Jamil Chade

Jamil Chade

Siga nas redes
Reportagem

Ao Financial Times, Marina Silva defende teto de produção de petróleo

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, defendeu o estabelecimento de um teto para a exploração de petróleo, semanas depois de o Brasil anunciar que fará parte como membro associado da Opep+, o grupo de países aliados à Organização dos Países Exportadores de Petróleo.

Em entrevista publicada nesta terça-feira no jornal Financial Times, Marina Silva apontou para a necessidade de que esse debate possa ocorrer.

"Uma questão que terá de ser enfrentada é a questão dos limites, um teto para a exploração de petróleo. É um debate que não é fácil, mas que os países produtores de petróleo terão de enfrentar", disse Marina Silva.

"O Brasil é um produtor de petróleo. Esse é um debate que terá que ser feito, mesmo no contexto de guerras. Estamos comprometidos com a meta de triplicar a energia renovável. Mas tudo isso não pode ser feito se não discutirmos a questão dos limites à exploração", completou.

Segundo o jornal, seus comentários "refletem uma tensão nos esforços do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para jogar em ambos os lados do debate sobre o clima - aprimorando as credenciais ambientais do Brasil na proteção da ecologia crucial da Amazônia e, ao mesmo tempo, apoiando a exploração de petróleo por seus benefícios econômicos".

O diário lembra que o Ministério da Energia estabeleceu a meta de aumentar a produção de 3 milhões de barris por dia no ano passado para 5,4 milhões até o final da década.

A reportagem ainda destaca como a missão de Marina "enfrenta obstáculos até mesmo dentro da administração de esquerda, principalmente por parte do Ministério da Energia e da Petrobras, controlada pelo Estado, que esperam aproveitar os novos campos gigantes em alto-mar para aumentar a produção de petróleo".

No momento do anúncio da adesão à Opep+, às vésperas da Conferência da ONU sobre o Clima, sua pasta e demais grupos dentro do governo demonstraram profunda irritação com o comportamento de Alexandre Silveira, ministro da energia do Brasil.

Durante a COP28, no início do mês, a decisão do Brasil de aderir à Opep+ como membro associado garantiu ao governo o prêmio Fóssil do Dia.

Continua após a publicidade

O país foi escolhido como o vencedor do antiprêmio, destinado a denunciar aqueles governos que prejudicam o meio ambiente ou que tomam decisões políticas e diplomáticas contrárias aos objetivos da conferência internacional.

Em 2021, o governo de Jair Bolsonaro já havia recebido o "prêmio", designando a delegação na Conferência de Glasgow como a que mais prejudicava o clima.

Agora, o Brasil do governo de Luiz Inácio Lula da Silva foi designado, segundo os organizadores, por ter decidido aderir ao cartel do petróleo, no mesmo momento em que tenta convencer ao mundo que quer ser líder nas questões ambientais. A entrada do governo se refere ao grupo de países associados à Opep e não se refere ao bloco que, de fato, toma decisões.

Mesmo assim, o gesto foi criticado por entidades como Greenpeace e WWF. A adesão ainda deixou membros do Itamaraty e do Ministério de Meio Ambiente irritados com a postura do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira e responsável pelo lobby pela adesão do Brasil. O prêmio é dado pela Climate Action Network (CAN), uma rede de 1,3 mil ONGs de todo o mundo e que está presente em 120 países.

"Brasil, Opep+ não é como se soletra liderança climática", disse o grupo da sociedade civil.

Silveira já havia indicado sua recusa em aceitar o consenso científico em relação à necessidade de cortar investimentos em energia fóssil. A ONU vem insistindo que, sem esse corte, as metas de impedir que a temperatura do planeta supere a marca de 1,5ºC não será atingida. O IPCC, Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, também aponta na mesma direção.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes