Jamil Chade

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Reportagem

Potências racham sobre Oriente Médio; Israel promete resposta 'dolorosa'

Israel anuncia que vai responder aos ataques do Irã e alertou que a ação será "decisiva e dolorosa". Instantes antes do Conselho de Segurança da ONU se reunir em Nova York, Danny Danon, embaixador de Israel, mandou um alerta internacional.

O encontro, porém, mostrou a profunda divisão existente entre as potências sobre o destino do Oriente Médio.

O governo dos EUA pediu que o órgão internacional adote novas sanções contra as autoridades iranianas e alertou Teerã de que não irá tolerar uma ação contra seus interesses na região. Já China e Rússia optaram por denunciar Israel e o papel dos EUA no conflito.

"Israel não vai ficar parado. Israel vai responder. E será decisivo e doloroso", disse Danon. Ele garante, porém, que a resposta respeitará o direito humanitário, numa indicação que não pretendem fazer uma ofensiva em locais civis. "Estamos feridos. Mas não somos fracos", disse.

Danon destacou como os ataques do Irã mostraram que se trata de um "estado terrorista". "A máscara caiu", disse. "Após ataques contra 10 milhões de civis, o Irã teve audácia de mandar uma carta ao Conselho de Segurança dizendo que agiram respeitando o direito humanitário e que atingiram instalações militares", afirmou.

A carta ainda aponta que qualquer resposta de Israel seria "ilegal". "Ninguém entende a audácia de um regime que lança 181 foguetes", disse. "Essa é uma perversão da realidade", afirmou. Para ele, ao dizer que os ataques eram uma resposta às mortes dos líderes do Hamas e Hezbollah, os iranianos assumem responsabilidade sobre anos de terror implementado pelas milícias. "A verdade está clara: é o governo orquestrando terror", disse.

Israel e Irã trocam acusações e ameaças na ONU

A sala do Conselho de Segurança da ONU, nesta quarta-feira (2), foi testemunha de uma troca de acusações entre o governo do Irã e de Israel, um dia depois de Teerã lançar 181 mísseis. Os dois países ainda fizeram ameaças e indicaram que estão prontos a continuar o conflito.

"Estamos sob ataque", afirmou Danny Danon, embaixador de Israel. "Não se trata apenas de mais um ato de escalada militar. Trata-se de um ataque contra nossa existência, e o mundo assiste em silêncio", denunciou.

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Danon afirmou que a ofensiva foi "o maior ataque" já recebido por Israel desde sua criação e comparou os atos aos bombardeios nazistas em Londres, na Segunda Guerra Mundial.

Nada no discurso do israelense indicou o fim de um conflito ou da aposta na vida militar. "Israel vai se defender. As consequências vão ser muito maiores que poderiam imaginar. O que vocês fariam se fossem atacados? Vamos responder com força", disse o diplomata, aos demais países no Conselho.

Segundo ele, "o tempo de complacência acabou". "São agressores e o mundo não pode mais ignorar isso", disse.

Danon pediu sanções contra os iranianos e que a Guarda Revolucionária, em Teerã, seja classificada como uma "organização terrorista". "Que o mundo entenda, Israel vai se defender", disse.

Instantes depois, foi a vez do embaixador do Irã na ONU, Amir Iravani, tomar a palavra. E, da mesma forma, ameaçar Tel Aviv. O diplomata deixou claro que qualquer nova ação contra o Irã será respondida. "Poderemos tomar medidas extras de defesa. Não iremos hesitar", prometeu.

"O regime (Israel) está levando a região para uma catástrofe sem precedentes", disse. Para ele, o Conselho de Segurança não pode ficar em silêncio e denuncia crimes de guerra por parte de Benjamin Netanyahu.

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O iraniano ainda acusou os EUA de serem "cúmplices de um regime terrorista" e de fornecer as bombas que estão matando no Oriente Médio, além de vetar qualquer ação do Conselho de Segurança. "Israel não quer paz", disse.

O embaixador iraniano apresentou uma lista de todos os ataques realizados por Israel na região e contra líderes do Hezbollah e do Hamas. "Nossa ação foi dentro do princípio de autodefesa e resposta aos atos de agressão. Foi uma necessidade e proporcional para retomar o equilíbrio de poder", disse.

"Israel precisa entender que suas ações têm custos. Nós não tivemos opção contra um Estado terrorista", disse.

Já o governo do Líbano afirmou, no Conselho, que o Oriente Médio "está queimando por todos os lados". "Estamos sofrendo uma invasão, depois de uma ação bárbara em Gaza", disse a delegação libanesa por meio de seu representante, Hadi Hachem. "Israel viola todos os princípios internacionais", afirmou.

Para ele, apenas a presença de tropas internacionais da ONU na fronteira pode ser uma solução para a ameaça israelense. Beirute concordou com um cessar-fogo proposto por americanos e franceses. "Mas Israel rejeitou", disse.

"O Conselho de Segurança precisa evitar uma implosão do Oriente Médio. Estamos caminhando para uma guerra geral. Só a diplomacia pode solucionar", disse.

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EUA defendem novas sanções contra Irã

No Conselho de Segurança, o governo dos EUA denunciou o regime iraniano e disse que, diante da coordenação militar em Washington e Tel Aviv, os ataques "fracassaram".

Linda Thomas Greenfield, embaixadora dos EUA, qualificou a ofensiva iraniana de "não provocada", contradizendo a justificativa de Teerã, que diz que agiu como revanche às mortes dos líderes do Hezbollah e Hamas.

Para ela, os iranianos agem para "semear terror" e pediu que o Conselho de Segurança atue para "condenar" os atos.

"O Conselho de Segurança tem a responsabilidade de colocar mais sanções contra o Irã", disse. "Se não fizer nada, que mensagem mandará? Temo que isso promova novos ataques", alertou.

Para o governo Biden, o Irã precisa ser responsabilizado pelas ações e alertou as autoridades de Teerã que a Casa Branca não irá tolerar qualquer ataque contra seus interesses.

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Rússia, China e Árabes querem ação do Conselho contra Israel e denunciam EUA

Uma visão radicalmente diferente foi proposta por russos e delegações árabes, que insistem que apenas um cessar-fogo no Líbano e em Gaza podem impedir uma guerra maior.

Para o embaixador argelino, Amar Bendjama, foi a paralisia da ONU que deu "carta branca" para que Israel avança em suas operações. "O que precisamos é acabar a ocupação de terras árabes, no Líbano ou na Palestina, por Israel", disse o diplomata, pedindo que resoluções aprovadas nos últimos anos contra Tel Aviv sejam cumpridas.

Já o governo de Rússia usou o encontro para acusar os EUA e Israel. O embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya, alertou que o Oriente Médio está "deslizando a uma guerra generalizada". "Mas Conselho da Segurança só assiste, sem fazer nada", disse.

"No lugar de usar a diplomacia, Israel opta por força. E seus cúmplices americanos estão em suas mãos, paralisando Conselho de Segurança", disse o embaixador. Para ele, é o veto americano que tem impedido uma ação contra Israel. "A chama desse conflito aumenta cada vez mais", disse.

Para ele, é do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a responsabilidade pela escalada militar e elogiou o comportamento dos iranianos ao longo de meses, ao evitar uma retaliação.

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"Esse conflito pode ganhar o mundo, num cenário inimaginável", afirmou.

Nebenzya ainda chamou o gesto de Israel contra Guterres como "inédito". "Essa é um tapa na ONU e em todo nós", disse. "Pedimos que os governos reajam contra esse ato absurdo", afirmou o representante do Kremlin.

O governo da China denunciou a violação da soberania de Líbano e acusou Israel de ser responsável por ampliação da guerra. "Essa situação pode sair completamente de controle", afirmou o embaixador chinês Fu Cong. "Pedimos que todos, em especial Israel, a mostrar moderação", disse.

Para Cong, o Conselho de Segurança precisa agir "de forma urgente" para que um cessar-fogo seja acordado em Gaza e que haja uma desescalada da crise. "O ciclo de violência precisa ser freado", defendeu.

A China ainda pediu uma atitude "mais responsável" por parte dos EUA para que se evite um "caos maior".

ONU diz que região vive "inferno"

Num discurso diante do Conselho de Segurança, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que o Oriente Médio virou "um inferno". Ele condenou o Irã por seus ataques. Segundo ele, os mísseis "não ajudam a causa palestina".

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"Os eventos mostram que é hora de um cessar-fogo, liberar reféns em Gaza e a criação de dois estados", disse.

Mas ele insistiu em denunciar as ações de Israel, Hamas e Hezbollah, além de acusar Israel de roubo de terras e de estar agindo para impossibilitar a criação de um estado palestino.

Chamando a situação de uma "escalada doente", o chefe da ONU alertou que a região está "à beira do abismo". "Cada escalada é justificativa para próxima", disse. "O ciclo mortal precisa parar e o tempo está e esgotando", disse, lembrando que são os civis que estão pagando o preço.

Guterres revelou ainda que Israel pediu que as tropas de paz da ONU na fronteira entre Israel e Líbano fossem deslocadas. Mas ele recusou. "A bandeira da ONU continua a tremular", disse.

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