Jamil Chade

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EUA e Israel esnobam cúpula de paz no Cairo, enquanto Gaza é bombardeada

Enquanto alguns dos principais líderes mundiais e chanceleres se reúnem neste sábado numa imponente sala no Cairo, os governos de Israel e dos EUA esnobam a cúpula da paz, organizada pelo Egito. Se a reunião conta com presidentes, monarcas e ministros de vários países, Tel Aviv não enviou ninguém e o governo americano apenas destacou uma diplomata sem qualquer influência.

Apesar dos apelos por um cessar-fogo durante a conferência, Gaza continuava sendo alvo de bombardeamentos e os informes circulados pela ONU denunciavam contínuas violações.

O foco dos principais países árabes foi o de rejeitar qualquer tentativa de Israel de deslocar a população palestina para um novo território, eventualmente no Egito. O temor da região é de que um dos objetivos de Tel Aviv seja a de forçar a saída dos palestinos.

Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, insistiu que não aceita que seu povo seja expulso de Gaza. "Nunca vamos aceitar uma transferência. Nunca vamos deixar nosso território", disse, apelando por um corredor humanitário e o fim do conflito.

Ele ainda defendeu que o Conselho de Segurança da ONU atue para "proteger os palestinos" e para que seu governo possa ganhar status de membro pleno nas Nações Unidas.

O príncipe herdeiro do Kuwait, Meshal al Ahmad al Sabah, também reforçou o coro de que não haverá uma aceitação qualquer plano de deslocar os palestinos para fora de Gaza.

Ao abrir o evento, o presidente do Egito, Abdul Fatah Al-Sissi apresentou o que acredita que ser um plano para lidar com a crise, envolvendo um cessar-fogo, a entrega de ajuda humanitária e o início de uma efetiva negociação entre palestinos e israelenses.

Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, também pediu um cessar-fogo e alertou para o risco de que ambas as partes comecem a receber armas de potências. "O conflito pode sair do controle", disse. O encontro ainda contou com Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, os chefes de governo da Itália, Espanha e Grécia, além chanceleres da França, Reino Unido, Turquia, Reino Unido e Alemanha. A Rússia enviou seu vice-ministro de Relações Exteriores.

O Egito havia convidado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o evento. Mas, recuperando-se de uma operação, ele ordenou que seu chanceler, Mauro Vieira, representasse o país.

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Sub da Sub da Sub

Mas, no caso americano, a opção foi por destacar apenas a embaixadora alterna que ocupa a representação dos EUA no Cairo, Beth Jones. Hoje, os americanos não contam com um embaixador pleno no Egito e Jones é apenas uma chargé d'affair. Na hierarquia diplomática, trata-se de um sinal de que o governo americano não vê o encontro como prioritário.

Ao redor da mesa, porém, os discursos alertavam sobre o risco de um colapso da região. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, alertou que a região está "a um passo do precipício". Em seu discurso, ele destacou que a ajuda humanitária permitida a entrar em Gaza neste sábado está longe de ser ideal.

"Ontem fui ao posto de fronteira de Rafah", disse. "Lá, vi um paradoxo: uma catástrofe humanitária acontecendo em tempo real. Por um lado, vi centenas de caminhões repletos de alimentos e outros suprimentos essenciais. Por outro lado, sabemos que, do outro lado da fronteira, há dois milhões de pessoas sem água, comida, combustível, eletricidade e medicamentos", afirmou.

"Caminhões cheios de um lado, estômagos vazios do outro", lamentou.

Ele destacou como im comboio de 20 caminhões está se deslocando hoje. "Mas o povo de Gaza precisa de um compromisso muito, muito maior - uma entrega contínua de ajuda a Gaza na escala necessária", disse.

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Guterres, porém, deixou claro que tanto Israel como Hamas precisam terminar com a onda de violência.

"Vamos ser claros. As queixas do povo palestino são legítimas e longas. Não podemos e não devemos ignorar o contexto mais amplo desses eventos trágicos: o conflito de longa data e 56 anos de ocupação sem fim à vista", disse.

"Mas nada pode justificar o ataque repreensível do Hamas que aterrorizou os civis israelenses. E esses ataques abomináveis jamais poderão justificar a punição coletiva do povo palestino", disse..

Guterres pediu que partes atuem para "proteger os civis e não atacar hospitais, escolas e instalações da ONU que atualmente abrigam meio milhão de pessoas".

O chefe da diplomacia da ONU também apresentou o que acredita ser um plano para a região.

Ajuda humanitária imediata, irrestrita e sustentável para os civis sitiados em Gaza.

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Liberação imediata e incondicional de todos os reféns.

E esforços imediatos e dedicados para evitar a disseminação da violência, que está aumentando o risco de transbordamento.


"Para avançar em todos esses esforços, apelo para um cessar-fogo humanitário agora", defendeu. No médio prato, porém, a única "verdadeira paz e estabilidade" é uma solução de dois Estados.

"Os israelenses precisam ver materializadas suas necessidades legítimas de segurança, e os palestinos precisam ver concretizadas suas aspirações legítimas por um Estado independente, de acordo com as resoluções das Nações Unidas, o direito internacional e os acordos anteriores", disse.

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