Bolsonaro age como se mortes por covid-19 o beneficiassem politicamente
Desde o início da pandemia do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro apostou na ideia de que o medo que o brasileiros teriam do desemprego e do empobrecimento lhe traria mais dividendos políticos do que o temor de se contaminarem e morrerem por covid-19. O aumento na aprovação popular de seu governo, revelada pela nova pesquisa Datafolha, comprova que sua aposta eleitoreira foi acertada.
A estratégia de Bolsonaro foi a de empurrar para governadores e prefeitos o ônus da pandemia e assumir para si o bônus das curas milagrosas para a doença e para a pobreza.
Na lógica tortuosa do presidente, a insistência de governadores e prefeitos em impor medidas preventivas de isolamento social não apenas causou desemprego e falência de empresas, como agravou a pandemia.
A culpa pelos 100.000 mortos por covid-19, insinuou Bolsonaro esta semana, é dos Estados, dos municípios e da imprensa, não do governo federal. O ônus da pandemia não lhe diz respeito.
A verdade, porém, é que o total de mortos teria sido ainda maior, não fossem as restrições adotadas à revelia da vontade do governo federal. Mas, como já estava claro desde o começo, o mérito pelas vidas salvas seria muito mais difícil de mensurar.
A cada comentário fatalista e indiferente sobre as vítimas da pandemia ("e daí", "quer que faça o quê?", "não sou coveiro", "toca a vida", etc), Bolsonaro age como quem tem convicção de que as mortes o favorecem politicamente, pois devem ser debitadas na conta de seus adversários.
Quando o governo decide pegar o dinheiro que havia sido reservado para os gastos de estados e municípios no combate à pandemia e destiná-lo ao financiamento de obras de infraestrutura, por sua vez, Bolsonaro vai além do discurso e opta por uma política deliberada de privar os pacientes com covid-19 de tratamento adequado — priorizando, em seu lugar, a "cura" desenvolvimentista para a crise econômica.
Bolsonaro e seus assessores estão focados em colher os louros pelo bônus das curas milagrosas. De um lado, o presidente promove o uso de um remédio, a hidroxicloroquina, que, a despeito de não ser eficaz contra covid-19, cumpre o papel de dar (falsas) esperanças e de arrefecer o medo da população em relação à doença. De outro, apresenta-se como o benfeitor dos pobres, o distribuidor do auxílio emergencial, que não apenas serviu de colchão social nos últimos meses, como aumentou em 24% a renda daqueles que o receberam.
Agora que essa estratégia provou-se capaz de levar a popularidade do governo Bolsonaro ao seu nível mais alto, preparem-se para mais do mesmo: mais indiferença em relação à pandemia, mais uso demagógico e eleitoreiro dos programas de distribuição de renda e de obras públicas.
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