Ataque contra hospital em Gaza incendeia região e abala frágil diplomacia
O ataque contra o hospital Al-Ahly Arab, em Gaza, abriu uma nova fase na crise no Oriente Médio, com protestos a se espalhar por várias capitais da região, pressão sobre governos, abalo nos frágeis canais de diálogos e até o cancelamento de uma cúpula prevista para quarta-feira, na Jordânia.
A explosão que deixou mais de 500 pessoas mortas no hospital foi condenada pela ONU, OMS, Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Se o governo de Israel acusou grupos islâmicos pelo atentado, os embaixadores dos países árabes na ONU se uniram para fazer uma declaração conjunta e responsabilizando Israel pelas mortes.
No gabinete do secretário-geral da ONU, António Guterres, o temor é que o incidente conduza a região a um ponto de tensão inédito e que o conflito se espalhe.
O impacto da explosão também foi sentido nas ruas das principais cidades do mundo árabe, cobrando os respectivos governos a agir contra Israel. Em Ramallah, protestos foram direcionados contra Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina e altamente impopular. A polícia foi obrigada a reprimir o movimento.
Horas depois, Abbas anunciou o cancelamento de uma cúpula em Amã ao lado do presidente americano Joe Biden, justificando que ele precisava estar "ao lado de seu povo".
O pronunciamento, porém, também serviu para que ele pedisse "calma" à população. "Isso vai beneficiar apenas os inimigos da causa palestina", disse, numa mensagem aos manifestantes que se enfrentavam com a polícia em Ramallah. "Esse é um momento perigoso. Precisamos de unidade", disse Abbas.
Em Beirute, protestos organizados pelo Hezbollah foram registrados contra a embaixada dos EUA e da França.
Gás lacrimogêneo foi disparado contra os manifestantes perto da embaixada americana no Líbano. Mas, para o Hezbollah, o "ataque (contra o hospital) revela a verdadeira face criminosa dessa entidade e de seu patrocinador, os Estados Unidos, que têm responsabilidade direta e total por esse massacre".
Na Tunísia, centenas de manifestantes tomaram as ruas próximas à embaixada da França para se manifestar.
Jordânia e Turquia também presenciaram protestos. Em Istambul, houve uma tentativa de invasão do consultado israelense e a polícia teve de intervir.
No Irã, uma marcha com centenas de pessoas começou na Praça Palestina, em Teerã, e se direcionou até as portas da embaixada da França e do Reino Unido.
Para observadores, as ruas revelam o mal-estar que existe de parte da população desses países em relação a governos que, nos últimos anos, se aproximaram de Israel.
Colapso de canais de diálogo
Outro impacto da explosão no hospital foi o colapso do processo diplomático para a busca de uma solução negociada para a crise, ou pelo menos para permitir que a população civil em Gaza receba ajuda humanitária.
Imediatamente após a morte de mais de 500 pessoas, a cúpula que estava sendo organizada na Jordânia entre EUA, autoridades palestinas e Egito foi cancelada.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receber"Não podemos ter uma cúpula nessa situação", disse Riyad Manssur, embaixador palestino na ONU. "Só teria sentido se fosse para implementar um cessar-fogo", alertou.
Há ainda o temor na ONU de que o acirramento de posições impeça qualquer negociação para a criação de um corredor humanitário e que, mesmo no Conselho de Segurança da ONU, o palco seja transformado em uma troca de acusações. O órgão se reúne nesta quarta-feira e deve votar um projeto de resolução do Brasil para criar uma "pausa humanitária".
"O Conselho de Segurança precisa condenar esse crime", defendeu o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, acusou Israel pela crise.
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