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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Maior justiceiro da zona sul paulistana passou o 27º Natal atrás das grades

Joans Félix da Silva é acusado de matar 50 pessoas - Divulgação/Pixabay
Joans Félix da Silva é acusado de matar 50 pessoas Imagem: Divulgação/Pixabay

Colunista do UOL

01/01/2023 04h00

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Condenado até 18 de setembro de 2189, Joans Félix da Silva, 69, o Jonas, apontado pela Polícia Civil de São Paulo como o maior justiceiro da zona sul da cidade e preso ininterruptamente desde 13 de março de 1996, passou o 27º Natal consecutivo atrás das grades.

Segundo o Poder Judiciário, o término das penas de Jonas está previsto para 12 de março de 2026, quando ele completará 30 anos de cadeia, período máximo de prisão no Brasil. A condenação total dele é de 194 anos, sete meses e 20 dias pelos crimes de homicídios.

Já a defesa de Jonas diz que os 30 anos de pena máxima dele venceram em 28 de agosto de 2022, porque ele sempre trabalhou e ainda trabalha na prisão e deveria ter homologado pela Justiça o desconto de 890 dias de sua condenação.

A LEP (Lei de Execução Penal) prevê que para cada três dias trabalhados, um dia é descontado na pena do preso. Segundo a defesa de Jonas, tanto o juízo de 1ª instância quanto o de 2ª instância não reconheceram os dias de remição da pena do presidiário.

A defesa de Jonas afirma que ele já poderia estar em liberdade e acrescenta que entrou com recurso no STJ (Superior Tribunal de Justiça), pois entende que cada dia dele a mais na prisão está sendo uma tortura.

O caso ainda não foi julgado. O presidiário está recolhido na Penitenciária de Presidente Bernardes, no oeste do estado, é idoso e enfrenta problemas de saúde.

Jonas foi preso pela primeira vez em 9 de novembro de 1992. Segundo a SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária), em 25 de janeiro de 1994 ele fugiu do antigo COC (Centro de Observação Criminológica), no Carandiru, zona norte de São Paulo, com outros nove presos.

Em 13 de março de 1996, Jonas foi capturado por policiais do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) em uma casa no Jardim Jacira, zona sul. No período em que permaneceu foragido, ele cometeu mais três assassinatos e admitiu a autoria dos crimes.

O justiceiro foi acusado de matar ao menos 50 pessoas. À Polícia Civil, o prisioneiro confessou 34 mortes. Ele contou que começou a cometer os homicídios em 1986, quando a casa onde morava com a mulher e os três filhos foi invadida por ladrões e a esposa dele acabou abusada por um dos assaltantes.

Em depoimentos, Jonas afirmou que só matou bandidos e que sempre agiu sozinho. Além de vários duplos homicídios, ele foi acusado de ser o autor de uma chacina que deixou cinco mortos. Ele alegou que o bando havia invadido uma festa e matado o dono da casa a machadadas.

Fundador do PCC

Depois que a casa de Jonas foi assaltada, a família decidiu se mudar para o bairro do Campo Limpo, também na zona sul. A mulher dele, no entanto, não suportou a violência na região e resolveu ir embora com os filhos do casal.

O preso arrumou outra mulher. O nome dela é Aurinete Carlos Félix da Silva, conhecida como Netinha. O irmão dela, Lauro Gomes Gabriel, o Ceará, era amigo de Jonas. Ambos fugiram juntos do COC em janeiro de 1994.

Anos depois, Netinha deixou Jonas e passou a se relacionar com César Augusto Roriz Silva, o Cesinha, um dos oito fundadores do PCC (Primeiro Comando da Capital), criado em 31 de agosto de 1993 na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, no Vale do Paraíba.

Ceará foi acusado de matar a advogada Ana Maria Olivatto, em outubro de 2002, em Guarulhos, na Grande São Paulo. Ela era ex-mulher de Marco Willians Herbas Camacho, 54, o Marcola. A morte dela gerou uma das maiores guerras internas no PCC.

Faccionados ligados a Marcola vingaram a morte de Ana e mataram Ceará com oito tiros em 4 de novembro de 2002, como mostrou esta coluna em 22 de dezembro de 2021.

De acordo com a Polícia Civil, foi nessa época que Marcola assumiu a liderança do PCC. Já Cesinha foi assassinado em agosto de 2006 na Penitenciária 1 de Avaré (SP).