Jamil Chade

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Reportagem

ONU denuncia Israel e Hamas e cobra responsabilização de autores de crimes

Com 4.200 mortos, mais de 1 milhão de pessoas deslocadas, impasse na ajuda humanitária e parte de Gaza transformada em escombros, a ONU eleva o tom de críticas contra os responsáveis pelo conflito no Oriente Médio.

Nesta terça-feira, a entidade denunciou as autoridades de Israel por terem promovido uma evacuação forçada de milhares de palestinos na Faixa de Gaza, por ataques indiscriminados contra a população e alerta que violações ao direito humanitário internacional estão ocorrendo "diariamente". A entidade também condenou os atos do Hamas em Israel e pediu que os responsáveis das mortes e sequestros de israelenses sejam identificados e responsabilizados.

Numa entrevista coletiva nesta manhã, em Genebra, a porta-voz da ONU para Direitos Humanos, Ravina Shamdasani, deixou claro que o argumento de Israel de que o cerco contra Gaza e os ataques contra civis seriam respostas aos crimes do Hamas não torna os atos justificados.

A violação de um lado não absolve o outro lado
Ravina Shamdasani

Palestinos em meio aos escombros após ataque de Israel à Deir Al-Balah, na região central da Faixa de Gaza
Palestinos em meio aos escombros após ataque de Israel à Deir Al-Balah, na região central da Faixa de Gaza Imagem: 15.out.2023-Mohammed Faeq/AFP

Segundo ela, cumprir as regras da guerra é uma obrigação a todo momento", disse Ravina.

Para a porta-voz, os crimes do Hamas precisam ser condenados. Mas a resposta por parte de Israel precisa ser examinada. A ONU pede investigações e a responsabilização criminosa dos responsáveis.

Não se pode ter um punição coletiva como resposta aos ataques horríveis [do Hamas]
Ravina Shamdasani

Ela fez um apelo para que Israel abandone sua estratégia de aplicar uma "punição coletiva" sobre os palestinos.

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Temos sérios temores quanto ao número de civis nos próximos dias. As operações militares não mostram sinais de diminuição, o cerco contínuo a Gaza está afetando o abastecimento de água, alimentos, medicamentos e outras necessidades básicas, e há indícios diários de violações das leis de guerra e da lei internacional de direitos humanos.
Porta-voz da ONU para Direitos Humanos, Ravina Shamdasani

Segundo ela, o número de mortos inclui um "grande número de mulheres e crianças, além de pelo menos 11 jornalistas palestinos, 28 equipes médicas e 14 funcionários da ONU". "Ainda não se sabe quantos corpos mais podem estar enterrados nos escombros", disse.

Outra acusação por parte da ONU se refere aos ataques aéreos de Israel contra Gaza. Segundo Ravina, o número de mortes entre palestinos levanta a preocupação de que os ataques sejam "desproporcionais e indiscriminados".

"Pedimos às forças israelenses que evitem alvejar civis e objetos civis ou realizar bombardeios de área, ataques indiscriminados ou desproporcionais, e que tomem precauções para evitar e, em qualquer caso, minimizar a perda de vidas civis, ferimentos em civis e danos a objetos civis", disse a porta-voz.

Crianças palestinas em meio a escombros após ataque de Israel a campo de refugiados em Rafah, no sul da Faixa de Gaza
Crianças palestinas em meio a escombros após ataque de Israel a campo de refugiados em Rafah, no sul da Faixa de Gaza Imagem: 15.out.2023-Said Khatib/AFP

Evacuação forçada é crime

A ONU ainda denunciou o fato de que, ao forçar uma evacuação dos palestinos, cabia aos israelenses oferecer abrigo para todos eles. E isso, segundo Ravina, não ocorreu. Uma vez mais, tais atos seriam considerados como violações.

Para a ONU, os palestinos que conseguiram cumprir a ordem de evacuação das autoridades israelenses estão agora "presos no sul da Faixa de Gaza, com poucos abrigos, suprimentos de alimentos que se esgotam rapidamente, pouco ou nenhum acesso a água potável, saneamento, medicamentos e outras necessidades básicas".

"Até o momento, cerca de 400 mil deslocados internos estão abrigados em vários locais, vários deles em prédios da UNRWA. A lei internacional exige que qualquer evacuação temporária legal por parte de Israel, como potência ocupante, de uma área com base na segurança da população ou em razões militares imperativas, deve ser acompanhada pelo fornecimento de acomodação adequada para todos os evacuados, realizada em condições satisfatórias de higiene, saúde, segurança e nutrição", disse .

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"Parece que Israel não tentou garantir isso para os 1,1 milhão de civis que receberam a ordem de se mudar. Estamos preocupados com o fato de que essa ordem, combinada com a imposição de um "cerco completo" a Gaza, pode não ser considerada uma evacuação temporária legal e, portanto, equivaleria a uma transferência forçada de civis - em violação à lei internacional", denunciou Ravina.

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Imagem: Arte/UOL

Hospitais em Gaza tem combustível para 24 horas

Outro alerta por parte da ONU se refere ao abastecimento de água e combustíveis para hospitais em Gaza. De acordo com o Escritório da ONU para a Coordenação Humanitária, a situação é considerada como crítica e, nos centros de saúde, o combustível é suficiente para apenas 24 horas.

Eis as principais conclusões da agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA) sobre a situação nas últimas horas:

Os pesados bombardeios das forças israelenses, por ar, mar e terra, continuaram.

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As forças aéreas israelenses continuaram a atacar também em Khan Yunis e em outras áreas do sul, apesar da diretriz para que a população de Gaza se desloque para o sul.?

A água continua sendo uma questão fundamental, pois as pessoas começarão a morrer sem água.

As preocupações com a desidratação e as doenças transmitidas pela água são grandes, devido ao colapso dos serviços de água e saneamento, incluindo o fechamento da última usina de dessalinização de água do mar em funcionamento em Gaza.

Uma linha de água foi aberta hoje por três horas apenas no sul da Faixa de Gaza, fornecendo água limitada a apenas metade da população de Khan Yunis (cerca de 100 mil pessoas). Isso não resolve as necessidades urgentes de água em outras partes de Khan Yunis, na Área Central e em Rafah. Apenas 14% da população da Faixa se beneficiou dessa abertura de três horas da linha de água.

Em Gaza, são necessários 600 mil litros de combustível por dia para operar as usinas de água e dessalinização. A UNRWA transferiu (em 16 de outubro) alguns de seus suprimentos de combustível existentes - mas muito limitados - que já tinha dentro de Gaza.

Espera-se que as reservas de combustível em todos os hospitais de Gaza durem apenas mais 24 horas. O desligamento dos geradores de reserva colocaria em sério risco a vida de milhares de pacientes.

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Em nove dias de conflito, de acordo com o Ministério da Saúde da Palestina, 2.670 palestinos foram mortos em Gaza (uma média de 267 por dia, ou 11 a cada hora) e 9.600 ficaram feridos.

Em Israel, 1.300 pessoas foram mortas e pelo menos 4.121 ficaram feridas, de acordo com diferentes fontes.

14 membros da equipe da UNRWA foram mortos desde 7 de outubro.

24 relatos confirmados de instalações da UNRWA em toda a Faixa de Gaza afetadas em decorrência de ataques aéreos e bombardeios.

É provável que a UNRWA fique sem medicamentos em suas clínicas de saúde no próximo mês. Em algumas clínicas, é provável que os suprimentos acabem antes, devido a dificuldades no transporte de suprimentos de um local para outro.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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