza 9 corpos em barco no PA e confirma que vieram da África

A PF informou que oito corpos estavam no barco achado por pescadores à deriva no sábado (13), em uma área conhecida como Barra do Quatipuru, próxima à praia de Ajuruteua, em Bragança (PA). Outro corpo foi localizado próximo à embarcação, mas a PF crê se tratar do mesmo grupo, totalizando nove mortos.

Pelos documentos, os investigadores concluíram que eles eram da região da Mauritânia e do Mali, na África. Não está descartada a possibilidade de que alguns sejam de outras nacionalidades. O trabalho de identificação dos corpos começou na noite de segunda (15).

A Marinha afirmou que o barco foi encontrado sem motor, leme ou vela — ou seja, sem qualquer mecanismo de propulsão. Além disso, a embarcação parece ter sido feita de forma artesanal em fibra de vidro e não tinha sistema de controle e navegação.

Documentos e objetos encontrados junto aos corpos apontam que as vítimas eram migrantes do continente africano, da região da Mauritânia e Mali, não sendo possível descartar a existência de pessoas de outras nacionalidades.
Nota da Polícia Federal

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Imagem: Arte/UOL

Como seria possível um barco chegar ao Pará vindo da África?

Segundo especialistas em correntes marítimas ouvidos pela coluna, é possível, sim, viajar entre esses continentes em uma embarcação simples.

É viável que uma embarcação vinda da África tenha se perdido no oceano e, ao se aproximar da costa, as correntes a tenham empurrado aqui para a região norte. Ela poderia ser direcionada principalmente nesse período de março e abril, quando os ventos estão muito fortes.
Vando Gomes, coordenador do Laboratório de Hidráulica Ambiental da UFPA

Não seria inédito

Carlos Teixeira, doutor em Oceanografia e professor da UFC (Universidade Federal do Ceará), lembra que houve pelo menos um caso noticiado de embarcação que foi levada pelas correntes até o Pará. Trata-se de sobreviventes do Burgenland, navio naufragado em 1944, entre o continente africano e o Brasil — e que ficou conhecido após liberar fardos de borracha que chegaram à costa brasileira entre 2018 e 2021. Ele afundou a 1.185 km do Recife.

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Quando ele foi bombardeado pela Marinha norte-americana e afundou, as pessoas [do exército nazista] saíram em botes salva-vidas, chegaram vivas e foram presas no Pará.
Carlos Teixeira, doutor em oceanografia e professor da UFC

Navio Burgerland, afundado em 1944 pela Marinha norte-americana
Navio Burgerland, afundado em 1944 pela Marinha norte-americana Imagem: HIstorical Photographs of China/Sixtant

Mas há fatores que chamam a atenção de Teixeira.

Nesse meio caminho entre a África e o Brasil, há ondas grandes, tempestades. Ou seja, um monte de coisas que poderia fazer um barco não tripulado virar, naufragar.
Carlos Teixeira

Outro ponto que ele leva em consideração é que uma viagem pelo Atlântico entre a África e a costa norte do Brasil demoraria pelo menos 180 dias, caso não haja meios de propulsão.

Também chegou a ser levantada a hipótese de que o navio poderia ter vindo do Haiti, país na América Central que enfrenta uma grave crise de violência e econômica, com fuga de habitantes. O Haiti fica mais próximo do Pará que os países da África.

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Sobre o barco

A operação de busca e resgate do barco terminou por volta das 23h30 do domingo, quando a embarcação foi deixada no porto de Vila do Castelo, em Bragança (PA). O barco foi encontrado a cerca de 20 km dali. A operação durou cerca de 16 horas.

Barco sendo levado por outro para corpos serem periciados no Pará
Barco sendo levado por outro para corpos serem periciados no Pará Imagem: Reprodução/PF

Segundo a Marinha, o barco tinha dois acessos, um porão (onde também havia corpos) e não aparentava ter avarias no casco — o que praticamente descarta que ele tenha sofrido algum afundamento.

Em vídeo, os pescadores que encontraram a embarcação dizem que os corpos estavam nus e em estado avançado de decomposição.

O MPF (Ministério Público Federal) no Pará também abriu investigação nas áreas criminal e cível. O órgão vai avaliar se foi cometido algum crime, para eventual responsabilização penal dos autores.

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Reportagem

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