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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Brasil evita denunciar Putin no Conselho de Segurança e pede diálogo

O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, e o presidente Jair Bolsonaro - Alan Santos/PR
O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, e o presidente Jair Bolsonaro Imagem: Alan Santos/PR

Colunista do UOL

22/09/2022 16h01

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Num discurso feito ao Conselho de Segurança da ONU, nesta quinta-feira, o governo brasileiro evitou condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia, pelas suspeitas de crimes e pelas ameaças proferidas nos últimos dias sobre um possível uso de armas nucleares por parte de Vladimir Putin.

Falando aos demais ministros do principal órgão de segurança da ONU, o chanceler Carlos França insistiu que o objetivo do Brasil é o de criar condições para que o diálogo possa ser estabelecido entre as partes em conflito.

O encontro ocorreu num dos momentos de maior tensão desde o início do conflito, com o Kremlin insinuando que poderia usar todas suas armas para se defender, ampliando a mobilização para 300 mil homens e ainda apoiando a anexação de quatro regiões da Ucrânia. Durante a reunião, americanos, franceses e britânicos não pouparam críticas contra Putin.

Já o Brasil optou por sequer citar o nome da Rússia em seu discurso. "A guerra afeta a todos, até em regiões longe das hostilidades. O Conselho de Segurança é o local apropriado para buscar solução com paz duradoura", disse. Durante o encontro, chamou a atenção a decisão de Sergey Lavrov, chefe da diplomacia russa, de abandonar a sala depois de dar sua mensagem, não aguardando pelos discursos dos demais países.

O governo brasileiro, porém, optou por um tom diferente daquele que europeus e americanos estabeleceram, de denunciar a invasão russa e da "irresponsável" menção do Kremlin de um eventual uso de armas táticas.

Durante seu discurso em Nova York, em nenhum momento o chanceler brasileiro mencionou que a Ucrânia foi invadida pela Rússia e não tocou no tema das ameaças nucleares proferidas por Putin.

Não houve uma referência aos russos nem mesmo ao falar de casos de suspeitas de crimes, já denunciados inclusive por órgãos da ONU. Segundo ele, nos últimos sete meses, o Conselho recebeu informes de violações de direitos humanos, incluindo contra mulheres, crianças e populações mais vulneráveis. Mas, uma vez mais, não mencionou o fato de que vários desses informes acusavam explicitamente as forças russas por atos criminosos.

França apenas indicou que o Brasil "condena os abusos e defende investigações independentes dos fatos" para que "os responsáveis" sejam levados à Justiça por suas ações. Uma vez mais, nenhuma menção explícita aos russos.

O ministro esteve nesta semana com o chanceler russo Sergey Lavrov. Diante do Conselho de Segurança, apenas pediu "respeito pelo direito humanitário internacional por todas as partes".

Segundo ele, não é o momento de aprofundar divisões. "Temos uma tarefa urgente diante de todos nós. Engajar as partes em diálogo para assegurar um cessar-fogo imediato e o início de negociações para um acordo de paz", defendeu.

"A continuação das hostilidades ameaça as vidas de civis inocentes e afeta a segurança alimentar e de energia de milhões de famílias em outras regiões, em especial nos países em desenvolvimento", afirmou.

"Os riscos de uma escalada gerada pela dinâmica atual do conflito são grandes demais e suas consequências para ordem mundial Imprevisíveis", alertou.

Segundo ele, só a diplomacia garante uma paz viável. "Não é tempo de acentuar divisão ou isolar partes", defendeu, repetindo um mantra do governo brasileiro de ser contrário às manobras por parte de governos europeus de bloquear a Rússia de organismos internacionais.

"A prioridade é de criar condições para negociar para uma solução pacífica", completou.