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Por apoio de Bolsonaro, Cláudio Castro governará sem desobedecer presidente
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Finalmente, o governador do Rio, Cláudio Castro (PSC), está livre das amarras da interinidade. Depois da confirmação do impeachment de Wilson Witzel, ocorrida hoje, poderá agora mostrar aos fluminenses a partir de amanhã, quando toma posse definitiva, seu verdadeiro estilo de fazer política. Uma das marcas da gestão, porém, já se sabe antecipadamente qual será: o alinhamento integral com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Os sinais de obediência ao bolsonarismo são muitos. O mais recente deles foi emitido no embate ocorrido na Assembleia Legislativa (Alerj) em torno da privatização da Cedae. Apesar de ter dito em novembro que era contra a venda da estatal de distribuição de água e saneamento, Castro mudou de opinião para se perfilar ao lado da equipe econômica do Ministério da Economia, favorável à privatização.
Em votação realizada ontem, o presidente da Alerj, André Ceciliano (PT) atrapalhou o plano e aprovou projeto que vincula a desestatização da Cedae à renovação do RRF (Regime de Recuperação Fiscal) do Rio, que ainda não foi concluído.
Castro, normalmente pacífico, foi para a guerra judicial incentivado por Bolsonaro e conseguiu manter o leilão da empresa, batendo de frente com Ceciliano.
Esse tipo de tabelinha o presidente da República imaginou ter com Wilson Witzel e por isso apoiou indiretamente a eleição dele, convencido pelo filho Flávio. Logo depois de eleito, no entanto, o "afilhado" anunciou que seria candidato à Presidência em 2022. Automaticamente, de aliado passou a rival.
Cláudio Castro quer provar que com ele será diferente e dá mostras de fidelidade. O fechamento com o presidente pode ser verificado em praticamente todas as áreas.
É esse, por exemplo, o motivo da resistência do governador em adotar medidas restritivas mais rigorosas contra a pandemia de covid-19, como pretendia o prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM). A crítica à redução de circulação de pessoas e à diminuição da atividade comercial é uma das mais frequentes pregações de Bolsonaro.
Em contraponto à rejeição ao lockdown, Castro anunciou que negociava com o Ministério da Saúde a abertura de leitos desativados nos hospitais federais, o que resultaria em 900 novas vagas para pacientes de covid-19. Dois meses depois da promessa, o reforço não chegou à metade do número planejado.
Além das semelhanças ideológicas, o alinhamento político com o Palácio do Planalto decorre também da fragilidade das contas públicas do estado. Como a coluna informou, Castro se preocupa com as negociações que visam manter a recuperação fiscal iniciada em 2017 e que evitou o bloqueio de R$ 7,4 bilhões nos cofres fluminenses. Bolsonaro é favorável e o processo está encaminhado, mas o ministro Paulo Guedes a todo momento cria obstáculos.
Por isso, faz de tudo para não desagradar o líder. Tanto assim que o Rio foi um dos únicos estados que, mesmo com enormes dificuldades financeiras, pagou de setembro até semana passada R$ 1,2 bilhão de serviço da dívida à União, enquanto outros governadores sustaram o pagamento por liminar. Somente há poucos dias o governo fluminense conseguiu o mesmo.
"Ele não peita o governo federal, não exige benefícios para o Rio", critica um deputado fluminense, sob condição de anonimato, referindo-se a Castro. "A parceria com o presidente não traz benefícios".
A fragilidade do governador recém-efetivado, que o faz dependente de Bolsonaro, não pode ser medida apenas em números.
Assim como Witzel, Castro também está na mira do Ministério Público do Rio. Um depoimento feito no âmbito da Operação Catarata, que investiga desvios em contratos de assistência social no governo do estado e Prefeitura da capital, denunciou pagamento de propinas a ele - que não é investigado por questões de foro.
Castro negou que tenha praticado qualquer ilegalidade e, em outubro, entrou com queixa-crime contra o delator Bruno Selém, autor da acusação.
Além disso, o atual governador é citado em outra delação, esta feita à Procuradoria-Geral da República, em Brasília, e homologada pelo ministro Marco Aurélio no fim do ano passado, como informou Juliana Dal Piva, em sua coluna no UOL. O delator é o empresário Marcus Vinícius Azevedo da Silva, ex-assessor de Castro, preso em 2019 na primeira fase da Operação Catarata e atualmente em liberdade. O conteúdo da delação é sigiloso.
O receio de ter o mesmo fim de Witzel, que saiu do noticiário político para tornar-se alvo de operações policiais, é outro forte motivo para Castro manter-se próximo de Bolsonaro. O que se comenta nos bastidores do Palácio Guanabara é que a influência do presidente sobre o procurador-geral da República, Augusto Aras, poderia evitar surpresas desagradáveis, como a busca e apreensão feita no Palácio Laranjeiras, residência oficial que abrigava Witzel.
Apesar de tantas limitações políticas e da falta de dinheiro em caixa, Cláudio Castro sonha em se candidatar a governador nas próximas eleições. Alguns apoiadores, no entanto, torcem para que ele mude de ideia e anuncie que não pretende concorrer.
O objetivo é evitar que incorra no erro capital que fragilizou desde o início a trajetória de Witzel, que ao divulgar a intenção de concorrer à Presidência da República perdeu o apoio dos bolsonaristas e ganhou inimigos que contribuíram decisivamente para arrancá-lo do cargo.
No fim do ano passado, Castro chegou a se insinuar como possível candidato de consenso da centro-direita a governador em 2022. A subordinação total às diretrizes ditadas por Bolsonaro inviabilizou a parceria com centristas e direitistas menos radicais.
A retomada do sonho depende agora de que o presidente o escolha como seu candidato ao governo do Rio.
Apesar do recente embate, o presidente da Alerj, André Ceciliano, espera que o novo ocupante efetivo do Palácio Guanabara tenha sucesso. "Ele tem tudo para fazer um excelente governo, a arrecadação está boa", disse Ceciliano à coluna. "Mas tem que ter pulso e cabeça".
Entre a decisão de hoje e a próxima campanha, a população espera que Castro se dedique a superar os graves problemas do estado. Para quem sofreu tanto com as gestões de Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão e Wilson Witzel, não é pedir muito.
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