Jamil Chade

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Reportagem

Sauditas vão às compras no Brasil em busca de soja e milho

Investidores sauditas desembarcam na semana que vem no Brasil em busca de milho e soja. Uma delegação do país vai prospectar a compra de ações de empresas nacionais ou a possibilidade de ser parceiros no setor de grãos. Sem poder adquirir terras por conta da legislação nacional, os sauditas querem alianças com produtores nacionais, na esperança de garantir sua segurança alimentar nas próximas décadas.

A delegação é organizada pela SALIC, o braço agrícola do Fundo Soberano Saudita, o maior do mundo, com recursos avaliados em US$ 776 bilhões e controlado pelo príncipe Mohamed Bin Salman.

Riad indicou que quer aplicar US$ 20 bilhões na produção de alimentos até 2035. Parte desses recursos será investido no exterior. Um mapa de 35 países foi criado para servir de guia para o destino do dinheiro saudita. No final do ano passado, os sauditas já compraram 9,2% das ações de uma das maiores empresas de arroz da Índia. Eles ainda adquiriram, em dezembro, ações no valor de US$ 1,2 bilhão para participar da trading de commodities de Cingapura, a Olam.

Brasil é estratégico para segurança alimentar saudita

No caso brasileiro, a ofensiva saudita começou pela proteína. Riad pagou US$ 400 milhões para ficar com 34% da Minerva Foods e, em 2023, destinou US$ 340 milhões na compra de uma participação acionária na BRF.

Agora, a meta é o setor de grão e, em seguida, o segmento do açúcar.

Para fontes do setor comercial, o Brasil é considerado como estratégico para o objetivo do regime saudita de garantir a segurança alimentar de uma população que cresce de forma importante e que, a cada ano, amplia sua renda.

Dados oficiais do governo saudita apontam que o país importou US$ 18 bilhões em alimentos em 2021 e, de cada 10 dólares, um é destinado ao Brasil. O país se transformou no maior fornecedor de alimentos do mercado saudita.

No caso do milho, as exportações brasileiras em 2023 foram de US$ 359 milhões, um aumento de 15% no volume em comparação a 2022. Na soja, foram mais US$ 400 milhões.

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Os dois segmentos são considerados como centrais para a meta dos sauditas de serem auto-suficientes na produção de frangos e outros alimentos.

Relação desintoxicada

Nos primeiros meses do governo de Jair Bolsonaro, as autoridades de Brasília anunciaram com pompas a intenção dos sauditas de investir US$ 10 bilhões no Brasil em dez anos. Mas a equipe bolsonarista apresentou propostas que não atendiam aos interesses sauditas. Os brasileiros insistiam em atrair investimentos para a área de infraestrutura, o que não era prioridade de Riad.

Mais recentemente, o escândalo das joias sauditas ao ex-presidente também contaminou a relação. O atual governo, portanto, buscou "desintoxicar" o diálogo e deixar claro aos sauditas que a situação das joias não estava no radar.

Em 2023, a reaproximação foi consolidada com uma visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nesta semana, falando em um evento entre empresários brasileiros e sauditas organizado pela empresa LIDE, em Riad, o presidente da Câmara de Comércio Brasil Países Árabes, Omar Chohfi, apontou que a relação entre o Brasil e Arábia Saudita é "estratégica".

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João Sampaio, diretor de Relações Internacionais da Minerva Foods, explicou que, em 2023, os sauditas importaram 50 mil toneladas de carnes, cerca de US$ 500 milhões. Mas, neste mesmo período, importaram US$ 1 bilhão em ingredientes. Segundo ele, os sauditas tem o plano de ser auto-suficientes na produção de frango. Mas, para isso, terão de continuar a importar insumos.

Também falando no mesmo evento, o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, destacou o papel da segurança alimentar na estabilização social e politica. "Sem comida, cai governo", disse.

Ao apresentar os número da agricultura nacional aos sauditas, o ex-ministro destacou como, em 32 anos, a área plantada no país dobrou. Mas a produção aumentou em 418%. O motivo: tecnologia.

O coroamento da "desintoxicação" deve ocorrer no meado do ano, quando o Ministério dos Investimentos da Arábia Saudita planeja abrir um escritório no Brasil e realizar no país seu principal evento comercial e de investimentos no país.

*O repórter viajou a convite da LIDE.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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